Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 15 de junho de 2014

Exposição sobre Macalé se ocupa de espaços e fatos íntimos do artista

Resenha de exposição
Título: Ocupação Jards Macalé
Curadoria: Itaú Cultural e Lourenço Mutarelli
Local: Itaú Cultural (São Paulo, SP)
Cotação: * * * * *
Em cartaz de terça-feira a domingo, no Itaú Cultural (São Paulo), até 6 de julho de 2014

Poucas exposições descortinam tão a fundo os bastidores da vida e obra de um artista ainda vivo como a ótima exposição dedicada a Jards Macalé na série Ocupação do Itaú Cultural. Ao adentrar o espaço intitulado Macalândia e percorrer os diversos ambientes da exposição, dividida em cinco eixos (Amor, HQ, Influências, Obra e Política) pelo curador Lourenço Mutarelli, o espectador ocupa espaços íntimos da criação do artista. Além das habituais exposição de álbuns e oferta de material audiovisual, a Ocupação Jards Macalé se diferencia, pairando acima de projeto similares, pelo alto índice de exposição de informações íntimas, desvendadas pela exibição de objetos e manuscritos do acervo pessoal do artista. As cartas dizem mais sobre a personalidade de Macalé do que todo o material convencional. É comovente a carta em que Macalé presta conta aos pais do destino da mesada recebida nos tempos de juventude. Outra carta - endereçada por Caetano Veloso a Macalé - não deixa dúvidas da participação essencial e decisiva do cantor, compositor e músico carioca na concepção do álbum Transa (Philips, 1972). Na carta, Caetano pede a Macalé que aceite fazer o disco porque não entende o álbum sem a presença do artista. As fotos também são raras, como a que mostra Macalé e Maria Bethânia na boate carioca Jangadeiros, no Rio de Janeiro (RJ), em 1967. Com grande criatividade, o curador ocupa espaços e cria ambientes na Macalândia que retratam o espírito ainda transgressor e indomado do artista. O espectador é convidado, por exemplo, a se trancar num banheiro, em cujas paredes estão reproduzidas frases repletas de poesia e filosofia. Em outro instante, a entrada em Gothan City torna a Ocupação Jards Macalé um programa sensorial. Todos os ambientes são sonorizados por trilha sonora que extrapola a obra autoral do artista, ecoando músicas ouvidas por Macalé em seu cotidiano. Aos 71 anos de vida e 50 de carreira, Macalé continua coerente. Preenchida por capas de revistas (várias de cunho erótico), cartazes de shows e capas de álbuns, a Ocupação Jards Macalé traça, sem cronologias e formalismos, a rota de um artista que jamais perdeu o rumo desde que foi gravado pela primeira vez por ninguém menos do que a cantora carioca Elizeth Cardoso (1920 - 1990). A dedicatória da mãe de Macalé  na contracapa do LP A meiga Elizete vol. 5 (Copacabana, 1964) - saudando o filho pela gravação de sua música Meu mundo é seu (parceria do compositor iniciante com Roberto Nascimento) - é exemplo da habilidade da exposição de retratar fatos públicos sob ótica íntima e pessoal. Mérito que torna a Ocupação Jards Macalé um programa imperdível. Entre na Macalândia e ocupe os espaços de Macalé!!!

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Poucas exposições descortinam tão a fundo os bastidores da vida e obra de um artista ainda vivo como a ótima exposição dedicada a Jards Macalé na série Ocupação do Itaú Cultural. Ao adentrar o espaço intitulado Macalândia e percorrer os diversos ambientes da exposição, dividida em cinco eixos (Amor, HQ, Influências, Obra e Política) pelo curador Lourenço Mutarelli, o espectador ocupa espaços íntimos da criação do artista. Além das habituais exposição de álbuns e oferta de material audiovisual, a Ocupação Jards Macalé se diferencia, pairando acima de projeto similares, pelo alto índice de exposição de informações íntimas, desvendadas pela exibição de objetos e manuscritos do acervo pessoal do artista. As cartas dizem mais sobre a personalidade de Macalé do que todo o material convencional. É comovente a carta em que Macalé presta conta aos pais do destino da mesada recebida nos tempos de juventude. Outra carta - endereçada por Caetano Veloso a Macalé - não deixa dúvidas da participação essencial e decisiva do cantor, compositor e músico carioca na concepção do álbum Transa (Philips, 1972). Na carta, Caetano pede a Macalé que aceite fazer o disco porque não entende o álbum sem a presença do artista. As fotos também são raras, como a que mostra Macalé e Maria Bethânia na boate carioca Jangadeiros, no Rio de Janeiro (RJ), em 1967. Com grande criatividade, o curador ocupa espaços e cria ambientes na Macalândia que retratam o espírito ainda transgressor e indomado do artista. O espectador é convidado, por exemplo, a se trancar num banheiro, em cujas paredes estão reproduzidas frases repletas de poesia e filosofia. Em outro instante, a entrada em Gothan City torna a Ocupação Jards Macalé um programa sensorial. Todos os ambientes são sonorizados por trilha sonora que extrapola a obra autoral do artista, ecoando músicas ouvidas por Macalé em seu cotidiano. Aos 71 anos de vida e 50 de carreira, Macalé continua coerente. Preenchida por capas de revistas (várias de cunho erótico), cartazes de shows e capas de álbuns, a Ocupação Jards Macalé traça, sem cronologias e formalismos, a rota de um artista que jamais perdeu o rumo desde que foi gravado pela primeira vez por ninguém menos do que a cantora carioca Elizeth Cardoso (1920 - 1990). A dedicatória da mãe de Macalé na contracapa do LP A meiga Elizete vol. 5 (Copacabana, 1964) - saudando o filho pela gravação de sua música Meu mundo é seu (parceria do compositor iniciante com Roberto Nascimento) - é exemplo da habilidade da exposição de retratar fatos públicos sob ótica íntima e pessoal. Mérito que torna a Ocupação Jards Macalé um programa imperdível. Entre na Macalândia e ocupe os espaços de Macalé!!

Unknown disse...

Grande e merecida exposição ao Jards Macalé que eu gosto tanto e sinto uma dificuldade enooooorme de encontrar sua discografia na praça. Com exceção do mercado lá fora, não temos muita coisa do Macalé em CD, aqui no Brasil são pouquíssimos dos discos antigos em CD. Eu não entendi como o disco de 1973, foi relançado em vinil e não em CD ?? Se a galerinha "indie" ta andando para trás e querendo modinha de vinil, eu e muita gente não tem nada a ver com isso. Viva a tecnologia e o som remastrizado, gravadoras priorizem a tecnologia e vamos olhar pra frente, assim como fizeram com o "Contrastes" (1977) que foi remasterizado e lançado em CD, depois de muita reza. Sem essa de Vinil, viva o CD e o som digital!

olhos vendados disse...

Então imagino que esse documentário do Escorel e Bressane esteja na mostra, rs. São imagens lindas! https://www.youtube.com/watch?v=35dJKQFokVQ