sexta-feira, 4 de julho de 2014

Trilha reafirma a maestria de Chico na cena ao condensar seus musicais

Resenha de CD
Título: Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos - Trilha sonora do musical
Artista: vários
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

A rigor, tal como o espetáculo de Charles Möeller & Claudio Botelho, o disco duplo com a trilha sonora do musical também extrapola o tempo regulamentar sugerido pelo título. Em vez de 90 minutos, as 40 faixas dos dois CDs totalizam 101 minutos e quatro segundos. Tempo mais do que suficiente para o álbum Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos reafirmar a maestria do compositor carioca na criação de temas para a cena. E, embora nem todo mundo se dê conta da dimensão dessa obra, parte expressiva do cancioneiro de Chico Buarque foi composta para trilhas sonoras de filmes, musicais de teatro e balés. Sucesso do teatro carioca no primeiro semestre de 2014, Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos vai chegar a São Paulo (SP) neste segundo semestre com recorte expressivo dessa obra e  já com a trilha sonora disponibilizada em CD. Não se trata de gravação o ao vivo. O elenco do musical foi ao estúdio da gravadora Biscoito Fino fazer o registro das 44 músicas, reproduzidas no CD na ordem e no tom com que entram em cena neste espetáculo que entrelaça músicas de várias trilhas de Chico na costura de narrativa original. No todo, o elenco é afinado, embora no disco, como no palco, fique evidente que uma ou outra música - como Terezinha (Chico Buarque, 1977), canção da Ópera do malandro confiada a Estrela Blanco - carece de intérpretes mais calejados. As vozes mais expressivas do elenco são as do trio feminino formado por Lilian Valeska, Malu Rodrigues e Soraya Ravenle. Cantora admirada pelo público que frequenta os musicais cariocas, Valeska tem seus grandes momentos ao dar voz a Funeral de um lavrador (Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto, 1965 – tema da peça Morte e vida Severina) e a Palavra de mulher (Chico Buarque, 1985 – tema do filme A ópera do malandro). Já Malu evidencia a beleza de seu timbre já no número que abre o musical e o disco, O circo místico (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983). Valente, Soraya jamais se intimida com o fato de ter que encarar Não sonho mais (Chico Buarque, 1979 – tema do filme República dos assassinos), Gota d’água (Chico Buarque, 1975 - tema da peça Gota d'água) e Vida (Chico Buarque, 1980 – tema da peça Geni), músicas densas para sempre identificadas com às vozes dramáticas de Elba Ramalho, Bibi Ferreira e Maria Bethânia. Cabe ainda a Soraya desvirginar Invicta (Chico Buarque, 1989), tema composto para a peça Suburbano coração que parecia ter caído em absoluto esquecimento até ser revivido no espetáculo da dupla Möeller & Botelho. E por falar nos diretores, é fato que, ouvidas fora da cena, sem os recursos criados pela dupla na concepção do musical, algumas músicas têm diluído no disco seu poder de sedução. É o caso, sobretudo, da lúdica Ciranda da bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983 – tema do balé O grande circo místico), realçada em cena por graciosa teatralidade orquestrada por Möeller e Botelho para o número. Seja como for, paira sobre todas as coisas a maestria de Chico Buarque na composição dos temas reunidos no disco. Música e letra sempre se ajustam com perfeição. Se a obra musical do carioca já setentão se resumisse às 44 músicas do disco duplo, lançadas entre 1965 e 1989, esse cancioneiro teatral já seria suficiente para pôr Chico Buarque de Hollanda no primeiro time dos criadores da música popular do Brasil.

3 comentários:

  1. A rigor, tal como o espetáculo de Charles Möeller & Claudio Botelho, o disco duplo com a trilha sonora do musical também extrapola o tempo regulamentar sugerido pelo título. Em vez de 90 minutos, as 40 faixas dos dois CDs totalizam 101 minutos e quatro segundos. Tempo mais do que suficiente para o álbum Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos reafirmar a maestria do compositor carioca na criação de temas para a cena. E, embora nem todo mundo se dê conta da dimensão dessa obra, parte expressiva do cancioneiro de Chico Buarque foi composta para trilhas sonoras de filmes, musicais de teatro e balés. Sucesso do teatro carioca no primeiro semestre de 2014, Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos vai chegar a São Paulo (SP) neste segundo semestre com recorte expressivo dessa obra e já com a trilha sonora disponibilizada em CD. Não se trata de gravação o ao vivo. O elenco do musical foi ao estúdio da gravadora Biscoito Fino fazer o registro das 44 músicas, reproduzidas no CD na ordem e no tom com que entram em cena neste espetáculo que entrelaça músicas de várias trilhas de Chico na costura de narrativa original. No todo, o elenco é afinado, embora no disco, como no palco, fique evidente que uma ou outra música - como Terezinha (Chico Buarque, 1977), canção da Ópera do malandro confiada a Estrela Blanco - carece de intérpretes mais calejados. As vozes mais expressivas do elenco são as do trio feminino formado por Lilian Valeska, Malu Rodrigues e Soraya Ravenle. Cantora admirada pelo público que frequenta os musicais cariocas, Valeska tem seus grandes momentos ao dar voz a Funeral de um lavrador (Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto, 1965 – tema da peça Morte e vida Severina) e a Palavra de mulher (Chico Buarque, 1985 – tema do filme A ópera do malandro). Já Malu evidencia a beleza de seu timbre já no número que abre o musical e o disco, O circo místico (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983). Valente, Soraya jamais se intimida com o fato de ter que encarar Não sonho mais (Chico Buarque, 1979 – tema do filme República dos assassinos), Gota d’água (Chico Buarque, 1975 - tema da peça Gota d'água) e Vida (Chico Buarque, 1980 – tema da peça Geni), músicas densas para sempre identificadas com às vozes dramáticas de Elba Ramalho, Bibi Ferreira e Maria Bethânia. Cabe ainda a Soraya desvirginar Invicta (Chico Buarque, 1989), tema composto para a peça Suburbano coração que parecia ter caído em absoluto esquecimento até ser revivido no espetáculo da dupla Möeller & Botelho. E por falar nos diretores, é fato que, ouvidas fora da cena, sem os recursos criados pela dupla na concepção do musical, algumas músicas têm diluído no disco seu poder de sedução. É o caso, sobretudo, da lúdica Ciranda da bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983 – tema do balé O grande circo místico), realçada em cena por graciosa teatralidade orquestrada por Möeller e Botelho para o número. Seja como for, paira sobre todas as coisas a maestria de Chico Buarque na composição dos temas reunidos no disco. Música e letra sempre se ajustam com perfeição. Se a obra musical do carioca já setentão se resumisse às 44 músicas do disco duplo, lançadas entre 1965 e 1989, esse cancioneiro teatral já seria suficiente para pôr Chico Buarque de Hollanda no primeiro time dos criadores da música popular do Brasil.

    ResponderExcluir
  2. disco maravilhoso, capa inexpressiva

    ResponderExcluir
  3. E eu que nem sabia que Maria Bethânia tivesse chancelado a "Vida" de Chico Buarque.Eu conheço apenas na voz do autor e da Simone.

    ResponderExcluir

Este é um espaço democrático para a emissão de opiniões, sobretudo as divergentes. Contudo, qualquer comentário feito com agressividade ou ofensas - dirigidas a mim, aos artistas ou aos leitores do blog - será recusado. Grato pela participação, Mauro Ferreira

P.S.: Para comentar, é preciso ter um gmail ou qualquer outra conta do google.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.