segunda-feira, 2 de junho de 2014

Sem unidade, 'Alexandre' diversifica e desanuvia som do grupo Mombojó

Resenha de CD
Título: Alexandre
Artista: Mombojó
Gravadora: Slap / Som Livre
Cotação: * * 1/2

Quarto álbum do Mombojó, Alexandre diversifica o som do grupo pernambucano no limite da esquizofrenia. Já disponível em edição digital, o disco tem a vantagem de desanuviar esse som, até então pautado por tensões detectadas em álbuns anteriores como Homem espuma (2006) e Amigo do tempo (2010). Com lançamento físico em CD programado para 12 de junho pelo selo Slap (braço indie da gravadora global Som Livre), Alexandre encara até um flerte com o pop em músicas como Diz o leão (Chiquinho, Felipe S., Marcelo Machado e Vicente Machado) - gravada com os vocais da cantora paulistana Céu - e a efusiva Rebuliço (Chiquinho, Felipe S., Marcelo Machado e Vicente Machado). Contudo, falta unidade ao repertório - já em si irregular, com poucas músicas boas - e ao álbum. Fica difícil encontrar qualquer ponto de contato entre uma canção de moldura acústica levada ao violão como Hortelã (Felipe S.) - de atmosfera tão zen que se ambientaria naturalmente em disco de Moreno Veloso - e temas eletrônicos como Hello (Felipe S., Samuel Vieira, China e Marcelo Machado) - construído com vozes e ruídos robóticos - e Ping pong beat (Chiquinho, Felipe S., Homero Basílio, Marcelo Machado e Vicente Machado), faixa instrumental, hábil ao reproduzir o movimento repetido de uma bola no jogo de ping pong. Produzido pelo próprio grupo com Rodrigo Sanches e Homero Basílio, Alexandre é o primeiro álbum gravado pelo Mombojó sem o baixista Samuel Vieira, que saiu da banda para se dedicar à carreira de ator, tendo sido substituído por Missionário José. Assim como o grupo foi sofrendo mutações ao longo de seus 14 anos de existência, o repertório de Alexandre - álbum gravado e mixado nos estúdios RootSans (SP), Totem (CE), Mundo Novo (PE) e Estúdio das Cavernas (PE) - atira para vários lados. Efeito da profusão de synths do CD, a textura sintética de faixas como Dance (Felipe S.) - tema repleto de camadas nas passagens instrumentais - até predomina no disco, mas as faixas não dão liga. O que há em Alexandre são alguns bons momentos que se impõem de forma isolada, sem conexão com o conceito fluido do disco, como o solo da guitarra de Yuri Queiroga na também sintética Me encantei por Rosário (Chiquinho, Marcelo Machado, Vicente Machado e Felipe S.). Cuidado, perigo! - tensa faixa de arquitetura sinfônica que ganha intensidade crescente e que conta com o baixo de Dengue, da Nação Zumbi - é o melhor dos bons momentos do álbum. Mote do disco, o improviso é perceptível nas densas passagens instrumentais da psicodélica Summer long (Chiquinho, Marcelo Machado, Vicente Machado, Felipe S. e Laetitia Sadier) - faixa bilíngue que tem versos em inglês na voz da francesa Laetitia Sadier, tecladista e vocalista da banda franco-alemã Stereolab, referência assumida do Mombojó - e disfarça a rala inspiração melódica do cancioneiro de Alexandre, cuja música-título é vinheta da lavra de Chiquinho. Grupo superestimado pela crítica desde o lançamento de seu primeiro álbum, Nadadenovo (2004), o Mombojó volta à cena com CD que insiste em deixar a impressão de que algo está fora da ordem no som da banda. "Há um defeito em mim / ... / Algo não soa bem.../ Um descompasso...", já entregam os versos de Rebuliço na abertura de Alexandre. É bem por aí!

6 comentários:

  1. Quarto álbum do Mombojó, Alexandre diversifica o som do grupo pernambucano no limite da esquizofrenia. Já disponível em edição digital, o disco tem a vantagem de desanuviar esse som, até então pautado por tensões detectadas em álbuns anteriores como Homem espuma (2006) e Amigo do tempo (2010). Com lançamento físico em CD programado para 12 de junho pelo selo Slap (braço indie da gravadora global Som Livre), Alexandre encara até um flerte com o pop em músicas como Diz o leão (Chiquinho, Felipe S., Marcelo Machado e Vicente Machado) - gravada com os vocais da cantora paulistana Céu - e a efusiva Rebuliço (Chiquinho, Felipe S., Marcelo Machado e Vicente Machado). Contudo, falta unidade ao repertório - já em si irregular, com poucas músicas boas - e ao álbum. Fica difícil encontrar qualquer ponto de contato entre uma canção de moldura acústica levada ao violão como Hortelã (Felipe S.) - de atmosfera tão zen que se ambientaria naturalmente em disco de Moreno Veloso - e temas eletrônicos como Hello (Felipe S., Samuel Vieira, China e Marcelo Machado) - construído com vozes e ruídos robóticos - e Ping pong beat (Chiquinho, Felipe S., Homero Basílio, Marcelo Machado e Vicente Machado), faixa instrumental, hábil ao reproduzir o movimento repetido de uma bola no jogo de ping pong. Produzido pelo próprio grupo com Rodrigo Sanches e Homero Basílio, Alexandre é o primeiro álbum gravado pelo Mombojó sem o baixista Samuel Vieira, que saiu da banda para se dedicar à carreira de ator, tendo sido substituído por Missionário José. Assim como o grupo foi sofrendo mutações ao longo de seus 14 anos de existência, o repertório de Alexandre - álbum gravado e mixado nos estúdios RootSans (SP), Totem (CE), Mundo Novo (PE) e Estúdio das Cavernas (PE) - atira para vários lados. Efeito da profusão de synths do CD, a textura sintética de faixas como Dance (Felipe S.) - tema repleto de camadas nas passagens instrumentais - até predomina no disco, mas as faixas não dão liga. O que há em Alexandre são alguns bons momentos que se impõem de forma isolada, sem conexão com o conceito fluido do disco, como o solo da guitarra de Yuri Queiroga na também sintética Me encantei por Rosário (Chiquinho, Marcelo Machado, Vicente Machado e Felipe S.). Cuidado, perigo! - tensa faixa de arquitetura sinfônica que ganha intensidade crescente e que conta com o baixo de Dengue, da Nação Zumbi - é o melhor dos bons momentos do álbum. Mote do disco, o improviso é perceptível nas densas passagens instrumentais da psicodélica Summer long (Chiquinho, Marcelo Machado, Vicente Machado, Felipe S. e Laetitia Sadier) - faixa bilíngue que tem versos em inglês na voz da francesa Laetitia Sadier, tecladista e vocalista da banda franco-alemã Stereolab, referência assumida do Mombojó - e disfarça a rala inspiração melódica do cancioneiro de Alexandre, cuja música-título é vinheta da lavra de Chiquinho. Grupo superestimado pela crítica desde o lançamento de seu primeiro álbum, Nadadenovo (2004), o Mombojó volta à cena com CD que insiste em deixar a impressão de que algo está fora da ordem no som da banda. "Há um defeito em mim / ... / Algo não soa bem.../ Um descompasso...", já entregam os versos de Rebuliço na abertura de Alexandre. É bem por aí!

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  2. Essa banda baiana realmente é muito fraca. :-)

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  4. Não sou fã do Mombojó, mas gostei deste disco; me agradou bem mais que o "Coisa Boa", do Moreno Veloso (disco bem estimado pela crítica, mas bem caidinho) e o "Nação Zumbi", no qual nem o pop salvou o Jorge Du Peixe, esse sim, de atirar seu canto pra tudo quanto é lado.

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  5. Du Peixe tá cantando super bem, Raffa.
    Pena que eles resolveram diluir o som da Nação.

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  6. Ah Zé, não sei... quando ouço a Nação, me vem a impressão que o vocalista conheceu as músicas na hora que as gravou, de tão fracas que são as modulações deste.

    Concordo contigo quanto à diluição do som, mas ainda o melhor da Nação é a banda; se fosse instrumental, ia ser lindo!

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