Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 3 de junho de 2014

De volta ao rock, Pitty ganha fôlego com revigorante álbum 'SETEVIDAS'

Resenha de CD
Título: SETEVIDAS
Artista: Pitty 
Gravadora: Deck
Cotação: * * * *

Não espere ouvir uma delícia pop como Me adora (Pitty, 2009) em SETEVIDAS, o álbum de inéditas que Pitty lança hoje, 3 de junho de 2014, cinco após após Chiaroscuro (Deck, 2009). Entre um álbum de estúdio e outro, a roqueira suavizou o som e os modos ao transitar pelo pop folk como metade do duo Agridoce, projeto paralelo que uniu a cantora e compositora baiana ao guitarrista e compositor Martin Mendezz. Em SETEVIDAS, Pitty volta ao rock, retomando os modos e a atitude de antes, sem aliviar a barra pesada. O peso é sentido tanto nas letras críticas e conscientes - que vão direto ao ponto quando, por exemplo, alfinetam o consumismo insano, assunto do rock Boca aberta (Pitty e Martin Mendezz) - quanto no som tirado pelo produtor Rafael Ramos e lapidado pela mixagem de Tim Palmer e a masterização de Ted Jensen, ambas exemplares, não por terem sido feitas no exterior, mas por terem gerado um som encorpado, equalizado e organizado sem jogar para debaixo do tapete as eventuais sujeiras. Afinal, SETEVIDAS é disco de rock, gênero atualmente empurrado para a margem do mercado fonográfico. Rockão que abre o disco e que se destaca no coeso repertório inteiramente inédito e autoral, Pouco (Pitty) não deixa dúvidas sobre a natureza do disco. "Não espere que eu me contente com pouco / É pouco / Tão pouco", avisa Pitty, com fome de rock. Na sequência, outro rock, Deixa ela entrar (Pitty e Martin Mendezz) desafia a noção - já cristalizada no universo pop - de que rock e excessos devem andar juntos. "É torta a sensação de que o caminho se encontra na perdição", sentencia Pitty, com maturidade. Nesse sentido, aliás, Pitty abre abismo entre SETEVIDAS e Admirável chip novo (Deck, 2003). Se este álbum de estreia alinhou adolescentes tomadas de posição, já expondo a atitude que iria tornar Pitty uma voz ouvida com atenção por sua geração pop, o atual disco já é o retrato de uma mulher adulta, capaz de falar metaforicamente de orgasmo em Pequena morte (Pitty e Martin Mendezz). Álbum pontuado por guitarras furiosas como as que dão força a Um Leão (Pitty), rock de  versos como "Nas mãos do atirador, as facas que eu mesma concedi", SETEVIDAS sai do universo roqueiro em Lado de lá (Pitty) - power balada de textura psicodélica, guitarra e um piano alienígena tocado pela própria Pitty - e Serpente (Pitty), faixa que encerra o álbum em grande estilo, com coros e com percussões que exploram rítmicas de terreiros nunca antes pisados pela artista. As duas faixas sobressaem entre as dez inéditas de disco que reafirma seu espírito crítico em A massa (Pitty) e que apresenta músicas de intensidade crescente, caso de Olho calmo, composição assinada por Pitty coletivamente com sua banda. Enfim, SETEVIDAS é disco de peso. "Ainda me restam três vidas", contabiliza Pitty em Sete vidas (Pitty), rock que dá título a esse álbum que renova o fôlego da arretada baiana.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Não espere ouvir uma delícia pop como Me adora (Pitty, 2009) em SETEVIDAS, o álbum de inéditas que Pitty lança hoje, 3 de junho de 2014, cinco após após Chiaroscuro (Deck, 2009). Entre um álbum de estúdio e outro, a roqueira suavizou o som e os modos ao transitar pelo pop folk como metade do duo Agridoce, projeto paralelo que uniu a cantora e compositora baiana ao guitarrista e compositor Martin Mendezz. Em SETEVIDAS, Pitty volta ao rock, retomando os modos e a atitude de antes, sem aliviar a barra pesada. O peso é sentido tanto nas letras críticas e conscientes - que vão direto ao ponto quando, por exemplo, alfinetam o consumismo insano, assunto do rock Boca aberta (Pitty e Martin Mendezz) - quanto no som tirado pelo produtor Rafael Ramos e lapidado pela mixagem de Tim Palmer e a masterização de Ted Jensen, ambas exemplares, não por terem sido feitas no exterior, mas por terem gerado um som encorpado e organizado sem jogar para debaixo do tapete as eventuais sujeiras. Afinal, SETEVIDAS é disco de rock, gênero atualmente empurrado para a margem do mercado fonográfico. Rockão que abre o disco e que se destaca no coeso repertório inteiramente inédito e autoral, Pouco (Pitty) não deixa dúvidas sobre a natureza do disco. "Não espere que eu me contente com pouco / É pouco / Tão pouco", avisa Pitty, com fome de rock. Na sequência, outro rock, Deixa ela entrar (Pitty e Martin Mendezz) desafia a noção - já cristalizada no universo pop - de que rock e excessos devem andar juntos. "É torta a sensação de que o caminho se encontra na perdição", sentencia Pitty, com maturidade. Nesse sentido, aliás, Pitty abre abismo entre SETEVIDAS e Admirável chip novo (Deck, 2003). Se este álbum de estreia alinhou adolescentes tomadas de posição, já expondo a atitude que iria tornar Pitty uma voz ouvida com atenção por sua geração pop, o atual disco já é o retrato de uma mulher adulta, capaz de falar metaforicamente de orgasmo em Pequena morte (Pitty e Martin Mendezz). Álbum pontuado por guitarras furiosas como as que dão força a Um Leão (Pitty), rock de versos como "Nas mãos do atirador, as facas que eu mesma concedi", SETEVIDAS sai do universo roqueiro em Lado de lá (Pitty) - power balada de textura psicodélica, guitarra e um piano alienígena tocado pela própria Pitty - e Serpente (Pitty), faixa que encerra o álbum em grande estilo, com coros e percussões que exploram rítmicas e terreiros nunca dantes pisados pela artista. As duas faixas sobressaem entre as dez inéditas de disco que reafirma seu espírito crítico em A massa (Pitty) e que apresenta músicas de intensidade crescente, caso de Olho calmo, composição assinada por Pitty coletivamente com sua banda. Enfim, SETEVIDAS é disco de peso. "Ainda me restam três vidas", contabiliza Pitty em Sete vidas (Pitty), rock que dá título a esse álbum que renova o fôlego da arretada baiana.

Rhenan Soares disse...

Disco incrível!!! Pitty mandando MUITO, mais uma vez!