Título: Gigante gentil
Artista: Erasmo Carlos (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 24 de maio de 2014
Cotação: * * * 1/2
O título da balada que enfim inaugura a parceria de Erasmo Carlos com Caetano Veloso - Sentimentos complicados (2014), incluída entre as 21 músicas do roteiro do show Gigante gentil - foi a mais perfeita tradução da emoção que envolveu o Tremendão na volta aos palcos, na noite de 24 de maio de 2014. A apresentação no Rio de Janeiro (RJ) que marcou a retomada da turnê nacional do show Gigante gentil - iniciada em 26 de abril em Curitiba (PR) - foi a primeira do artista carioca após a morte de seu filho Carlos Alexandre Sayão Lobato Esteves (1973 - 2014), a quem à apresentação foi dedicada. "É complicado estar aqui, mas a música tem que continuar", argumentou o cantor após o choro incontido no momento em que a plateia repetia a plenos pulmões o verso-refrão-título de É preciso saber viver (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968). Ciente de que o show tem que continuar, Erasmo se agiganta ao driblar a dor pessoal da alma atarantada para dar continuidade à agenda profissional. Inspirado no recém-lançado álbum de inéditas Gigante gentil (Coqueiro Verde Records, 2014), o show bebe pouco da fonte do disco produzido por Kassin - apenas cinco das dez inéditas figuram no roteiro - e se escora nos sucessos que garantem a já tradicional animação da festa de arromba promovida por Erasmo nos palcos desde as jovens tardes de domingo. No show, a dose de rock'n'roll é um pouco maior do que a do disco. As guitarras - pilotadas por Billy Brandão, Luiz Lopez, Rogério Percy e pelo próprio Tremendão - já sobressaem no primeiro número, Gigante gentil (Erasmo Carlos, 2014), bom rock que dá nome ao CD lançado em abril de 2014. Elas, as guitarras, dão o apropriado tom roqueiro de números como Dois animais na selva suja da rua - música do cantor e compositor uruguaio-brasileiro Taiguara (1945 - 1996) lançada por Erasmo no cultuado álbum Carlos, Erasmo... (Philips, 1971) - e de Jogo sujo (Erasmo Carlos, 2009), composição de Rock'n'roll (Coqueiro Verde Records, 2009), álbum que revigorou a discografia do Tremendão. O solo de Billy Brandão na abordagem pesada de Quero que vá tudo pro inferno - tema de Roberto e Erasmo que em 1965 transformou Roberto no Rei da juventude do Brasil - turbina o número mais heavy do show. Contudo, Erasmo - que de mau tem somente a fama - pratica a gentileza na forma de baladas que falam de amor e sexo, tendo a mulher como alvo invariável. "A mulher é a poesia que eu mais venero e admiro neste mundo", ressaltou o cantor em cena, antes de cantar seu hino feminino Mulher (Erasmo Carlos e Nara Esteves, 1981). Mulher é um dos números feitos com a adição do violino de Ana de Oliveira, ouvido também em canções como Sentado à beira do caminho (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969). Na seara das baladas, Gatinha manhosa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966) volta à cena mais terna do que dengosa, alocada no roteiro ao lado da melodiosa A carta (Benil Santos e Raul Sampaio, 1966), reminiscência de tempos românticos mais pueris. Retrato dos (des)encontros afetivos nos tempos da web, a canção Amor na rede (Erasmo Carlos e Nelson Motta, 2014) mostra Erasmo conectado ao seu tempo cibernético. Aliás, a primeira das espirituosas projeções expostas no telão flagra internauta fazendo piada com a idade do artista, prestes a completar 73 anos (em junho de 2014). Gigante gentil, o show, transita entre presente e passado com certo ar déjà vu, reiterado pelo figurino recorrente em apresentações do cantor. Os sucessos são todos os mesmos. A pegada desses sucessos também é a mesma, ainda que a levada arejada de Além do horizonte (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1975) - na cola do arranjo da gravação produzida por Kassin e propagada na abertura da novela Além do horizonte (TV Globo, 2013 / 2014) - indique que, no seu passo, Erasmo Carlos caminha para a frente. Em contrapartida, a voz se revela naturalmente menos resistente, pelos efeitos do tempo, mas sem jamais abalar a performance do artista. Que também não é mais o mesmo, apesar do heroico esforço para manter o bom-humor e o rock em cena. Com sentimentos compreensivelmente complicados na volta aos palcos, Erasmo Carlos se agiganta, gentil, para o show continuar. Bravo, Tremendão!!
3 comentários:
O título da balada que enfim inaugura a parceria de Erasmo Carlos com Caetano Veloso - Sentimentos complicados (2014), incluída entre as 21 músicas do roteiro do show Gigante gentil - foi a mais perfeita tradução da emoção que envolveu o Tremendão na volta aos palcos, na noite de 24 de maio de 2014. A apresentação no Rio de Janeiro (RJ) que marcou a retomada da turnê nacional do show Gigante gentil - iniciada em 26 de abril em Curitiba (PR) - foi a primeira do artista carioca após a morte de seu filho Carlos Alexandre Sayão Lobato Esteves (1973 - 2014), a quem à apresentação foi dedicada. "É complicado estar aqui, mas a música tem que continuar", argumentou o cantor após o choro incontido no momento em que a plateia repetia a plenos pulmões o verso-refrão-título de É preciso saber viver (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968). Ciente de que o show tem que continuar, Erasmo se agiganta ao driblar a dor pessoal da alma atarantada para dar continuidade à agenda profissional. Inspirado no recém-lançado álbum de inéditas Gigante gentil (Coqueiro Verde Records, 2014), o show bebe pouco da fonte do disco produzido por Kassin - apenas cinco das dez inéditas figuram no roteiro - e se escora nos sucessos que garantem a já tradicional animação da festa de arromba promovida por Erasmo nos palcos desde as jovens tardes de domingo. No show, a dose de rock'n'roll é um pouco maior do que a do disco. As guitarras - pilotadas por Billy Brandão, Luiz Lopez, Rogério Percy e pelo próprio Tremendão - já sobressaem no primeiro número, Gigante gentil (Erasmo Carlos, 2014), bom rock que dá nome ao CD lançado em abril de 2014. Elas, as guitarras, dão o apropriado tom roqueiro de números como Dois perdidos na selva suja da rua - música do cantor e compositor uruguaio-brasileiro Taiguara (1945 - 1996) lançada por Erasmo no cultuado álbum Carlos, Erasmo... (Philips, 1972) - e de Jogo sujo (Erasmo Carlos, 2009), composição de Rock'n'roll (Coqueiro Verde Records, 2009), álbum que revigorou a discografia do Tremendão. O solo de Billy Brandão na abordagem pesada de Quero que vá tudo pro inferno - tema de Roberto e Erasmo que em 1965 transformou Roberto no Rei da juventude do Brasil - turbina o número mais heavy do show.
Contudo, Erasmo - que de mau tem somente a fama - pratica a gentileza na forma de baladas que falam de amor e sexo, tendo a mulher como alvo invariável. "A mulher é a poesia que eu mais venero e admiro neste mundo", ressaltou o cantor em cena, antes de cantar seu hino feminino Mulher (Erasmo Carlos e Nara Esteves, 1981). Mulher é um dos números feitos com a adição do violino de Ana de Oliveira, ouvido também em canções como Sentado à beira do caminho (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969). Na seara das baladas, Gatinha manhosa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966) volta à cena mais terna do que dengosa, alocada no roteiro ao lado da melodiosa A carta (Benil Santos e Raul Sampaio, 1966), reminiscência de tempos românticos mais pueris. Retrato dos (des)encontros afetivos nos tempos da web, a canção Amor na rede (Erasmo Carlos e Nelson Motta, 2014) mostra Erasmo conectado ao seu tempo cibernético. Aliás, a primeira das espirituosas projeções expostas no telão flagra internauta fazendo piada com a idade do artista, prestes a completar 73 anos (em junho de 2014). Gigante gentil, o show, transita entre presente e passado com certo ar déjà vu, reiterado pelo figurino recorrente em apresentações do cantor. Os sucessos são os mesmos. A pegada desses sucessos também é a mesma, ainda que a levada arejada de Além do horizonte (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1975) - na cola do arranjo da gravação produzida por Kassin e propagada na abertura da novela Além do horizonte (TV Globo, 2013 / 2014) - indique que, no seu passo, Erasmo Carlos caminha para a frente. Em contrapartida, a voz se revela naturalmente menos resistente, pelos efeitos do tempo, mas sem jamais abalar a performance do artista. Que também não é mais o mesmo, apesar do heroico esforço para manter o bom-humor e o rock em cena. Com sentimentos compreensivelmente complicados na volta aos palcos, Erasmo Carlos se agiganta, gentil, para o show continuar. Bravo, Tremendão!!
Tenho imensa simpatia pelo Erasmão - tanto o músico, quanto a pessoa.
É um cara verdadeiro.
Mas a vida bate indiscriminadamente em todos.
Se não fosse assim nego seria do bem por malandragem. :-)
Forçaaaa, man!
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