Mauro Ferreira no G1

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domingo, 10 de agosto de 2014

Rasa, a autobiografia de Naldo desperdiça a (ótima) história de vida do artista

Resenha de livro
Título: Cada vez eu quero mais
Autor: Naldo Benny
Editora: Planeta
Cotação: * *

 Naldo Benny já tinha pavimentado seu caminho no circuito de funk carioca até que se tornou o fenômeno musical brasileiro da vez no verão de 2012 / 2013 ao sabor de hits autorais como Amor de chocolate (Naldo Benny, 2011) e Exagerado (Naldo Benny, 2011). Mesmo assim, o lançamento da autobiografia do cantor e compositor carioca - Cada vez eu quero mais, posta nas livrarias neste mês de agosto de 2014 pela editora Planeta - soa como mera jogada de marketing para manter o artista na mídia, já que a aguada receita do pop funk do astro deu precoces sinais de exaustão no CD e DVD Multishow ao vivo Naldo Benny (Deck, 2013). Além de precoce, o livro resulta apressado, raso, com narrativa superficial que mais parece uma grande reportagem chapa branca sobre o cantor - assinada pelo próprio Naldo - do que uma autobiografia, gênero literário do qual se espera um mínimo de profundidade na abordagem dos fatos da vida do biografado. A história de vida de Ronaldo Jorge da Silva - menino pobre nascido na comunidade de Nova Holanda (situada no complexo de favelas da Maré, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro) e criado na vizinha Vila do Pinheiro - é em si interessante e poderia render bom livro se fosse apresentada em minúcias e sem a preocupação de realçar Naldo como herói. Um sobrevivente que driblou fortes obstáculos sociais e pessoais - como o assassinato há seis anos de seu irmão Jorge Luiz da Silva (1996 - 2008), o Lula, com quem formou a dupla de funk Naldo & Lula -  no caminho para a fama. Assunto jamais iria faltar. Contudo, do jeito que está no livro Cada vez eu quero mais, a narrativa é pobre, pois aborda en passant fatos e situações que mereciam ser mais detalhados, casos das frustrações comuns no mercado carioca de funk e no universo fonográfico brasileiro. No estilo curto e grosso do texto, o artista lembra no livro que álbum gravado por Naldo & Lula foi abortado pela EMI Music porque a diretoria da já extinta gravadora se desentendeu com o produtor Bira Hawaí, que articulara o contrato e o disco após ouvir o som da dupla por insistência de Naldo, que ligou diversas vezes para o produtor até ser - enfim - atendido. Naldo começa sua história pelo encontro que teve com o cantor e ator norte-americano Will Smith no Brasil, no Carnaval de 2013 - encontro impensável há alguns anos na vida deste cantor que sempre foi fã da música norte-americana ("Quando eu desembarquei pela primeira vez nos Estados Unidos, eu chorei!", relata Naldo à página 79 do livro). Um funkeiro pop que teve que se virar como backing vocal de grupos de samba numa época em que a indústria fonográfica olhava com desinteresse para o mercado de funk melody (gênero reabilitado aos olhos das gravadoras em 2005 com o sucesso nacional de MC Leozinho). Enfim, a história é boa. Aliás, a história da vida do astro é ótima, mas perde boa parte do poder de sedução na forma rasa como está contada na (precoce) autobiografia de Naldo Benny.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Naldo Benny já tinha pavimentado seu caminho no circuito de funk carioca até que se tornou o fenômeno musical brasileiro da vez no verão de 2012 / 2013 ao sabor de hits autorais como Amor de chocolate (Naldo Benny, 2011) e Exagerado (Naldo Benny, 2011). Mesmo assim, o lançamento da autobiografia do cantor e compositor carioca - Cada vez eu quero mais, posta nas livrarias neste mês de agosto de 2014 pela editora Planeta - soa como mera jogada de marketing para manter o artista na mídia, já que a aguada receita do pop funk do astro deu precoces sinais de exaustão no CD e DVD Multishow ao vivo Naldo Benny (Deck, 2013). Além de precoce, o livro resulta apressado, raso, com narrativa superficial que mais parece uma grande reportagem chapa branca sobre o cantor - assinada pelo próprio Naldo - do que uma autobiografia, gênero literário do qual se espera um mínimo de profundidade na abordagem dos fatos da vida do biografado. A história de vida de Ronaldo Jorge da Silva - menino pobre nascido na comunidade de Nova Holanda (situada no complexo de favelas da Maré, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro) e criado na vizinha Vila do Pinheiro - é em si interessante e poderia render bom livro se fosse apresentada em minúcias e sem a preocupação de realçar Naldo como herói. Um sobrevivente que driblou fortes obstáculos sociais e pessoais - como o assassinato há seis anos de seu irmão Jorge Luiz da Silva (1996 - 2008), o Lula, com quem formou a dupla de funk Naldo & Lula - no caminho para a fama. Assunto jamais iria faltar. Contudo, do jeito que está no livro Cada vez eu quero mais, a narrativa é pobre, pois aborda en passant fatos e situações que mereciam ser mais detalhados, casos das frustrações comuns no mercado carioca de funk e no universo fonográfico brasileiro. No estilo curto e grosso do texto, o artista lembra no livro que álbum gravado por Naldo & Lula foi abortado pela EMI Music porque a diretoria da já extinta gravadora se desentendeu com o produtor Bira Hawaí, que articulara o contrato e o disco após ouvir o som da dupla por insistência de Naldo, que ligou diversas vezes para o produtor até ser - enfim - atendido. Naldo começa sua história pelo encontro que teve com o cantor e ator norte-americano Will Smith no Brasil, no Carnaval de 2013 - encontro impensável há alguns anos na vida deste cantor que sempre foi fã da música norte-americana ("Quando eu desembarquei pela primeira vez nos Estados Unidos, eu chorei!", relata Naldo à página 79 do livro). Um funkeiro pop que teve que se virar como backing vocal de grupos de samba numa época em que a indústria fonográfica olhava com desinteresse para o mercado de funk melody (reabilitado aos olhos das gravadoras em 2005 com o sucesso nacional de MC Leozinho). Enfim, a história é boa, mas perde boa parte de seu poder de sedução da forma rasa como está contada na precoce autobiografia de Naldo Benny.