Título: Teorias de Raul
Artista: Zezé Di Camargo & Luciano
Gravadora: Sony Music
Cotação: * *
Antes de se impor como cantor e compositor, ícone do rock brasileiro dos anos 1970, Raul Seixas (1945 - 1989) produziu discos de artistas rotulados como cafonas na mesma gravadora, então intitulada CBS, em que Zezé Di Camargo & Luciano ora lançam seu 23º álbum, Teorias de Raul. O que faz supor que o Maluco Beleza entenderia a jogada da dupla sertaneja. Golpe de marketing para chamar atenção para o disco lançado pela Sony Music neste mês de junho de 2014, o bizarro título Teorias do Raul nada tem a ver com o disco, embora o repertório traga música intitulada Teorias do Raul (Letal), parceria do produtor do álbum, Cesar Augusto, com Claudio Noam. Na prática, Teorias do Raul é mais um disco de Zezé Di Camargo & Luciano. Se existe uma novidade, é o fato de a dupla ter sido levada a adotar sonoridade mais moderninha, para ficar em sintonia com o atual momento do mercado sertanejo. Contudo, a dose de modernidade foi bem calculada para não desviar os irmãos goianos de seu trilho habitual. É nítida a influência do som mais pop da dupla rival, Victor & Leo, na orquestração de Flores em vida (Alberto Araújo e Felipe Duran) - faixa eleita o primeiro single do álbum por seu alto poder de sedução popular - e na levada de Pedaços de fotografia (Maracaí e Carlos Santana), por exemplo. De autoria de Gusttavo Lima, Se for pra judiar corrobora a intenção de atualizar o som da dupla - assim como Depende (Álvaro Socci e Leo Guima), faixa de arquitetura pop que traz a marca vocal do grupo carioca Roupa Nova, convidado da música. Em contrapartida, as quatro composições assinadas por Zezé Di Camargo em parceria com Danimar - Amor que alimenta (a que mais parece vocacionada para as paradas dentro do lote de inéditas autorais), Assim será nosso amor, Cumplicidade e Quando fica sem noção - sinalizam que, afinal, nada mudou tanto assim. Até porque sempre coube dentro do universo sertanejo da dupla uma faixa de sonoridade pop folk country como Coisas do amor (Bryan Adams, Eliot Kennedy em versão em português de Carlos Pinheiro e Jader Fran). Ou uma diluição como Nada é igual, versão de Cesar Augusto para o reggae I can see clearly now (Johnny Nash, 1972). Entre tantos temas de banalizado tom romântico, Seca verde (Dedé Badaró) se diferencia por cavucar a raiz dos problemas sociais que assolam o sertão nordestino e o Rio São Francisco - poeticamente conhecido como o Velho Chico - com arranjo que remete de longe ao universo caipira. Raul Seixas, que viveu a prática da feitura de discos populares, possivelmente daria o seu aval para as teorias de Zezé Di Camargo & Luciano.
5 comentários:
Antes de se impor como cantor e compositor, ícone do rock brasileiro dos anos 1970, Raul Seixas (1945 - 1989) produziu discos de artistas rotulados como cafonas na mesma gravadora, então intitulada CBS, em que Zezé Di Camargo & Luciano ora lançam seu 23º álbum, Teorias de Raul. O que faz supor que o Maluco Beleza entenderia a jogada da dupla sertaneja. Golpe de marketing para chamar atenção para o disco lançado pela Sony Music neste mês de junho de 2014, o bizarro título Teorias do Raul nada tem a ver com o disco, embora o repertório traga música intitulada Teorias do Raul (Letal), parceria do produtor do álbum, Cesar Augusto, com Claudio Noam. Na prática, Teorias do Raul é mais um disco de Zezé Di Camargo & Luciano. Se existe uma novidade, é o fato de a dupla ter sido levada a adotar sonoridade mais moderninha, para ficar em sintonia com o atual momento do mercado sertanejo. Contudo, a dose de modernidade foi bem calculada para não desviar os irmãos goianos de seu trilho habitual. É nítida a influência do som mais pop da dupla rival, Victor & Leo, na orquestração de Flores em vida (Alberto Araújo e Felipe Duran) - faixa eleita o primeiro single do álbum por seu alto poder de sedução popular - e na levada de Pedaços de fotografia (Maracaí e Carlos Santana), por exemplo. De autoria de Gusttavo Lima, Se for pra judiar corrobora a intenção de atualizar o som da dupla - assim como Depende (Álvaro Socci e Leo Guima), faixa de arquitetura pop que traz a marca vocal do grupo carioca Roupa Nova, convidado da música. Em contrapartida, as quatro composições assinadas por Zezé Di Camargo em parceria com Danimar - Amor que alimenta (a que mais parece vocacionada para as paradas dentro do lote de inéditas autorais), Assim será nosso amor, Cumplicidade e Quando fica sem noção - sinalizam que, afinal, nada mudou tanto assim. Até porque sempre coube dentro do universo sertanejo da dupla uma faixa de sonoridade pop folk country como Coisas do amor (Bryan Adams, Eliot Kennedy em versão em português de Carlos Pinheiro e Jader Fran). Ou uma diluição como Nada é igual, versão de Cesar Augusto para o reggae I can see clearly now (Johnny Cash, 1972). Entre tantos temas de banalizado tom romântico, Seca verde (Dedé Badaró) se diferencia por cavucar a raiz dos problemas sociais que assolam o sertão nordestino e o Rio São Francisco - poeticamente conhecido como o Velho Chico - com arranjo que remete de longe ao universo caipira. Raul Seixas, que viveu a prática da feitura de discos populares, possivelmente daria o seu aval para as teorias de Zezé Di Camargo & Luciano.
Eu como fã de sertanejo esperava pouco mais da dupla, que teve seu auge nos anos de 99, 2000 e 2001. Como você disse, a faixa título decepciona, igual a versão do Reagge de Jonny Nash. Mas acho que "Assim será o Nosso Amor", "Seca Verde", "Cumplicidade" ainda fazem lembrar do tempo em que se colocava o CD deles, ouvia-se e sentia-se a emoção que aquele momento nos proporcionava. Hoje, não é mais a mesma coisa.
"I can see clearly now" é de Johnny Nash, não Cash. ;-)
Obrigado, Lilian. Abs, MauroF
Enfim, um fã de sertanejo que sabe ler.
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