Com orgulho indisfarçável, Jair Rodrigues (6 de fevereiro de 1939 - 8 de maio de 2014) se gabava de ter dado sua voz esfuziante ao primeiro rap brasileiro. Pioneirismo a que o cantor paulista se atribuía por ter gravado em 1964 - com sucesso - uma música, Deixa isso pra lá (Edson Menezes e Alberto Paz), que continha partes faladas. Mas Jair Rodrigues foi cantor maior do que esse pequeno detalhe de discografia iniciada em 1962 com a gravação de um disco de 78 rotações por minuto com duas músicas candidatas à trilha sonora da Copa do Mundo daquele ano. Jair Rodrigues foi um cantor versátil, grande como a alegria que parece ter pautado sua vida, encerrada na manhã de hoje, em Cotia (SP), aos 75 anos. A saída de cena do cantor talvez propicie a reavaliação e o redimensionamento de carreira que alcançou auge artístico nos anos 1960 e que garantiu visibilidade para o artista ao longo da década de 70. Jair logo alcançou o topo. Em 1965, um ano após ter lançado seus dois primeiros álbuns, Vou de samba com você (Philips, 1964) e O samba como ele é (Philips, 1964), o novato cantor já dividia palcos e discos com ninguém menos do que Elis Regina (1945 - 1982), uma então também novata cantora gaúcha que naquele ano de 1965 se tornara ídolo e sensação instantânea da MPB nascida na era dos festivais. Era que projetou Elis e que rendeu a Jair um dos maiores sucessos de seus 52 anos de carreira fonográfica, Disparada (Geraldo Vandré e Theo de Barros, 1966). Música (bem) defendida pelo cantor no II Festival da Música Popular Brasileira, Disparada evoca um mundo rural que seria adotado por Jair nos anos 1980 em adesão à música sertaneja que lhe garantiu boa sobrevida no mercado fonográfico brasileiro nessa década em que o cantor também gravou discos de caráter seresteiro, respeitando as leis da indústria. Na fase sertaneja, foi Jair quem lançou com fenomenal sucesso nacional - no LP Jair Rodrigues (Copacabana, 1985), em gravação feita com a paranaense dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó - a canção A majestade o sabiá, música que revelou sua compositora Roberta Miranda. Contudo, se existe um gênero musical que defina Jair e sua alegria, esse gênero é o samba, presente não por acaso nos títulos de seus dois primeiros álbuns e também no nome do álbum duplo, Samba mesmo (Som Livre, 2014), que se tornou o derradeiro título da discografia desse cantor nascido na interiorana cidade paulista de Igarapava. Aliás, foi no interior paulista que, como crooner, Jair deu em 1957 os primeiros passos na caminhada que, em 1960, desembocaria na capital de São Paulo, na cidade que daria fama ao cantor ainda na primeira metade daquela década de grande efervescência cultural. No começo dos anos 1970, com a era dos festivais já em agonia, o cantor vestiu novamente a pele de sambista em álbuns como Festa para um rei negro (1971) e Orgulho de um sambista (Phonogram, 1973). Artista que parecia já ter nascido com o dom de cantar, Jair caía no suingue com desenvoltura que logo lhe deu o merecido status de grande cantor da música brasileira. Em tempos áureos, Jair Rodrigues - visto em foto de 2013 tirada por seu filho Jair Oliveira durante as sessões de gravação do álbum Samba mesmo - foi o fino da bossa. Compositor bissexto, o cantor tinha orgulho de ser sambista e de ter cantado o primeiro rap brasileiro, mas sua obra, embora dominada pela cadência bonita do samba, extrapola rótulos e gêneros. É obra grande como o cantor que hoje sai de cena, com a missão cumprida. Que o céu faça festa para esse rei negro!
Com orgulho indisfarçável, Jair Rodrigues (6 de fevereiro de 1939 - 8 de maio de 2014) se gabava de ter dado sua voz esfuziante ao primeiro rap brasileiro. Pioneirismo a que o cantor paulista se atribuía por ter gravado em 1964 - com sucesso - uma música, Deixa isso pra lá (Edson Menezes e Alberto Paz), que continha partes faladas. Mas Jair Rodrigues foi cantor maior do que esse pequeno detalhe de discografia iniciada em 1962 com a gravação de um disco de 78 rotações por minuto com duas músicas candidatas à trilha sonora da Copa do Mundo daquele ano. Jair Rodrigues foi um cantor versátil, grande como a alegria que parece ter pautado sua vida, encerrada na manhã de hoje, em Cotia (SP), aos 75 anos. A saída de cena do cantor talvez propicie a reavaliação e o redimensionamento de carreira que alcançou auge artístico nos anos 1960 e que garantiu visibilidade para o artista ao longo da década de 70. Jair logo alcançou o topo. Em 1965, um ano após ter lançado seus dois primeiros álbuns, Vou de samba com você (Philips, 1964) e O samba como ele é (Philips, 1964), o novato cantor já dividia palcos e discos com ninguém menos do que Elis Regina (1945 - 1982), uma então também novata cantora gaúcha que naquele ano de 1965 se tornara a sensação instantânea da MPB nascida na era dos festivais. Era que projetou Elis e que rendeu a Jair um dos maiores sucessos de seus 52 anos de carreira fonográfica, Disparada (Geraldo Vandré e Theo de Barros, 1966). Música defendida por Jair no II Festival da Música Popular Brasileira, Disparada evoca um mundo rural que seria adotado por Jair nos anos 1980 em adesão à música sertaneja que lhe garantiu boa sobrevida no mercado fonográfico brasileiro nessa década em que o cantor também gravou discos de caráter seresteiro, respeitando as leis da indústria. Contudo, se existe um gênero musical que defina Jair e sua alegria, esse gênero é o samba, presente não por acaso nos títulos de seus dois primeiros álbuns e também no nome do álbum duplo, Samba mesmo (Som Livre, 2014), que se tornou o derradeiro título da discografia desse cantor nascido na interiorana cidade paulista de Igarapava. Aliás, foi no interior paulista que, como crooner, Jair deu em 1957 os primeiros passos na caminhada que, em 1960, desembocaria na capital de São Paulo, na cidade que daria fama ao cantor ainda na primeira metade daquela década de grande efervescência cultural. No começo dos anos 1970, com a era dos festivais já em agonia, o cantor vestiu novamente a pele de sambista em álbuns como Festa para um rei negro (1971) e Orgulho de um sambista (Phonogram, 1973). Artista que parecia já ter nascido com o dom de cantar, Jair caía no suingue com desenvoltura que logo lhe deu o merecido status de grande cantor da música brasileira. Em tempos áureos, Jair Rodrigues - visto em foto de 2013 tirada por seu filho Jair Oliveira durante as sessões de gravação do álbum Samba mesmo - foi o fino da bossa. Compositor bissexto, o cantor tinha orgulho de ser sambista e de ter cantado o primeiro rap brasileiro, mas sua obra, embora dominada pela cadência bonita do samba, extrapola rótulos e gêneros. É obra grande como o cantor que hoje sai de cena, com a missão cumprida. Que o céu faça festa para esse rei negro!
ResponderExcluirtriste! muito triste!
ResponderExcluirA música popular brasileira fica mais pobre hoje. Que pena este triste fato. Que descanse em paz, pois deixou seu belo legado para a música.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCom muito pesar recebamos a noticia da partida do Jair Rodrigues. Sem dúvida a nossa MPB ficará mais pobre.
ResponderExcluirUm dos melhores cantores brasileiros de todos os tempos.
ResponderExcluirSem ter tido o reconhecimento à altura do seu imenso talento, em vida.
Um dia muito triste para a música brasileira e para o país.
abração,
Denilson
Descanse em paz e meus sentimentos à família. Faltou o Mauro escrever que ele foi o primeiro a gravar Casa de Bamba do até então desconhecido Martinho da Vila. Sem contar que foi o padrinho da Dona Alcione Nazaré nas gravadoras. Foi por intermédio de Jair que a mesma teve seu primeiro disco gravado.
ResponderExcluirMarcelo, Jair gravou 'Casa de bamba' no mesmo ano em que Martinho. De toda forma, Martinho já tinha sido revelado no festival de 1968 em que defendeu seu partido alto 'Menina moça'. Abs, grato pelo comentário, Mauro Ferreira
ResponderExcluirSim, meu caro crítico. Mas deu aquela moral. Até então o Martinho estava engatinhando na carreira. Abs
ResponderExcluirMelhor seria dizer "ainda pouco conhecido Martinho da Vila". E quem procurar uma entrevista de Elis Regina ao Pasquim em 1969 verá que ela e Jair tinham opiniões bem distintas com relação ao sambista de Duas Barras.
ResponderExcluirDescanse em paz, Cachorrão!
Mais uma grande perda pra música brasileira. Cada vez nossa música vai ficando mais pobre. Vá em paz Jair!
ResponderExcluirEm 1969, ano em que Martinho e Jair gravaram "Casa de bamba", Martinho da Vila já não era mais um "desconhecido". Além de ter concorrido ao III Festival da Record com "Menina moça" e participado com 04 músicas do lp "Nem todo croioulo é doido", em 1967, ele teve sua música " Novo amor" gravada por Clara Nunes em 1968 no lp "Você passar eu acho graça"!
ResponderExcluirNessa entrevista ao Pasquim,a Elis elogia Deus e o Diabo,exceto o Martinho da Vila.Quanto ao recém-falecido,sua interpretação de "Disparada" e os duetos com a Elis entraram pra história,quanto ao resto...
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