Mauro Ferreira no G1

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sábado, 21 de junho de 2014

Livro essencial clareia a manhã do rock brasileiro dos anos 1960 e 1970

Resenha de livro
Título: Histórias secretas do rock brasileiro
Autor: Nelio Rodrigues
Editora: Grupo 5W
Cotação: * * * * *

Desdobramento do terceiro livro de Nelio Rodrigues (Histórias perdidas do rock brasileiro vol. 1, de 2009), o recém-lançado Histórias secretas do rock brasileiro enriquece a bibliografia musical brasileira por ser documento que monta peças até então perdidas no quebra-cabeça da história do rock brasileiro dos anos 1960 e 1970. Até então, o que a bibliografia oficial do tema registrava (de forma por vezes superficial) era a pré-história que antecedeu a Jovem Guarda, o apogeu da Jovem Guarda (com Roberto Carlos e Erasmo Carlos à frente), o desbravamento do grupo paulista Os Mutantes - cuja obra é o marco zero do rock made in Brasil no mainstream - e, nos anos 1970, a militância de grupos eventuais como A Bolha e o Terço na cena underground enquanto Raul Seixas (1945 - 1989) e Rita Lee mantiveram erguidas no mainstream a bandeira do rock. Só que, como mostra Nelio neste livro essencial para o perfeito entendimento da evolução do rock brasileiro, essa história teve páginas até então suprimidas do livro oficial do universo pop nacional. Páginas escritas por bandas pioneiras como Analfabitles, Equipe Mercado, Módulo 1000 e Os Selvagens, entre muitos outros grupos que têm suas trajetórias (umas efêmeras, outras mais duradouras e heroicas) reconstituídas pelo livro de forma isolada, mas que, juntas, montam painel revelador da nativa cena roqueira. Ao desvendar a história secreta do rock brasileiro, Nelio Rodrigues repõe tais páginas no seu devido lugar com texto de tom objetivo, jornalístico, quase enciclopédico. A exposição de fotos e cartazes de shows ajuda a tornar críveis, na narrativa, as aventuras dessas bandas desbravadoras. Na parte I, Na onda do yeah yeah yeah, o livro traz à tona grupos que entraram em cena na primeira metade dos anos 1960 - na fase pré-Jovem Guarda - impulsionados pela revolução pop orquestrada, com altas doses de marketing, pelo grupo britânico The Beatles. São os casos dos cariocas Analfabitles e The Bubbles.  Na parte II, Na onda do iê iê iê, o livro enfoca bandas como Os Selvagens, grupo carioca que surgiu em 1965 - no embalo das tardes de domingo comandadas pelo rei da juventude Roberto Carlos - com mistura de rock com o pop propagado pela Jovem Guarda. Com narrativa estruturada em ordem cronológica, o livro Histórias secretas do rock brasileiro fica ainda mais saboroso quanto entra na cena alternativa dos anos 1970, marcada por desbunde e pela psicodelia de grupos como Módulo 1000. Enfim, para quem conhecer a história completa do rock brasileiro, a leitura do livro de Nelio Rodrigues é obrigatória - como enfatiza Luiz Sergio Nacinovic, o Guerra, crítico da primeira edição brasileira da revista Rolling Stone, no prefácio apaixonado intitulado O rock que eu não tinha esquecido. Como arremata Leo Jaime em seu posfácio, se rock brasileiro chegou em alto e bom som aos ouvidos de todo o Brasil a partir dos anos 1980, muito também se deve a esses operários que trabalharam anonimamente nos subterrâneos para a construção de uma cena e de uma identidade pop brasileira. Por isso mesmo, ao desvendar esses bem guardados segredos em livro que clareia a manhã do rock brasileiro por historiar sua nascente, Nelio Rodrigues presta (valioso) serviço à memória da música brasileira.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Desdobramento do terceiro livro de Nelio Rodrigues (Histórias perdidas do rock brasileiro vol. 1, de 2009), o recém-lançado Histórias secretas do rock brasileiro enriquece a bibliografia musical brasileira por ser documento que monta peças até então perdidas no quebra-cabeça da história do rock brasileiro dos anos 1960 e 1970. Até então, o que a bibliografia oficial do tema registrava (de forma por vezes superficial) era a pré-história que antecedeu a Jovem Guarda, o apogeu da Jovem Guarda (com Roberto Carlos e Erasmo Carlos à frente), o desbravamento do grupo paulista Os Mutantes - cuja obra é o marco zero do rock made in Brasil no mainstream - e, nos anos 1970, a militância de grupos eventuais como A Bolha e o Terço na cena underground enquanto Raul Seixas (1945 - 1989) e Rita Lee mantiveram erguidas no mainstream a bandeira do rock. Só que, como mostra Nelio neste livro essencial para o perfeito entendimento da evolução do rock brasileiro, essa história teve páginas até então suprimidas do livro oficial do universo pop nacional. Páginas escritas por bandas pioneiras como Analfabitles, Equipe Mercado, Módulo 1000 e Os Selvagens, entre muitos outros grupos que têm suas trajetórias (umas efêmeras, outras mais duradouras e heroicas) reconstituídas pelo livro de forma isolada, mas que, juntas, montam painel revelador da nativa cena roqueira. Ao desvendar a história secreta do rock brasileiro, Nelio Rodrigues repõe tais páginas no seu devido lugar com texto de tom objetivo, jornalístico, quase enciclopédico. A exposição de fotos e cartazes de shows ajuda a tornar críveis, na narrativa, as aventuras dessas bandas desbravadoras. Na parte I, Na onda do yeah yeah yeah, o livro traz à tona grupos que entraram em cena na primeira metade dos anos 1960 - na fase pré-Jovem Guarda - impulsionados pela revolução pop orquestrada, com altas doses de marketing, pelo grupo britânico The Beatles. São os casos dos cariocas Analfabitles e The Bubbles. Na parte II, Na onda do iê iê iê, o livro enfoca bandas como Os Selvagens, grupo carioca que surgiu em 1965 - no embalo das tardes de domingo comandadas pelo rei da juventude Roberto Carlos - com mistura de rock com o pop propagado pela Jovem Guarda. Com narrativa estruturada em ordem cronológica, o livro Histórias secretas do rock brasileiro fica ainda mais saboroso quanto entra na cena alternativa dos anos 1970, marcada por desbunde e pela psicodelia de grupos como Módulo 1000. Enfim, para quem conhecer a história completa do rock brasileiro, a leitura do livro de Nelio Rodrigues é obrigatória - como enfatiza Luiz Sergio Nacinovic, o Guerra, crítico da primeira edição brasileira da revista Rolling Stone, no prefácio apaixonado intitulado O rock que eu não tinha esquecido. Como arremata Leo Jaime em seu posfácio, se rock brasileiro chegou em alto e bom som aos ouvidos de todo o Brasil a partir dos anos 1980, muito também se deve a esses operários que trabalharam anonimamente nos subterrâneos para a construção de uma cena e de uma identidade pop brasileira. Por isso mesmo, ao desvendar esses bem guardados segredos em livro que clareia a manhã do rock brasileiro por historiar sua nascente, Nelio Rodrigues presta (valioso) serviço à memória da música brasileira.

Felipe dos Santos disse...

Mais não foi dito nem lhe foi perguntado, Mauro. É isso aí.

A importância dos subterrâneos do rock no Brasil entre os '60 e os '80 fica clara quando vemos que "aquilo" (Vímana, A Bolha) deu "nisso" (Lulu, Lobão, Ritchie, alas d'A Cor do Som, Herva Doce, Roupa Nova...).

Felipe dos Santos Souza

Felipe dos Santos disse...

Mais não foi dito nem lhe foi perguntado, Mauro. É isso aí.

A importância dos subterrâneos do rock no Brasil entre os '60 e os '80 fica clara quando vemos que "aquilo" (Vímana, A Bolha) deu "nisso" (Lulu, Lobão, Ritchie, alas d'A Cor do Som, Herva Doce, Roupa Nova...).

Felipe dos Santos Souza