Mauro Ferreira no G1

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domingo, 27 de julho de 2014

João Donato toca jazz à brasileira no CD ao vivo com que festeja 80 anos

Resenha de CD
Título: Live jazz in Rio vol. 1 - O couro tá comendo!
Artista: João Donato
Gravadora: Discobertas / Acre Musical
Cotação: * * * 1/2

O título Live jazz in Rio é claro. O CD duplo ao vivo comemorativo dos 80 anos de João Donato é um dos títulos mais jazzísticos da discografia deste compositor e pianista acriano. Até há no volume 1, O couro tá comendo!, espaço para eventuais canções como Quando a lembrança me vem, parceria de Donato com Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) que remete ao romantismo dos anos 1950. Contudo, em essência, o disco duplo - que reproduz 25 números do show captado em 4 de dezembro de 2013 na extinta casa carioca Studio RJ e realizado dentro do Festival Jazzmania 30 anos - toca jazz à brasileira, como fica nítido logo na primeira das 13 faixas do volume 1, Cala boca, menino (Dorival Caymmi, 1973). Ao piano, instrumento com o qual trilhou caminhos modernos que também contribuíram para a revolução estética encabeçada por João Gilberto em 1958, Donato interage com o baterista Robertinho Silva, o baixista Luiz Alves e o saxofonista (e flautista) Ricardo Pontes. A propósito, Pontes ajuda a soprar a latinidade que pauta a recriação de Nasci para bailar (João Donato e Paulo André Barata, 1982) e o próprio cancioneiro de Donato. Cantor sem dotes, mas que dá seu recado em cena, o músico dá a voz que tem a músicas como Bananeira (João Donato e Gilberto Gil), Emoriô (João Donato e Gilberto Gil, 1975) - números no qual se percebe a interação entre público e artista - e Até quem sabe (João Donato e Lysias Ênio, 1973). Mas é quando abre mão de letras e cai no seu suingue particular - como em O sapo (The frog) (João Donato, 1968), apresentado com vocalises, como veio ao mundo, antes de virar A rã pelos versos de Caetano Veloso, lançados em 1974 na voz de Gal Costa - que Donato parece mais livre como o jazz exercitado em instrumentais temas autorais como Malandro (João Donato, 1970) e em abordagens de temas de influentes jazzistas como o pianista norte-americano Horace Silver e o trompetista norte-americano Shorty Rodgers, de cujas obras Donato rebobina Song for my father (1965) e Paradise found, respectivamente - músicas já presentes na discografia anterior do artista por seu grau de intimidade com os temas. Contudo, no toque do piano de João Donato, tudo soa sempre novo, quase como se ele estivesse tocando suas músicas pela primeira vez. Essa, aliás, é a essência do jazz: a liberdade de refazer ao vivo algo que vai soar como novo, mesmo que o repertório seja quase sempre antigo. Donato também é sinônimo de jazz à moda brasileira. Live jazz in Rio é um novo velho bom CD de João Donato.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

O título Live jazz in Rio é claro. O CD duplo ao vivo comemorativo dos 80 anos de João Donato é um dos títulos mais jazzísticos da discografia deste compositor e pianista acriano. Até há no volume 1, O couro tá comendo!, espaço para eventuais canções como Quando a lembrança me vem, parceria de Donato com Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) que remete ao romantismo dos anos 1950. Contudo, em essência, o disco duplo - que reproduz 25 números do show captado em 4 de dezembro de 2013 na extinta casa carioca Studio RJ e realizado dentro do Festival Jazzmania 30 anos - toca jazz à brasileira, como fica nítido logo na primeira das 13 faixas do volume 1, Cala boca, menino (Dorival Caymmi, 1973). Ao piano, instrumento com o qual trilhou caminhos modernos que também contribuíram para a revolução estética encabeçada por João Gilberto em 1958, Donato interage com o baterista Robertinho Silva, o baixista Luiz Alves e o saxofonista (e flautista) Ricardo Pontes. A propósito, Pontes ajuda a soprar a latinidade que pauta a recriação de Nasci para bailar (João Donato e Paulo André Barata, 1982) e o próprio cancioneiro de Donato. Cantor sem dotes, mas que dá seu recado em cena, o músico dá a voz que tem a músicas como Bananeira (João Donato e Gilberto Gil), Emoriô (João Donato e Gilberto Gil, 1975) - números no qual se percebe a interação entre público e artista - e Até quem sabe (João Donato e Lysias Ênio, 1973). Mas é quando abre mão de letras e cai no seu suingue particular - como em O sapo (The frog) (João Donato, 1968), apresentado com vocalises, como veio ao mundo, antes de virar A rã pelos versos de Caetano Veloso, lançados em 1974 na voz de Gal Costa - que Donato parece mais livre como o jazz exercitado em instrumentais temas autorais como Malandro (João Donato, 1970) e em abordagens de temas de influentes jazzistas como o pianista norte-americano Horace Silver e o trompetista norte-americano Shorty Rodgers, de cujas obras Donato rebobina Song for my father (1965) e Paradise found, respectivamente - músicas já presentes na discografia anterior do artista por seu grau de intimidade com os temas. Contudo, no toque do piano de João Donato, tudo soa sempre novo, quase como se ele estivesse tocando suas músicas pela primeira vez. Essa, aliás, é a essência do jazz: a liberdade de refazer ao vivo algo que vai soar como novidade, mesmo que o repertório seja quase sempre antigo. João Donato também é sinônimo de jazz à moda brasileira.