Título: O grande circo místico
Texto: Newton Moreno e Alessandro Toller
Direção: João Fonseca
Direção musical: Ernani Maletta
Músicas: Edu Lobo e Chico Buarque
Elenco: Fernando Eiras, Letícia Colin, Gabriel Stauffer, Isabel Lobo, Ana Baird, Reiner
Tenente e Paula Flaiban, entre outros
Foto: Leo Aversa
Cotação: * * * * 1/2
Musical em cartaz no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), até 27 de julho de 2014
Obra-prima do cancioneiro teatral de Edu Lobo e Chico Buarque, a trilha sonora do espetáculo O grande circo místico - criada sob a luz da inspiração pelos compositores cariocas em 1982, sob encomenda para o balé estreado pelo Teatro Guaíra em 1983 - já ganhou as vozes mais expressivas do Brasil. Vozes como as de Gal Costa, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Simone, Tim Maia (1942 - 1998) e Zizi Possi - para citar somente os intérpretes escalados para a gravação da trilha sonora original, lançada em LP ainda naquele ano de 1983. De imediato, nenhuma música tocou no rádio e galgou as paradas fonográficas, mas muitas - A história de Lily Braun, Beatriz, Ciranda da bailarina, Na carreira, O circo místico, Sobre todas as coisas - foram ficando conhecidas de forma progressiva e se tornaram standards dos autores ao longo desses 30 anos pela grandeza de sua arquitetura melódica e poética. Irretocável, a perene e deslumbrante trilha sonora de Edu Lobo e Chico Buarque pontua, sustenta e sublinha nuances do texto da remontagem de O grande circo místico, recém-estreada no Rio de Janeiro (RJ) em temporada que vai até 27 de julho de 2014. Nenhuma interpretação dada a essas canções pelo elenco do musical roça a maestria dos melhores registros anteriores - com exceção da abordagem do Salmo por Ana Baird, atriz (de presença marcante no espetáculo na pele da Mulher Barbada) que parece introjetar na voz e na alma toda a dor contida nesse belíssimo tema composto por Edu e Chico para o musical O corsário do rei (1985) e incorporado ao roteiro musical deste renovado Circo armado sob a direção de João Fonseca. Mesmo assim, o canto eficaz dessas músicas inebriantes pelo elenco contribui para a grandeza do musical que, embora parta do mesmo poema (O grande circo místico, escrito pelo alagoano Jorge de Lima e publicado em livro de 1938), tem texto totalmente distinto da dramaturgia criada por Naum Alves de Souza para o balé de 1983. Texto que que contribui decisivamente para o êxito da encenação. Ao ambientar em cenário de guerra o amor romântico do casal Frederico (Gabriel Stauffer) e Beatriz (papel desempenhado com brilho pela substituta eventual de Letícia Colin, Luciana Pandolfo, na apresentação vista por Notas Musicais), os dramaturgos Newton Moreno e Alessandro Toller criaram um texto de alta carga teatral que propicia ao diretor João Fonseca armar um circo onírico que, em essência, faz a elegia da Arte em contraponto às misérias humanas amplificadas pelo vale-tudo de uma guerra. O texto prega a Arte - no caso, a arte circense, personificada por malabaristas, palhaços e pelo empresário vivido por Fernando Eiras - como o antídoto que alivia o Homem das dores e horrores mundanos. Nessa elegia, comovente, reside a beleza de musical sustentado por elenco que, mesmo homogêneo, expõe brilhos individuais como o de Reiner Tenente, iluminado no papel do Clown. Entre números circenses e um enredo de lances folhetinescos que inclui separação de bebês gêmeos no nascimento, entre outras maldades arquitetadas por uma vilã (Charlote, bem desenhada por Isabel Lobo) disposta a tudo pelo amor do galã, salta aos olhos a beleza do cenário de Nélio Marrese e aos ouvidos a maestria das canções de Edu e Chico, reiterada a cada número musical. Provavelmente ciente de que seria arriscado inventar moda com canções já perfeitas em sua essência, o diretor musical Ernani Maletta trata a trilha sonora com a devida reverência sem deixar de pôr seu toque pessoal em algumas músicas - caso do arranjo vocal que dá outra pulsação para a Ciranda da bailarina, número de interpretação coletiva. A opção de inserir no roteiro musical outros temas feitos pelos compositores para a cena - caso da sublime Valsa brasileira, criada para o balé Dança da meia-lua (1988) e reouvida no atual Circo místico nas vozes do casal protagonista - resultou acertada pelo ajuste dessas músicas à trama. Orquestrado com maestria por João Fonseca, o musical jamais perde a coesão em suas três horas de duração. Imperdível, O grande circo místico volta à cena de forma magistral, honrando a trilha sonora de Edu Lobo e Chico Buarque, cuja inspiração sinaliza que a história de Lily Braun, Beatriz e cia. ainda vai ganhar muitas vozes e adaptações.
7 comentários:
Obra-prima do cancioneiro teatral de Edu Lobo e Chico Buarque, a trilha sonora do espetáculo O grande circo místico - criada sob a luz da inspiração pelos compositores cariocas em 1982, sob encomenda para o balé estreado pelo Teatro Guaíra em 1983 - já ganhou as vozes mais expressivas do Brasil. Vozes como as de Gal Costa, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Simone, Tim Maia (1942 - 1998) e Zizi Possi - para citar somente os intérpretes escalados para a gravação da trilha sonora original, lançada em LP ainda naquele ano de 1983. De imediato, nenhuma música tocou no rádio e galgou as paradas fonográficas, mas muitas - A história de Lily Braun, Beatriz, Ciranda da bailarina, Na carreira, O circo místico, Sobre todas as coisas - foram ficando conhecidas de forma progressiva e se tornaram standards dos autores ao longo dos anos pela grandeza de sua arquitetura melódica e poética. Irretocável, a perene e deslumbrante trilha sonora de Edu Lobo e Chico Buarque pontua, sustenta e sublinha nuances do texto da remontagem de O grande circo místico, recém-estreada no Rio de Janeiro (RJ) em temporada que vai até 27 de julho de 2014. Nenhuma interpretação dada a essas canções pelo elenco do musical roça a maestria dos melhores registros anteriores - com exceção da abordagem do Salmo por Ana Baird, atriz (de presença marcante no espetáculo na pele da Mulher Barbada) que parece introjetar na voz e na alma toda a dor contida nesse belíssimo tema composto por Edu e Chico para o musical O corsário do rei (1985) e incorporado ao roteiro musical deste renovado Circo armado sob a direção de João Fonseca. Mesmo assim, o canto eficaz dessas músicas inebriantes pelo elenco contribui para a grandeza do musical que, embora parta do mesmo poema (O grande circo místico, escrito pelo alagoano Jorge de Lima e publicado em livro de 1938), tem texto totalmente distinto da dramaturgia criada por Naum Alves de Souza para o balé de 1983. Texto que que contribui decisivamente para o êxito da encenação. Ao ambientar em cenário de guerra o amor romântico do casal Frederico (Gabriel Stauffer) e Beatriz (papel desempenhado com brilho pela substituta eventual de Letícia Colin, Luciana Pandolfo, na apresentação vista por Notas Musicais), os dramaturgos Newton Moreno e Alessandro Toller criaram um texto de alta carga teatral que propicia ao diretor João Fonseca armar um circo onírico que, em essência, faz a elegia da Arte em contraponto às misérias humanas amplificadas pelo vale-tudo de uma guerra.
O texto prega a Arte - no caso, a arte circense, personificada por malabaristas, palhaços e pelo empresário vivido por Fernando Eiras - como o antídoto que alivia o Homem das dores e horrores mundanos. Nessa elegia, comovente, reside a beleza de musical sustentado por elenco que, mesmo homogêneo, expõe brilhos individuais como o de Reiner Tenente, iluminado no papel do Clown. Entre números circenses e um enredo de lances folhetinescos que inclui separação de bebês gêmeos no nascimento, entre outras maldades arquitetadas por uma vilã (Charlote, bem desenhada por Isabel Lobo) disposta a tudo pelo amor do galã, salta aos olhos a beleza do cenário de Nélio Marrese e aos ouvidos a maestria das canções de Edu e Chico, reiterada a cada número musical. Provavelmente ciente de que seria arriscado inventar moda com canções já perfeitas em sua essência, o diretor musical Ernani Maletta trata a trilha sonora com a devida reverência sem deixar de pôr seu toque pessoal em algumas músicas - caso do arranjo vocal que dá outra pulsação para a Ciranda da bailarina, número de interpretação coletiva. A opção de inserir no roteiro musical outros temas feitos pelos compositores para a cena - caso da sublime Valsa brasileira, criada para o balé Dança da meia-lua (1988) e reouvida no atual Circo místico nas vozes do casal protagonista - resultou acertada pelo ajuste dessas músicas à trama. Orquestrado com maestria por João Fonseca, o musical jamais perde a coesão em suas três horas de duração. Imperdível, O grande circo místico volta à cena de forma magistral, honrando a trilha sonora de Edu Lobo e Chico Buarque, cuja inspiração sinaliza que a história de Lily Braun, Beatriz e cia. ainda vai ganhar muitas vozes e adaptações.
O musical é belíssimo. Só não curti o trabalho da filha do Edu... Não convence!!!
Pretendo prestigiar.
Excelente texto. Deu vontade de ir. Pena que estou en BsAs.
O musical é muito bom, o que eu não gostei foi da atuação do elenco como um todo, não me convenceu, para um texto tão belo, ótimas músicas e cenário estupendo, pedia atores mais maturados, mas ainda sim, vale muito a pena!!!!
O que me aborrece, é a carência de novos grandes textos. Porquê a nossa arte se repete tanto?
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