Mauro Ferreira no G1

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domingo, 20 de julho de 2014

Livro 'Fama & loucura' flagra estrelas do universo pop sem a maquiagem

Resenha de livro
Título: Fama & loucura - Entrevistas censuradas com os maiores artistas do planeta
Autor: Neil Strauss
Editora: BestSeller
Cotação: * * * *

O título da tardia edição brasileira do livro lançado por Neil Strauss em 2011, Fama & loucura - Entrevistas censuradas com os maiores artistas do planeta, beira o sensacionalismo e é injusto com o conteúdo das 542 páginas do livro originalmente editado nos Estados Unidos com o título Everybody loves you when you're dead. Jornalista especializado em música, com muitas críticas e entrevistas publicadas em poderosos veículos norte-americanos como a revista Rolling Stone e o jornal The New York times, Strauss alinha no livro - recém-editado no Brasil pela editora BestSeller - entrevistas e fragmentos de conversas com estrelas do universo pop. Papos regados a doses altas de sinceridade que, por flagrar tais estrelas sem a maquiagem habitualmente usada no contato tenso com a mídia, acabaram paradoxalmente recusados por editores comprometidos com a indústria e / ou proibidos por atentos assessores de imprensa. A matéria-prima de Fama & Loucura são os trechos não publicados das entrevistas. “Atirei com Ludacris, fui sequestrado por Courtney Love, fiz Lady Gaga chorar, comprei Pampers com Snoop Dogg, saí para beber com Bruce Springsteen, tentei impedir o Mötley Crue de ser preso, recebi lições sobre cientologia de Tom Cruise, andei de helicóptero com Madonna, aprendi a ler mentes com a CIA, entrei em uma hidromassagem com Marylin Manson, fui repreendido por Prince e coloquei Christina Aguilera pra dormir. Esse é o meu trabalho”, resume Strauss na abertura do livro. Por entrelaçar e picotar as entrevistas (ou tentativas de), o livro exige do leitor alta dose de concentração para acompanhar narrativa tão efervescente quanto o universo pop. Mas a leitura é bem recompensadora para quem desconhece a engrenagem que sustenta a indústria da música. Uma indústria que "devora seus jovens", como ressalta Cher para Strauss, e que normalmente exige jogo de cintura para que repórteres e críticos saibam lidar com pressões e reações de estrelas egoicas (ao fim de uma entrevista, a cantora norte-americana Dolly Parton ameaça bater na cabeça de Strauss como um "filhote de cachorro" se a entrevista feita com ela não for publicada conforme seu gosto). Os críticos, em especial, são alvos de amores e ódios dos criticados. Strauss revela que já foi xingado por Phil Collins por conta de avaliação negativa de show do cantor britânico. "O problema é que, quando estamos nervosos, ficamos presunçosos", relativiza Bono para Strauss, após conversa iniciada por conta de crítica (positiva, no geral) a um álbum do grupo U2.  Em contrapartida, o autor também mostra os podres do outro lado e escancara a hipocrisia burguesa que rege a edição de críticas de música no jornal The New York Times ao relatar conversas com copidesques, jornalistas encarregados de enquadrar seus textos dentro do padrão do jornal, cortando todo termo que considera obsceno. Em essência, Neil Strauss descortina os bastidores e expõe a estrutura interna que mantém armado o circo pop. E o relato pungente dos trágicos dias finais de Paul Nelson - pioneiro crítico norte-americano - fecha o livro com a moral (não explicitada, mas subentendida) de que, com o tempo, a indústria da música devora tudo e todos. Mas - como sentencia o título da edição original do livro -  todo mundo ama você quando você está morto...

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O título da tardia edição brasileira do livro lançado por Neil Strauss em 2011, Fama & loucura - Entrevistas censuradas com os maiores artistas do planeta, beira o sensacionalismo e é injusto com o conteúdo das 542 páginas do livro originalmente editado nos Estados Unidos com o título Everybody loves you when you're dead. Jornalista especializado em música, com muitas críticas e entrevistas publicadas em poderosos veículos norte-americanos como a revista Rolling Stone e o jornal The New York times, Strauss alinha no livro - recém-editado no Brasil pela editora BestSeller - entrevistas e fragmentos de conversas com estrelas do universo pop. Papos regados a doses altas de sinceridade que, por flagrar tais estrelas sem a maquiagem habitualmente usada no contato tenso com a mídia, acabaram paradoxalmente recusados por editores comprometidos com a indústria e / ou proibidos por atentos assessores de imprensa. A matéria-prima de Fama & Loucura são os trechos não publicados das entrevistas. “Atirei com Ludacris, fui sequestrado por Courtney Love, fiz Lady Gaga chorar, comprei Pampers com Snoop Dogg, saí para beber com Bruce Springsteen, tentei impedir o Mötley Crue de ser preso, recebi lições sobre cientologia de Tom Cruise, andei de helicóptero com Madonna, aprendi a ler mentes com a CIA, entrei em uma hidromassagem com Marylin Manson, fui repreendido por Prince e coloquei Christina Aguilera pra dormir. Esse é o meu trabalho”, resume Strauss na abertura do livro. Por entrelaçar e picotar as entrevistas (ou tentativas de), o livro exige do leitor alta dose de concentração para acompanhar narrativa tão efervescente quanto o universo pop. Mas a leitura é bem recompensadora para quem desconhece a engrenagem que sustenta a indústria da música. Uma indústria que "devora seus jovens", como ressalta Cher para Strauss, e que normalmente exige jogo de cintura para que repórteres e críticos saibam lidar com pressões e reações de estrelas egoicas (ao fim de uma entrevista, a cantora norte-americana Dolly Parton ameaça bater na cabeça de Strauss como um "filhote de cachorro" se a entrevista feita com ela não for publicada conforme seu gosto). Os críticos, em especial, são alvos de amores e ódios dos criticados. Strauss revela que já foi xingado por Phil Collins por conta de avaliação negativa de show do cantor britânico. "O problema é que, quando estamos nervosos, ficamos presunçosos", relativiza Bono para Strauss, após conversa iniciada por conta de crítica (positiva, no geral) a um álbum do grupo U2. Em contrapartida, o autor também mostra os podres do outro lado e escancara a hipocrisia burguesa que rege a edição de críticas de música no jornal The New York Times ao relatar conversas com copidesques, jornalistas encarregados de enquadrar seus textos dentro do padrão do jornal, cortando todo termo que considera obsceno. Em essência, Neil Strauss descortina os bastidores e expõe a estrutura interna que mantém armado o circo pop. E o relato pungente dos trágicos dias finais de Paul Nelson - pioneiro crítico norte-americano - fecha o livro com a moral (não explicitada, mas subentendida) de que, com o tempo, a indústria da música devora tudo e todos. Mas - como sentencia o título da edição original do livro - todo mundo ama você quando você está morto...

Eduardo disse...

Ótima resenha, daquelas que realmente nos inspiram a comprar e ler o livro. Parabéns!