Resenha de CD
Título: Nação Zumbi
Artista: Nação Zumbi
Gravadora: Slap / Som Livre
Cotação: * * * *
Vinte anos após deflagarem o Mangue Beat, movimento que recolocou Pernambuco no mapa da música brasileira a partir de 1994, os tambores da Nação Zumbi rufam em tom cada vez mais pop. Produzido por Alexandre Kassin e Berna Ceppas, o primeiro álbum de inéditas da banda do Recife (PE) em sete anos aprimora o polimento pop já evidenciado no anterior Fome de tudo (Deck, 2007), bom disco em que Mario Caldato organizou a lama e o caos evidenciado em Futura (Trama, 2005). Contudo, o trato pop dado pelos produtores Berna & Kassin respeita o histórico da Nação. Disponível para compra no iTunes a partir de hoje, 5 de maio de 2014, o álbum Nação Zumbi confirma e consagra a sonoridade do grupo ao longo das onze músicas inéditas assinadas conjuntamente pelo vocalista Jorge Du Peixe, o baixista Dengue, o baterista Pupillo e o guitarrista Lúcio Maia (o pernambucano Junio Barreto adere ao time de compositores em O que te faz rir). A conexão com a história pregressa da banda fica nítida em Pegando fogo, música ardente que encerra o disco como uma benção ao mentor da Nação Zumbi, Chico Science (1966 - 1997). Com mix incandescente de guitarra e tambores, Pegando fogo é a música que lembra - em disco marcado pelo romantismo lúcido de temas como Foi de amor e Nunca te vi - que o som da Nação Zumbi sempre foi também uma arma política em cena social cada vez mais quente, como reitera a letra de Pegando fogo. "Não feche os olhos, não / Mais um dia tece a trama / E o drama reclama logo uma solução", alarmam os versos de Cuidado, faixa roqueira com dose de psicodelia que também remete ao som cristalizado por Science nos anos 1990. Sem renegar seu passado glorioso, mas com os pés fincados na lama do momento presente, a Nação Zumbi confirma mais uma vez - com esse belo e coeso álbum - que conseguiu criar uma marca e um som na sua vida pós-Science. Masterizado por Robert Carranza em Los Angeles (EUA), o CD Nação Zumbi dialoga com o disco em que o grupo Los Sebozos Postiços - projeto paralelo dos músicos da Nação - interpreta Jorge Ben Jor, provando a atualidade do álbum gravado com o patrocínio do projeto Natura Musical e editado pelo selo Slap (braço indie-pop da gravadora global Som Livre) em CD que vai estar nas lojas a partir de 15 de maio. Resistindo à tentação de criar um simulacro de seus álbuns clássicos, a Nação Zumbi caminha para frente em álbum engrandecido pela alta qualidade da safra de inéditas. Como o single Cicatriz já sinalizara em fevereiro, o mix de guitarras, tambores e synths (pilotados por Berna & Kassin) resulta harmonioso, sem diluir tensões contidas em versos como os de Bala perdida. E o fato é que as músicas de Nação Zumbi são boas e se prestam muito bem à sonoridade do disco, especialmente polida na melodiosa balada Um sonho. A trama de tambores intensificada ao fim de Nunca te vi é a mesma que sustenta o envolvente refrão de Novas auroras, música de versos ("Ontem você quis o amanhã / Hoje você quer o depois / Vou andando nas horas / Atravessando os agoras / Dançando as novas auroras") que parecem até mandar recado para quem espera ouvir somente ecos da Nação de Science, referendando que o tempo da Nação Zumbi é hoje. Nesse tempo e universo particular, A melhor hora da praia dança lindamente no passo da ciranda, embalada pelo canto da sereia Marisa Monte, cujos vocais valorizam uma das melhores músicas de um disco capaz de desmistificar o romantismo em Defeito perfeito ("À queima-roupa / Ninguém fica inteiro"). Enfim, os tambores estão lá, a guitarra de Lúcio Maia também - com direito a solo hendrixiano em O que te faz rir - mas, cada vez que dá um passo, a Nação Zumbi muda de lugar. É o que se espera dessa banda que soube caminhar ao longo desses 20 anos de Mangue Beat sem ficar à sombra de Chico Science.
Vinte anos após deflagarem o Mangue Beat, movimento que recolocou Pernambuco no mapa da música brasileira a partir de 1994, os tambores da Nação Zumbi rufam em tom cada vez mais pop. Produzido por Alexandre Kassin e Berna Ceppas, o primeiro álbum de inéditas da banda do Recife (PE) em sete anos aprimora o polimento pop já evidenciado no anterior Fome de tudo (Deck, 2007), bom disco em que Mario Caldato organizou a lama e o caos evidenciado em Futura (Trama, 2005). Contudo, o trato pop dado pelos produtores Berna & Kassin respeita o histórico da Nação. Disponível para compra no iTunes a partir de hoje, 5 de maio de 2014, o álbum Nação Zumbi confirma e consagra a sonoridade do grupo ao longo das onze músicas inéditas assinadas conjuntamente pelo vocalista Jorge Du Peixe, o baixista Dengue, o baterista Pupillo e o guitarrista Lúcio Maia (o pernambucano Junio Barreto adere ao time de compositores em O que te faz rir). A conexão com a história pregressa da banda fica nítida em Pegando fogo, música ardente que encerra o disco como uma benção ao mentor da Nação Zumbi, Chico Science (1966 - 1997). Com mix incandescente de guitarra e tambores, Pegando fogo é a música que lembra - em disco marcado pelo romantismo lúcido de temas como Foi de amor e Nunca te vi - que o som da Nação Zumbi sempre foi também uma arma política em cena social cada vez mais quente, como reitera a letra de Pegando fogo. "Não feche os olhos, não / Mais um dia tece a trama / E o drama reclama logo uma solução", alarmam versos de Cuidado, faixa aditivada com dose de psicodelia que também remete ao som cristalizado por Science nos anos 1990. Sem renegar seu passado glorioso, mas com os pés fincados na lama do momento presente, a Nação Zumbi confirma mais uma vez - com esse belo e coeso álbum - que conseguiu criar uma marca e um som na sua vida pós-Science. Masterizado por Robert Carranza em Los Angeles (EUA), o CD Nação Zumbi dialoga com o disco em que o grupo Los Sebozos Postiços - projeto paralelo dos músicos da Nação - interpreta Jorge Ben Jor, provando a atualidade do álbum gravado com o patrocínio do projeto Natura Musical e editado pelo selo Slap (braço indie-pop da gravadora global Som Livre) em CD que vai estar nas lojas a partir de 15 de maio. Resistindo à tentação de criar um simulacro de seus álbuns clássicos, a Nação Zumbi caminha para frente em álbum engrandecido pela alta qualidade da safra de inéditas. Como o single Cicatriz já sinalizara em fevereiro, o mix de guitarras, tambores e synths (pilotados por Berna & Kassin) resulta harmonioso, sem diluir tensões contidas em versos como os de Bala perdida. E o fato é que as músicas de Nação Zumbi são boas e se prestam muito bem à sonoridade do disco, especialmente polida na melodiosa balada Um sonho. A trama de tambores intensificada ao fim de Nunca te vi é a mesma que sustenta o envolvente refrão de Novas auroras, música de versos ("Ontem você quis o amanhã / Hoje você quer o depois / Vou andando nas horas / Atravessando os agoras / Dançando as novas auroras") que parecem até mandar recado para quem espera ouvir somente ecos da Nação de Science, referendando que o tempo da Nação Zumbi é hoje. Nesse tempo e universo particular, A melhor hora da praia dança lindamente no passo da ciranda, embalada pelo canto da sereia Marisa Monte, cujos vocais valorizam uma das melhores músicas de um disco capaz de desmistificar o romantismo em Defeito perfeito ("À queima-roupa / Ninguém fica inteiro"). Enfim, os tambores estão lá, a guitarra de Lúcio Maia também - com direito a solo hendrixiano em O que te faz rir - mas, cada vez que dá um passo, a Nação Zumbi muda de lugar. Isso é o que se espera de banda que soube caminhar ao longo desses 20 anos de Mangue Beat sem ficar à sombra de Chico Science.
ResponderExcluirQue ótimo saber que a Nação está de volta com um disco inédito. Estou na expectativa para ouvir.
ResponderExcluirEsse som pop...não sei não... ainda não ouvi,vou esperar, mas Otto deu no ultimo disco e eu não gostei.
ResponderExcluirGrande acerto da Nação. O CD tá muito, muito bom.
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