Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 24 de junho de 2014

Skylab prioriza a canção em 'Melancolia e Carnaval' com beleza estranha

Resenha de CD
Título: Melancolia e Carnaval
Artista: Rogerio Skylab
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2

Rogerio Skylab sempre transitou pelo dark side da cena indie carioca com série de discos pautados por humor negro e escatologia. Mesmo de forma menos explícita, a estranheza que sempre norteia a obra fonográfica do cantor, compositor, músico e poeta está preservada em Melancolia e Carnaval, segundo título de trilogia de álbuns que priorizam a canção em seu formato mais tradicional. Sucessor de Abismo e Carnaval (Independente, 2012), Melancolia e Carnaval extrai beleza justamente do equilíbrio entre a tradição (a forma em si da canção, delineada pelo toque do violão, instrumento proeminente no CD) e o inusitado (a atmosfera das letras e do disco, gravado sob a direção musical do violonista Luiz Antônio Gomes, autor dos arranjos). E o fato é que, sim, há belezas estranhas embutidas em canções como Eu corroPalavras são voláteisElegante, decadente - música que se destaca no repertório autoral e que foi gravada com a voz do cantor e compositor paulista Romulo Fróes - e Cogito, única composição não assinada somente por Skylab, já que os versos (musicados pelo artista) são do tropicalista Torquatro Neto (1944 - 1972), poeta carioca que viveu na medida de suas (im)possibilidades. Parceiro de Torquato, Jards Macalé canta e toca violão na faixa. Mesmo que a construção da canção se evidencie eventualmente frágil, como no simplista samba Aqui todo mundo é preto, Melancolia e Carnaval se sustenta no todo, reverberando achados melódicos de compositores como João Donato, cuja composição Lugar comum (letrada e lançada em 1974 por Gilberto Gil) tem sua arquitetura reutilizada na base de Beira do cais. "Ninguém é de ninguém", sentencia Skylab em verso de Tudo é tão deprê.  No fim, o samba Vamos esquecer ecoa a obra de Baden Powell (1937 - 2000) com Vinicius de Moraes (1913-1980) nas vozes da Velha Guarda da Mangueira. Rogerio Skylab ainda é sujeito estranho.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Rogerio Skylab sempre transitou pelo dark side da cena indie carioca com série de discos pautados por humor negro e escatologia. Mesmo de forma menos explícita, a estranheza que norteia a obra fonográfica do cantor, compositor, músico e poeta está preservada em Melancolia e Carnaval, segundo título de trilogia de álbuns que priorizam a canção em seu formato mais tradicional. Sucessor de Abismo e Carnaval (Independente, 2012), Melancolia e Carnaval extrai beleza justamente do equilíbrio entre a tradição (a forma em si da canção, delineada pelo toque do violão, instrumento proeminente no CD) e o inusitado (a atmosfera das letras e do disco, gravado sob a direção musical do violonista Luiz Antônio Gomes, autor dos arranjos). E o fato é que há belezas estranhas embutidas em canções como Eu corro, Palavras são voláteis, Elegante, decadente - música que se destaca no repertório autoral e que foi gravada com a voz do cantor e compositor paulista Romulo Fróes - e Cogito, única composição não assinada somente por Skylab, já que os versos (musicados pelo artista) são do tropicalista Torquatro Neto (1944 - 1972), poeta carioca que viveu na medida de suas (im)possibilidades. Parceiro de Torquato, Jards Macalé canta e toca violão na faixa. Mesmo que a construção da canção se evidencie eventualmente frágil, como no simplista samba Aqui todo mundo é preto, Melancolia e Carnaval se sustenta no todo, reverberando achados melódicos de compositores como João Donato, cuja composição Lugar comum (letrada e lançada em 1974 por Gilberto Gil) tem sua arquitetura reutilizada na base de Beira do cais. "Ninguém é de ninguém", sentencia Skylab em verso de Tudo é tão deprê. No fim, o samba Vamos esquecer ecoa a obra de Baden Powell (1937 - 2000) com Vinicius de Moraes (1913-1980) nas vozes da Velha Guarda da Mangueira. Rogerio Skylab ainda é sujeito estranho.