segunda-feira, 12 de maio de 2014

Calcanhotto faz 'Olhos de onda' escapar da sina de soar como 'Público 2'

Resenha de CD e DVD
Título: Olhos de onda
Artista: Adriana Calcanhotto
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2

Como nada parece ser casual na discografia de Adriana Calcanhotto, é sintomático que a tipologia escolhida para a arte da capa do CD e DVD Olhos de onda remeta à fonte usada para estampar o título Público no CD ao vivo de 2000. As conexões parecem óbvias entre os registros dos dois shows, ambos calcados na voz e no violão (tocado sem virtuosismos) da cantora e compositora gaúcha. Ainda que a foto de Leo Aversa exposta na capa de Olhos de onda flagre Calcanhotto de pé no palco da casa Vivo Rio, provavelmente na volta para o bis, o recital acomoda a cantora no estilo um banquinho & um violão. Como Público. Só que a atual gravação ao vivo - feita em 1º de fevereiro de 2014, como a artista ressalta logo após cantar Inverno (Adriana Calcanhotto e Antonio Cícero, 1994) - mostra Calcanhotto na onda cool que pauta sua discografia pós-Cantada (2001). O mergulho é mais profundo em mar de canções que já parecem outras pelo simples fato de que Calcanhotto já é outra. O que impede Olhos de onda de soar como mero segundo volume de Público. Só que a maré não tem estado para peixe no mercado fonográfico brasileiro. E, sob a ótica empresarial da gravadora Sony Music, Olhos de onda é tentativa de fisgar consumidores ainda dispostos a ouvir os hits colecionados por Calcanhotto nos anos 1990 - melodiosas canções radiofônicas como Esquadros (Adriana Calcanhotto, 1992), Metade (Adriana Calcanhotto, 1994) e Vambora (Adriana Calcanhotto, 1998). Nesse sentido, causa estranheza incômoda o fato de a cantora não ter emplacado um grande hit autoral a partir dos anos 2000. Situação que vai permanecer inalterada pela falta de potencial comercial das três inéditas - E sendo amor (Adriana Calcanhotto), Motivos reais banais (Adriana Calcanhotto sobre poema de Waly Salomão) e Olhos de onda (Adriana Calcanhotto), canção impregnada da atmosfera de Lisboa cujo título alude aos Olhos de ressaca da Capitu saída da imaginação do escritor brasileiro Machado de Assis (1839 - 1908) - alinhadas entre as 20 músicas do CD e DVD. Escaldada, a gravadora aposta suas fichas na (terceira) abordagem de Me dê motivo (Michael Sullivan & Paulo Massadas, 1983), canção propagada por Tim Maia (1942 - 1998) que traz embutida profunda dor de corno, diluída por Calcanhotto no seu tom cool em gravação que vai ser difundida na trilha sonora da nova novela G3R4Ç4O BR4S1L (TV Globo, 2014)Ainda fora de seu trilho autoral, Calcanhotto dá voz a Back to black (Amy Winehouse e Mark Ronson, 2006) - obra-prima da cantora inglesa Amy Winehouse (1983 - 2011) - em registro desossado que pode impactar somente quem não conhece a aguda versão voz-e-piano perpetuada pela cantora paulista Cida Moreira no CD A dama indigna (Joia Moderna, 2011). Recital de molde tradicional, idealizado sem a requintada arquitetura cênica que envolveu shows anteriores da artista, Olhos de onda sofre uma única (sagaz) interferência cênica quando os ruídos e chiados de um rádio - manipulado por contra-regra - sujam Maldito rádio (Adriana Calcanhotto, 2012), canção que tinha potencial comercial inexplorado, embora tenha sido incluída em novela da TV Globo (Cheias de charme, 2012). Atenta ao tom do show, a diretora do vídeo, Dora Jobim, ressalta com closes o clima íntimo no qual Olhos de onda se ambienta, num mergulho nas águas (já) densas de Adriana Calcanhotto.

9 comentários:

  1. Como nada parece ser casual na discografia de Adriana Calcanhotto, é sintomático que a tipologia escolhida para a arte da capa do CD e DVD Olhos de onda remeta à fonte usada para estampar o título Público no CD ao vivo de 2000. As conexões parecem óbvias entre os registros dos dois shows, ambos calcados na voz e no violão (tocado sem virtuosismos) da cantora e compositora gaúcha. Ainda que a foto de Leo Aversa exposta na capa de Olhos de onda flagre Calcanhotto de pé no palco da casa Vivo Rio, provavelmente na abertura do show ou na volta para o bis, o recital é feito no estilo um banquinho & um violão. Como Público. Só que a atual gravação ao vivo - feita em 1º de fevereiro de 2014, como a artista ressalta após cantar Inverno (Adriana Calcanhotto e Antonio Cícero, 1994) - mostra Calcanhotto na onda cool que pauta sua discografia pós-Cantada (2001). O mergulho é mais profundo em mar de canções que já parecem outras pelo simples fato de que Calcanhotto já é outra. O que impede Olhos de onda de soar como mero segundo volume de Público. Só que a maré não tem estado para peixe no mercado fonográfico brasileiro. E, sob a ótica empresarial da gravadora Sony Music, Olhos de onda é tentativa de fisgar consumidores ainda dispostos a ouvir os hits colecionados por Calcanhotto nos anos 1990 - melodiosas canções radiofônicas como Esquadros (Adriana Calcanhotto, 1992), Metade (Adriana Calcanhotto, 1994) e Vambora (Adriana Calcanhotto, 1998). Nesse sentido, causa estranheza incômoda o fato de a cantora não ter emplacado um grande hit autoral a partir dos anos 2000. Situação que vai permanecer inalterada pela falta de potencial comercial das três inéditas - E sendo amor (Adriana Calcanhotto), Motivos reais banais (Adriana Calcanhotto sobre poema de Waly Salomão) e Olhos de onda (Adriana Calcanhotto), canção impregnada da atmosfera de Lisboa cujo título alude aos Olhos de ressaca da Capitu saída da imaginação do escritor brasileiro Machado de Assis (1839 - 1908) - alinhadas entre as 20 músicas do CD e DVD. Escaldada, a gravadora aposta suas fichas na (terceira) abordagem de Me dê motivo (Michael Sullivan & Paulo Massadas, 1983), canção propagada por Tim Maia (1942 - 1998) que traz embutida dor de corno expiada por Calcanhotto no seu tom cool em gravação que vai ser difundida na trilha sonora da nova novela G3R4Ç4O BR4S1L (TV Globo, 2014). Ainda fora de seu trilho autoral, Calcanhotto dá voz a Back to black (Amy Winehouse e Mark Ronson, 2006) - obra-prima da cantora inglesa Amy Winehouse (1983 - 2011) - em registro desossado que pode impactar somente quem não conhece a aguda versão voz-e-piano perpetuada pela cantora paulista Cida Moreira no CD A dama indigna (Joia Moderna, 2011). Recital de molde tradicional, sem a requintada arquitetura cênica que envolveu shows anteriores da artista, Olhos de onda sofre uma única interferência cênica quando ruídos e chiados de um rádio - manipulado por contra-regra - sujam Maldito rádio (Adriana Calcanhotto, 2012), canção que tinha potencial comercial inexplorado, embora tenha sido incluída em novela da TV Globo (Cheias de charme, 2012). Atenta ao clima do show, a diretora do vídeo, Dora Jobim, acerta ao explorar o clima íntimo no qual Olhos de onda se ambienta, mergulhando nas águas já densas de Adriana Calcanhotto.

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  2. Eu ainda não consegui escutar o CD todo mas achei que a voz dela está oscilante, tremida demais. Back to Black ficou ruim. Esse show foi no Vivo Rio, porém poderia ter sido gravado numa churrascaria que seria igual.

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  3. eu comprei o DVD ....soa mesmo como uma coletânea. Gosto mais de Adriana em show com mais músicos, como o show MARÈ que deveria ter saido em DVD, pois era inteiro lindo. A voz está um pouco tremida concordo com o colega ai de cima, parece quando a gente ta tímido e tem de cantar e dai fica meio oscilando, depois vai melhorando. Mas o que me incomodou no DVD é que quase o tempo todo em CLOSE DO ROSTO ....nossa como irrita, eu sou daqueles que gosta de ver um DVD como se eu estivesse no show, ver o artista completo, sentada com o violão, os livros no chão, ver o palco, a luz ....toda hora só a cara dela, a boca e os olhos, confesso que me cansou.

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  4. Mauro,
    a tipologia da arte da capa é a mesma desde Marítimo, que é anterior ao Público e vem sendo usada desde então.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Pedro, não sou design, mas não acho que a tipologia usada na capa de 'Maré' seja igual, por exemplo. Abs, MauroF

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  7. Quero ver/ouvir o trabalho ainda, não tive oportunidade. Mauro, quanto ao que o Pedro falou, o tipo de fonte da capa é bem semelhante a vários outros discos dela, o nome dela na capa do Maré, foi utilizada no primeiro Partimpim, no Cantada, no DVD Partimpim, no próprio site dela já foi muito utilizada, é bem marcante isso na parte gráfica em várias fases da carreira dela.(e falo como alguém que a acompanha pouco mas já percebeu isso) E é um tipo de grafia bem parecida com a utilizada em arquitetura também.

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  8. na verdade, essa é a letra da própria Adriana que foi tipografada para ser utilizada em seus trabalhos. num momento do dvd Púlico quando ela está escrevendo à mão da pra perceber.


    http://mlb-s1-p.mlstatic.com/adriana-calcanhotto-3-cds-lacrados-maritimo-cantada-mare-8478-MLB20004590218_112013-O.jpg

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