Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Sem dar outro salto, Silvia Machete reitera sons e humores em 'Souvenir'

Resenha de CD
Título: Souvenir
Artista: Silvia Machete
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * *

Com o irretocável álbum Extravaganza (Coqueiro Verde Records, 2010), Silvia Machete deu salto ousado e, sem cair, subiu no conceito e na cotação do mercado fonográfico brasileiro. Extravaganza revelou que, por trás da armação do circo, havia uma boa cantora, de escolhas inteligentes. Sem arriscar outro salto, a artista carioca reitera sons, humores e intenções em seu terceiro álbum de estúdio, Souvenir, quinto título da discografia de Machete. Com dez músicas que totalizam 31 minutos, suficientes para confirmar a inteligência da cantora, Souvenir irmana regravações espirituosas e inéditas de compositores como Eduardo Dussek, Jorge Mautner, Moraes Moreira e Rubinho Jacobina. Compositor que deveria receber mais atenção de cantoras à procura de repertório, Dussek colabora com Totalmente tcha tcha tcha, música cheia de verve e autoestima, moldada para o canto de Machete. Moraes contribui com Nada, marcha-frevo que perfila a artista no tom carnavalizante que caracteriza parte do cancioneiro do compositor baiano. Mautner é parceiro de Rubinho Jacobina em Ba be bi bo bu, música animada pelo espírito lúdico que move a cantora em cena. Sozinho, Jacobina assina Ringard, delícia pós-tropicalista que cai bem na voz dessa intérprete poliglota que verte para o português do Brasil a letra de Espetáculo, música do cantor e compositor lusitano Sergio Godinho, escrita no português da Terrinha e lançada em 1979. Gravada em Souvenir com a banda Ultra Leve, Espetáculo deve crescer em cena. Leve e arejada, aliás, é a sonoridade do álbum, gravado com alguns dos melhores e mais requisitados músicos da cena contemporânea - casos do baixista Alberto Continentino, do também baixista Bruno Di Lullo, do percussionista Jam da Silva, do trombonista Marlon Sette, do guitarrista Pedro Sá e do baterista Pupillo, entre outro nomes. O latido sensual de 2 cachorros se faz ouvir sedutor por conta dessa sonoridade antenada. É a única música assinada por Machete, compositora bissexta em Souvenir. Dentre as regravações, quase todas sagazes, Tango da bronquite merece menção honrosa. O tango da cantora e compositora carioca Angela Ro Ro - lançado pela autora no álbum Só nos resta viver (Philips, 1980) - ganha clima de fanfarra no toque dos metais orquestrados por Thiago Osório. Ro Ro entra no clima, exercitando com Machete sua irreverência moleca, ponto de interseção nas obras fonográficas das artistas. Com arranjo indie que evoca a atmosfera circense por linhas e tons tortos, Trapézio põe no picadeiro música do compositor português Jorge de Palma, gravada pelo autor no álbum É proibido fumar (2001). Também fora da ordem convencional é a releitura de Tatuagem, canção composta por Chico Buarque e Ruy Guerra para a peça e disco Calabar (1973). Descolada por Machete dos registros habituais, no toque do piano do norte-americano Jason Lindner, Tatuagem vai imprimir somente em quem dissociar a música da sensualidade dramática de suas recorrentes gravações. O mesmo piano de Lindner embasa a menos envolvente História de um início, canção de Arthur Dutra também descolada do tom espirituoso de Souvenir, disco produzido pela própria Machete com Fabiano França. Enfim, mesmo sem dar outro salto qualitativo, como no álbum Extravaganza, Silvia Machete prova novamente como CD Souvenir que, mesmo quando desarma o circo, sabe se equilibrar como (boa) cantora na corda cada vez mais bamba do mercado fonográfico do Brasil.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Com o irretocável álbum Extravaganza (Coqueiro Verde Records, 2010), Silvia Machete deu salto ousado e, sem cair, subiu no conceito e na cotação do mercado fonográfico brasileiro. Extravaganza revelou que, por trás da armação do circo, havia uma boa cantora, de escolhas inteligentes. Sem arriscar outro salto, a artista carioca reitera sons, humores e intenções em seu terceiro álbum de estúdio, Souvenir, quinto título da discografia de Machete. Com dez músicas que totalizam 31 minutos, suficientes para confirmar a inteligência da cantora, Souvenir irmana regravações espirituosas e inéditas de compositores como Eduardo Dussek, Jorge Mautner, Moraes Moreira e Rubinho Jacobina. Compositor que deveria receber mais atenção de cantoras à procura de repertório, Dussek colabora com Totalmente tcha tcha tcha, música cheia de verve e autoestima, moldada para o canto de Machete. Moraes contribui com Nada, marcha-frevo que perfila a artista no tom carnavalizante que caracteriza parte do cancioneiro do compositor baiano. Mautner é parceiro de Rubinho Jacobina em Ba be bi bo bu, música animada pelo espírito lúdico que move a cantora em cena. Sozinho, Jacobina assina Ringard, delícia pós-tropicalista que cai bem na voz dessa intérprete poliglota que verte para o português do Brasil a letra de Espetáculo, música do cantor e compositor lusitano Sergio Godinho, escrita no português da Terrinha e lançada em 1979. Gravada em Souvenir com a banda Ultra Leve, Espetáculo deve crescer em cena. Leve e arejada, aliás, é a sonoridade do álbum, gravado com alguns dos melhores e mais requisitados músicos da cena contemporânea - casos do baixista Alberto Continentino, do também baixista Bruno Di Lullo, do percussionista Jam da Silva, do trombonista Marlon Sette, do guitarrista Pedro Sá e do baterista Pupillo, entre outro nomes. O latido sensual de 2 cachorros se faz ouvir sedutor por conta dessa sonoridade antenada. É a única música assinada por Machete, compositora bissexta em Souvenir. Dentre as regravações, quase todas sagazes, Tango da bronquite merece menção honrosa. O tango da cantora e compositora carioca Angela Ro Ro - lançado pela autora no álbum Só nos resta viver (Philips, 1980) - ganha clima de fanfarra no toque dos metais orquestrados por Thiago Osório. Ro Ro entra no clima, exercitando com Machete sua irreverência moleca, ponto de interseção nas obras fonográficas das artistas. Com arranjo indie que evoca a atmosfera circense por linhas e tons tortos, Trapézio põe no picadeiro música do compositor português Jorge de Palma, gravada pelo autor no álbum É proibido fumar (2001). Também fora da ordem convencional é a releitura de Tatuagem, canção composta por Chico Buarque e Ruy Guerra para a peça e disco Calabar (1973). Descolada por Machete dos registros habituais, no toque do piano do norte-americano Jason Lindner, Tatuagem vai imprimir somente em quem dissociar a música da sensualidade dramática de suas recorrentes gravações. O mesmo piano de Lindner embasa a menos envolvente História de um início, canção de Arthur Dutra também descolada do tom espirituoso de Souvenir, disco produzido pela própria Machete com Fabiano França. Enfim, mesmo sem dar outro salto qualitativo, como no álbum Extravaganza, Silvia Machete prova novamente como CD Souvenir que, mesmo quando desarma o circo, sabe se equilibrar como (boa) cantora na corda cada vez mais bamba do mercado fonográfico do Brasil.

Rubens Lisboa disse...

Eu acho a Machete uma das melhores coisas que existem atualmente neste meu Brasil!

Eduardo disse...

Continuo achando que é muito malabarismo e pouca música. Não gosto.

Fabio disse...

Souvenir é super gostoso de se ouvir. Ringard é muito Novos Baianos. Adorei esse álbum. Ela ficou surpresa por já estar disponível no iTunes. Bola dentro dessa vez Coqueiro Verde! Recomendo.