♪ A paulistana Victoria Bonaiutti de Martino (22 de novembro de 1922 - 13 de junho de 2014) jamais coube no rótulo - já em si nobre - de cantora do rádio, por mais que vá ficar definitivamente associada ao universo passional dos auditórios da Rádio Nacional nos anos 1950. Como Marlene (o nome artístico que a eternizou na cena brasileira e que foi adotado no início da carreira profissional, em 1942), essa cantora que saiu hoje de cena - aos 91 anos, no Rio de Janeiro (RJ), cidade-sede de suas maiores glórias artísticas - transcendeu a era do rádio. Como cantora, Marlene caiu majestosamente bem no samba e animou muitos Carnavais. Mas também se exercitou nos palcos como atriz enquanto fazia shows teatrais, com carga dramática. Um de seus maiores êxitos no gênero, o show Te pego pela palavra (1974) foi roteirizado e dirigido por Hermínio Bello de Carvalho com nítida influência dos espetáculos criados por Fauzi Arap (1938 - 2013) para a cantora Maria Bethânia a partir de 1967. Influência natural, até porque, em 1969, Fauzi e Hermínio já criaram para Marlene show, É a maior!, que refinou o estilo teatral da intérprete. Como Bethânia, Marlene sabia fazer cena em cena. Podia ser - e foi - uma cantora dramática, mas também foi, acima de tudo, uma intérprete marcada pela alegria, pela ginga, pelo tom efusivo com que deu voz e vida a músicas como Tome polca (Luis Peixoto e José Maria de Abreu, 1950), Lata d'água (Jota Junior e Luiz Antônio, 1952), Zé Marmita (Brasinha e Luiz Antonio, 1953), Mora na Filosofia (Monsueto Menezes e Arnaldo Passos, 1955) e O apito no samba (Luiz Bandeira e Luiz Antônio, 1959) - todas gravadas na década de 1950, período áureo da discografia de Marlene e das polêmicas com Emilinha Borba (1923 - 2005), a colega carioca, cantora de rádio com quem viveu entre tapas e beijos, e de quem foi mais amiga do que rival, ainda que as lendas - alimentadas tanto pelos fãs quanto pelos marqueteiros da época - tenham inflado a disputa e a tornado muito mais séria do que efetivamente foi quando surgiu, em 1949, a partir de uma vitória comprada de Marlene no concurso de Rainha do rádio (compra de votos permitida pelo regulamento do concurso, diga-se). Como muitas cantoras da era efêmera do rádio, Marlene amargou período de ostracismo nos anos 1960. Mas, diferentemente de Emilinha e de outras colegas de sua geração musical, Marlene soube se reinventar em cena. Iniciada em 1968 com o espetáculo Carnavália, a virada estética da artista foi consolida no ano seguinte com o já mencionado show É a maior! (1969). Em 1973, um ano antes da consagração do espetáculo Te pego pela palavra, célebre montagem da peça Botequim - encenada com Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri (1934 - 2006), compositores parceiros na trilha sonora do espetáculo - reiterou o talento da atriz, intérprete de veia teatral que fez até novela na TV Globo (O amor é nosso!, fracasso de 1981). Intérprete que pegou crítica e público pela palavra forte, pela vitalidade, pela alegria e pela garra que não a deixou ficar presa ao seu passado radiofônico de glória. A multimídia Marlene sai hoje de cena, com a certeza de que foi mais do que uma cantora do rádio - rótulo nobre, mas redutor, no caso dessa reluzente estrela teatral dos palcos brasileiros.
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♪ A paulistana Victoria Bonaiutti de Martino (22 de novembro de 1922 - 13 de junho de 2014) jamais coube no rótulo - já em si nobre - de cantora do rádio, por mais que vá ficar definitivamente associada ao universo passional dos auditórios da Rádio Nacional nos anos 1950. Como Marlene (o nome artístico que a eternizou na cena brasileira e que foi adotado no início da carreira profissional, em 1942), essa cantora que saiu hoje de cena - aos 91 anos, no Rio de Janeiro (RJ), cidade-sede de suas maiores glórias artísticas - transcendeu a era do rádio. Como cantora, Marlene caiu majestosamente bem no samba e animou muitos Carnavais. Mas também se exercitou nos palcos como atriz enquanto fazia shows teatrais, com carga dramática. Um de seus maiores êxitos no gênero, o show Te pego pela palavra (1974) foi roteirizado e dirigido por Hermínio Bello de Carvalho com nítida influência dos espetáculos criados por Fauzi Arap (1938 - 2013) para a cantora Maria Bethânia a partir de 1971. Como Bethânia, Marlene sabia fazer cena em cena. Podia ser - e foi - uma cantora dramática, mas também foi, acima de tudo, uma intérprete marcada pela alegria, pela ginga, pelo tom efusivo com que deu voz e vida a músicas como Tome polca (Luis Peixoto e José Maria de Abreu, 1950), Lata d'água (Jota Junior e Luiz Antônio, 1952), Zé Marmita (Brasinha e Luiz Antonio, 1953), Mora na Filosofia (Monsueto Menezes e Arnaldo Passos, 1955) e O Apito no Samba (Luiz Bandeira e Luiz Antônio, 1959) - todas gravadas na década de 1950, período áureo da discografia de Marlene e das polêmicas com Emilinha Borba (1923 - 2005), a colega carioca, cantora de rádio com quem viveu entre tapas e beijos, e de quem foi mais amiga do que rival, ainda que as lendas - alimentadas tanto pelos fãs quanto pelos marqueteiros da época - tenham inflado a disputa e a tornado muito mais séria do que efetivamente foi quando surgiu, em 1949, a partir de uma vitória comprada de Marlene no concurso de Rainha do rádio (compra de votos permitida pelo regulamento do concurso, diga-se). Como muitas cantoras da era efêmera do rádio, Marlene amargou período de ostracismo nos anos 1960. Mas, diferentemente de Emilinha e de outras colegas de sua geração musical, Marlene soube se reinventar em cena. Iniciada em 1968 com o espetáculo Carnavália, a virada estética da artista foi consolida no ano seguinte com o show É a maior! (1969). Em 1973, um ano antes da consagração do espetáculo Te pego pela palavra, célebre montagem da peça Botequim - encenada com Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri (1934 - 2006), compositores parceiros na trilha sonora do espetáculo - reiterou o talento da atriz, intérprete de veia teatral que fez até novela na TV Globo (O amor é nosso!, fracasso de 1981). Intérprete que pegou crítica e público pela palavra, pela vitalidade, pela alegria e pela garra que não a deixou ficar presa ao seu passado radiofônico de glória. A multimídia Marlene sai hoje de cena, com a certeza de que foi mais do que uma cantora do rádio - rótulo que, embora nobre, é redutor no seu caso.
É A MAIOR!
É uma vergonha que nos últimos anos nenhuma gravadora no Brasil se dignou a graavr um novo disco dela. Só resta lamentar a falta de memória do povo brasileiro e o desinteresse e a falta de respeito dos chefões de gravadoras com a diva Marlene. Triste!!!
Que Deus a tenha em bom lugar e meus sentimentos à família! Vale lembrar que Marlene foi a primeira ou uma das primeiras cantoras a puxar um samba-enredo na avenida pelo Império Serrano.
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