Mauro Ferreira no G1

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domingo, 29 de junho de 2014

Eastwood foca era e som do Four Seasons com ternura em 'Jersey boys'

Resenha de filme
Título: Jersey Boys - Em busca da música
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Marshall Brickman
Elenco: John Lloyd Young, Vincent Piazza, Erich Bergen, Johnny Cannizzaro e outros
Cotação: * * * * 
Filme em cartaz nos cinemas do Brasil desde 26 de junho de 2014

Em sua última cena, quando já rolam os créditos finais, Jersey Boys - Em busca da música adquire o tom esperado de um filme baseado em musical da Broadway. Mas é como se, nesse derradeiro take, o diretor Clint Eastwood mostrasse que, se seu longa-metragem foge do molde tradicional dos musicais de cinema, é por opção estilística, não por incapacidade de filmar um musical no clima vibrante das produções do gênero. Em cartaz nos cinemas do Brasil desde 26 de junho de 2014, Jersey Boys se enquadra mais no rótulo drama biográfico do que musical. Com olhar terno e com a habitual sensibilidade, Eastwood foca a era, a saga e o som do grupo norte-americano The Four Seasons. Como apregoa o poster do filme valorizado também pela performance do elenco principal e pela primorosa direção de arte (hábil na reconstituição das modas e costumes dos anos 1950 e 1960), as músicas dos Four Seasons são populares, sobretudo nos Estados Unidos, mas poucos conhecem a história do quarteto de pop adocicado que escalou as paradas norte-americanas a partir de 1962, dois anos da invasão britânica capitaneada pelo grupo inglês The Beatles. Em ordem cronológica, com fotografia que denota certa melancolia nostálgica, Jersey Boys reconstitui essa história iniciada em 1951, quando o caminho de Francesco Stephen Castelluccio - o cantor amador e aspirante a barbeiro que se tornaria mundialmente conhecido como Frankie Valli - cruza com o de Tommy DeVito. Visionário, mas também sem opção numa época em que vivia entrando e saindo de prisões por pequenas contravenções, o barítono guitarrista DeVito percebe o potencial de sucesso contido no falsete de Valli e o convida para ingressar como vocalista no grupo que formara em New Jersey. Com origem que remonta aos anos 1950, década da formação do quarteto The Four Lovers (embrião dos Four Seasons), o grupo encontra a fórmula do sucesso quando se depara com Bob Gaudio, o tenor tecladista que viria a se tornar o principal compositor do quarteto rebatizado como The Four Seasons, e com o produtor Bob Crewe. É de autoria de Gaudio a música, Sherry, que daria a sonhada fama aos Four Seasons ao ser gravada e lançada como single em 1962. Revividos no filme em tons ternos, outros hits - como Big girls don't cry (Bob Gaudio e Bob Crewe, 1962) e Walk like a man (Bob Gaudio e Bob Crewe,1963) - se sucederam nas paradas até que a crise, já evidenciada no cotidiano desgastante das turnês, se agiganta em 1965, provocando a saída voluntária do baixista Nick Massi. Sem poupar a indústria da música, retratada em toda sua frieza gananciosa, Jersey Boys expõe todos os conflitos do quarteto - provocados sobretudo pelo temperamento e pelos gastos exorbitantes do rebelde Tommy DeVito - sem cair no melodrama, embora as cenas do desgaste do casamento de Frankie Valli (personificado com competência vocal e dramática por John Lloyd Young) tenham natural tom folhetinesco. O longa-metragem também reproduz as duas mais emblemáticas gravações de Frankie Valli em sua carreira solo. Can't take my eyes off you (Bob Gaudio e Bob Crewe, 1967) - música que simbolizou o renascimento artístico de Valli após a morte de sua filha adolescente por envolvimento com drogas - e My eyes adored you (Bob Crewe e Kenny Nolan, 1974) também embalam a trilha sonora de uma época focada por Eastwood com delicadeza. Exceto nas cenas que reconstituem o reencontro dos Four Seasons em 1990 no ingresso do grupo no Rock and Roll Hall of Fame, prejudicadas por risível maquiagem que dá aspecto de mortos-vivos aos atores ao envelhecê-los, Jersey Boys - Em busca da música jamais sai do tom (dramático biográfico), prendendo a atenção do espectador por duas horas. 

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em sua última cena, quando já rolam os créditos finais, Jersey Boys - Em busca da música adquire o tom esperado de um filme baseado em musical da Broadway. Mas é como se, nesse derradeiro take, o diretor Clint Eastwood mostrasse que, se seu longa-metragem foge do molde tradicional dos musicais de cinema, é por opção estilística, não por incapacidade de filmar um musical no clima vibrante das produções do gênero. Em cartaz nos cinemas do Brasil desde 26 de junho de 2014, Jersey Boys se enquadra mais no rótulo drama biográfico do que musical. Com olhar terno e com a habitual sensibilidade, Eastwood foca a era, a saga e o som do grupo norte-americano The Four Seasons. Como apregoa o poster do filme valorizado também pela performance do elenco principal e pela primorosa direção de arte (hábil na reconstituição das modas e costumes dos anos 1950 e 1960), as músicas dos Four Seasons são populares, sobretudo nos Estados Unidos, mas poucos conhecem a história do quarteto de pop adocicado que escalou as paradas norte-americanas a partir de 1962, dois anos da invasão britânica capitaneada pelo grupo inglês The Beatles. Em ordem cronológica, com fotografia que denota certa melancolia nostálgica, Jersey Boys reconstitui essa história iniciada em 1951, quando o caminho de Francesco Stephen Castelluccio - o cantor amador e aspirante a barbeiro que se tornaria mundialmente conhecido como Frankie Valli - cruza com o de Tommy DeVito. Visionário, mas também sem opção numa época em que vivia entrando e saindo de prisões por pequenas contravenções, o barítono guitarrista DeVito percebe o potencial de sucesso contido no falsete de Valli e o convida para ingressar como vocalista no grupo que formara em New Jersey. Com origem que remonta aos anos 1950, década da formação do quarteto The Four Lovers (embrião dos Four Seasons), o grupo encontra a fórmula do sucesso quando se depara com Bob Gaudio, o tenor tecladista que viria a se tornar o principal compositor do quarteto rebatizado como The Four Seasons, e com o produtor Bob Crewe. É de autoria de Gaudio a música, Sherry, que daria a sonhada fama aos Four Seasons ao ser gravada e lançada como single em 1962. Revividos no filme em tons ternos, outros hits - como Big girls don't cry (Bob Gaudio e Bob Crewe, 1962) e Walk like a man (Bob Gaudio e Bob Crewe,1963) - se sucederam nas paradas até que a crise, já evidenciada no cotidiano desgastante das turnês, se agiganta em 1965, provocando a saída voluntária do baixista Nick Massi. Sem poupar a indústria da música, retratada em toda sua frieza gananciosa, Jersey Boys expõe todos os conflitos do quarteto - provocados sobretudo pelo temperamento e pelos gastos exorbitantes do rebelde Tommy DeVito - sem cair no melodrama, embora as cenas do desgaste do casamento de Frankie Valli (personificado com competência vocal e dramática por John Lloyd Young) tenham natural tom folhetinesco. O longa-metragem também reproduz as duas mais emblemáticas gravações de Frankie Valli em sua carreira solo. Can't take my eyes off you (Bob Gaudio e Bob Crewe, 1967) - música que simbolizou o renascimento artístico de Valli após a morte de sua filha adolescente por envolvimento com drogas - e My eyes adored you (Bob Crewe e Kenny Nolan, 1974) também embalam a trilha sonora de uma época focada por Eastwood com delicadeza. Exceto nas cenas que reconstituem o reencontro dos Four Seasons em 1990 no ingresso do grupo no Rock and Roll Hall of Fame, prejudicadas por risível maquiagem que dá aspecto de mortos-vivos aos atores ao envelhecê-los, Jersey Boys - Em busca da música jamais sai do tom (dramático biográfico), prendendo a atenção do espectador por duas horas.

FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO NA PRÁTICA PARA QUEM QUER MORAR. disse...

A maquiagem estava horrível mesmo.