Título: Passado de glória - Monarco 80 anos
Artista: Monarco
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * *
O álbum de inéditas ora lançado por Hildmar Diniz, o Monarco, para festejar com atraso seus 80 anos de vida - completados em agosto de 2013 - é grande o suficiente para manter inalterado o status do cantor e compositor carioca no mundo do samba. Integrante da Velha Guarda da Portela, grupo de veteranos da escola de samba do qual Monarco é líder desde 1995, o artista é símbolo vivo de um samba mais nobre e poético, feito à moda antiga. Gravado com patrocínio obtido pelo edital do projeto Natura Musical, o CD Passado de glória - Monarco 80 anos alicerça as tradições desse samba que pulsa - ou pelo menos pulsava - nas quadras e terreiros, alheios a modismos e modernismos. Revelado aos 37 anos no primeiro disco da Velha Guarda da Portela, lançado em 1970, Monarco apresentou seu primeiro álbum solo em 1974. Decorridos 40 anos, o compositor ainda tira coelhos da cartola e renova seu reinado neste álbum de repertório composto somente por sambas inéditos, feitos em várias épocas, com parceiros de diversas gerações. Aos 80 anos, a voz do cantor já perdeu parte da potência e do viço, mas ainda se impõe. Tanto que o excesso de convidados do disco - produzido pelo compositor e cavaquinista Mauro Diniz, filho de Monarco - é o único traço incômodo de Passado de glória. Embora o título sugira se tratar de projeto retrospectivo, o álbum evoca o passado somente na formatação dos sambas. O repertório - até então nunca registrado em disco - renova o cancioneiro de Monarco pelo total ineditismo dos 13 sambas colhidos no baú fundo do artista (visto na capa do disco no traço do artista Mello Menezes). São sambas de terreiro, em sua maioria. Ou sambas de quadra - como também se rotulava antigamente os sambas produzidos fora da temporada carnavalesca. Embora uns sejam mais inspirados do que outros, todos trazem o d.n.a. da nobreza do samba. O mais bonito, Tristonha saudade (Monarco), tem sua interpretação dividida por Monarco com Beth Carvalho, a cantora que, embora apaixonada mangueirense, sempre deu voz e aval aos compositores da Velha Guarda da Portela. Louvação à natureza, Estação primaveril (Quininho e Monarco) é outro samba que se destaca pela beleza melódica. O tempo de delicadeza da faixa se ajusta ao estado atual da voz de Marisa Monte, já sem os tons gloriosos do passado. Da parceria com o luso-carioca Alcino Correia Ferreira (1948 - 2010), o Ratinho, Monarco apresenta Verifica-se de fato e Pobre passarinho, sambas gravados em dueto com Zeca Pagodinho - intérprete de Vai vadiar (1998), o maior sucesso da parceria de Monarco e Ratinho - e com a neta Juliana Diniz, respectivamente. Pela temática comportamental, Verifica-se de fato se alinha no repertório com outros dois sambas, Fingida (Monarco) e Insensata e rude (Monarco e Mauro Diniz), que denotam tendência machista dos sambistas da linhagem de Monarco no trato e na conceituação da mulher que sai do tom idealizado pelos compositores. Fingida tem o mérito de propagar o convidado Tuco Pellegrino, sambista paulistano que tem chamado atenção da nata carioca pelo conhecimento que tem dos sambas de terreiro produzidos nos anos 1940 e 1950. Trunfo que já o faz ser comparado a Cristina Buarque, outra conhecedora do baú do samba carioca cuja presença em Momentos emocionais (Monarco) soa perfeitamente natural. Samba composto na década de 1950, Não reclame pastorinha versa sobre universo portelense - assim como A grande vitória, grande samba que sonha com dias melhores para a escola de samba de Monarco e de Diogo Nogueira, convidado da faixa. A atmosfera portelense também rodeia Meu criador (Monarco e Mijinha), samba de terreiro dos anos 1950, gravado com Marquinhos Diniz - outro filho de Monarco - e com a Velha Guarda da Portela. Gravitando em torno de universo familiar para Monarco, o disco apresenta dois sambas compostos e cantados pelo artista com seu filho Mauro Diniz, Horas de meditação (menos sedutor no confronto com outros sambas do CD) e o já mencionado Insensata e rude. A presença afetiva dos netos João Matheus Diniz e Thereza Beatriz Diniz - recrutados para pôr suas vozes mirins em Crioulinho sabu, samba feito por Monarco aos oito anos - reforça o vínculo familiar no qual se baseia o disco. Por fim, Poeta apaixonado - creditado a Monarco e a Mário Lago (1911 - 2002) por ter sido letrado com inspiração em versos de letras escritas de Lago - não faz jus ao status de abrir o disco, mas nem por isso diminui Passado de glória - Monarco 80 anos, grande disco que mostra que Monarco - já perto de festejar seus 81 anos de vida - ainda impera no terreiro.
5 comentários:
O álbum de inéditas ora lançado por Hildmar Diniz, o Monarco, para festejar com atraso seus 80 anos de vida - completados em agosto de 2013 - é grande o suficiente para manter inalterado o status do cantor e compositor carioca no mundo do samba. Integrante da Velha Guarda da Portela, grupo de veteranos da escola de samba do qual Monarco é líder desde 1995, o artista é símbolo vivo de um samba mais nobre e poético, feito à moda antiga. Gravado com patrocínio obtido pelo edital do projeto Natura Musical, o CD Passado de glória - Monarco 80 anos alicerça as tradições desse samba que pulsa - ou pelo menos pulsava - nas quadras e terreiros, alheios a modismos e modernismos. Revelado aos 37 anos no primeiro disco da Velha Guarda da Portela, lançado em 1970, Monarco apresentou seu primeiro álbum solo em 1974. Decorridos 40 anos, o compositor ainda tira coelhos da cartola e renova seu reinado neste álbum de repertório composto somente por sambas inéditos, feitos em várias épocas, com parceiros de diversas gerações. Aos 80 anos, a voz do cantor já perdeu parte da potência e do viço, mas ainda se impõe. Tanto que o excesso de convidados do disco - produzido pelo compositor e cavaquinista Mauro Diniz, filho de Monarco - é o único traço incômodo de Passado de glória. Embora o título sugira se tratar de projeto retrospectivo, o álbum evoca o passado somente na formatação dos sambas. O repertório - até então nunca registrado em disco - renova o cancioneiro de Monarco pelo total ineditismo dos 13 sambas colhidos no baú fundo do artista (visto na capa do disco no traço do artista Mello Menezes). São sambas de terreiro, em sua maioria. Ou sambas de quadra - como também se rotulava antigamente os sambas produzidos fora da temporada carnavalesca. Embora uns sejam mais inspirados do que outros, todos trazem o d.n.a. da nobreza do samba. O mais bonito, Tristonha saudade (Monarco), tem sua interpretação dividida por Monarco com Beth Carvalho, a cantora que, embora apaixonada mangueirense, sempre deu voz e aval aos compositores da Velha Guarda da Portela. Louvação à natureza, Estação primaveril (Quininho e Monarco) é outro samba que se destaca pela beleza melódica. O tempo de delicadeza da faixa se ajusta ao estado atual da voz de Marisa Monte, já sem os tons gloriosos do passado.
Da parceria com o luso-carioca Alcino Correia Ferreira (1948 - 2010), o Ratinho, Monarco apresenta Verifica-se de fato e Pobre passarinho, sambas gravados em dueto com Zeca Pagodinho - intérprete de Vai vadiar (1998), o maior sucesso da parceria de Monarco e Ratinho - e com a neta Juliana Diniz, respectivamente. Pela temática comportamental, Verifica-se de fato se alinha no repertório com outros dois sambas, Fingida (Monarco) e Insensata e rude (Monarco e Mauro Diniz), que denotam tendência machista dos sambistas da linhagem de Monarco no trato e na conceituação da mulher que sai do tom idealizado pelos compositores. Fingida tem o mérito de propagar o convidado Tuco Pellegrino, sambista paulistano que tem chamado atenção da nata carioca pelo conhecimento que tem dos sambas de terreiro produzidos nos anos 1940 e 1950. Trunfo que já o faz ser comparado a Cristina Buarque, outra conhecedora do baú do samba carioca cuja presença em Momentos emocionais (Monarco) soa perfeitamente natural. Samba composto na década de 1950, Não reclame pastorinha versa sobre universo portelense - assim como A grande vitória, grande samba que sonha com dias melhores para a escola de samba de Monarco e de Diogo Nogueira, convidado da faixa. A atmosfera portelense também rodeia Meu criador (Monarco e Mijinha), samba de terreiro dos anos 1950, gravado com Marquinhos Diniz - outro filho de Monarco - e com a Velha Guarda da Portela. Gravitando em torno de universo familiar para Monarco, o disco apresenta dois sambas compostos e cantados pelo artista com seu filho Mauro Diniz, Horas de meditação (menos sedutor no confronto com outros sambas do CD) e o já mencionado Insensata e rude. A presença afetiva dos netos João Matheus Diniz e Thereza Beatriz Diniz - recrutados para pôr suas vozes mirins em Crioulinho sabu, samba feito por Monarco aos oito anos - reforça o vínculo familiar no qual se baseia o disco. Por fim, Poeta apaixonado - creditado a Monarco e a Mário Lago (1911 - 2002) por ter sido letrado com inspiração em versos de letras escritas de Lago - não faz jus ao status de abrir o disco, mas nem por isso diminui Passado de glória - Monarco 80 anos, grande disco que mostra que Monarco - já perto de festejar seus 81 anos de vida - ainda impera no terreiro.
Clamo para que esse disco não fique restrito apenas à crítica especializada e seja lançado com distribuição nacional.
O cd Baú de Dona Ivone e Bodas de Coral no Samba Brasileiro são dois que eu procuro em TODO lugar e não encontro.
Acho uma LÁSTIMA esses discos produzidos de forma independente e relegados ao ostracismo sem ao menos disponibilizarem aos ouvidos dos amantes do gênero (sei que pode ser baixado, mas refiro-me a título de colecionador).
Que venha Monarco com seu samba MAIÚSCULO! Alô Discobertas! Alô Zecapagodiscos! Alô Marisa Monte/Phonomotor!
Discos independentes a gente deve correr logo pra comprar, porque rapidamente somem.
O negócio é saber aonde vendem!
Postar um comentário