Resenha de show
Título: Na medida do impossível
Artista: Fernanda Takai (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Auditório Ibirapuera (São Paulo, SP)
Data: 2 de agosto de 2014
Cotação: * * * *
♪ Na exata medida de própria possibilidade pop, Fernanda Takai apresenta um segundo show solo pautado pela elegância, pelo refinamento, sem grandes ousadias cênicas, mas nem por isso menos sedutor. Como o disco que o gerou, Na medida do impossível (Deck, 2014), o show apresenta no roteiro um leque de músicas melodiosas que, na voz hábil da cantora de alma mineira e origem amapaense, ganham vida inteligente. A maior novidade do show reside na ausência em cena de John Ulhoa, parceiro de vida e de música que produziu e arranjou o segundo álbum solo gravado em estúdio pela vocalista do grupo mineiro Pato Fu. Takai toca seu violão e divide o palco com os músicos Lulu Camargo (teclados, acordeom e gaita), Larissa Horta (baixo e vocais), Lenis Rino (bateria) e Tiago Borba (guitarra). Por mais que álbum soe eventualmente como um disco do Pato Fu sem guitarras e por mais que o espírito do disco esteja no show (cujo roteiro inclui 12 das 13 músicas selecionadas por Takai para o CD), Na medida do impossível se desvincula em cena do som do Pato Fu - mesmo que paire uma atmosfera pop roqueira nos arranjos de músicas como o samba Como dizia o mestre (1975), sucesso autoral do cantor, compositor e pianista fluminense Benito Di Paula. A beleza da cena - que evoca a capa do disco, embora não na medida idealizada pela artista - salta aos olhos já na música que dá o start no show, Partida (Fernanda Takai, 2014), balada melodiosa entoada por Takai enquanto a neve cai. A lembrança de três músicas do álbum de 2007 em que a cantora abordou o repertório da antecessora Nara Leão (1942 - 1989) - o samba Diz que fui por aí (Zé Kétti e Hortênsio Rocha, 1964), a doída canção Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1966) e Com açúcar, com afeto (Chico Buarque, 1966), esta já no bis - também cai bem no show. Takai tem o dom de irmanar músicas de origens, estilos e tempos distintos. É como se tudo soasse pop popular contemporâneo na sua voz delicada. Por isso mesmo, reviver com a letra original a sensível balada Nada pra mim (John Ulhoa, 1999) - definitivamente associada à voz passional da cantora mineira Ana Carolina, intérprete original da canção - foi bela sacada de Takai. Sucesso do padre Zezinho há 40 anos, Amar como Jesus amou (José Fernandes de Oliveira, 1974) reaparece em cena com barulhinhos bons e sem a voz de outro padre cantor, Fábio de Mello, convidado da faixa mais controvertida do disco. De onde vens (1967) - parceria de Nelson Motta com Dori Caymmi (e não com Danilo Caymmi, como informou equivocadamente Takai na estreia nacional do show, no paulistano Auditório Ibirapuera, em 2 de agosto de 2104) - é a grande surpresa do roteiro juntamente com a abordagem, no encerramento do bis, de I don't want to talk about it (Danny Whitten, 1971), balada lançada em disco pela banda norte-americana Crazy Horse, mas associada a Rod Stewart desde que o cantor escocês a regravou em 1975. São músicas que se harmonizam no canto suave da artista, cuja veia popular salta novamente no revival de sucesso da Jovem Guarda, O ritmo da chuva (1964), versão em português de Demétrius para (Rhythm of the rain) (John Claude Gummoe, 1962), pontuada em cena pelo acordeom de Lulu Camargo. Sagaz, Takai aloca O ritmo da chuva ao lado de outro hit das jovens tardes dominicais dos anos 1960, A pobreza (Paixão proibida) (Renato Barros, 1968), levada na gaita pelo mesmo polivalente Lulu Camargo. Em cena, Fernanda Takai tem a capacidade de diluir naturalmente prévios conceitos - já em si tênues - de brega e chique. Parece fácil, mas não é. Em vozes e mentes menos sutis, o repertório miscigenado do show Na medida do impossível poderia soar como samba da mineira doida. Mas, com Fernanda Takai, tudo se afina na medida do (im)possível sem perda da elegância.
Na exata medida de sua possibilidade pop, Fernanda Takai apresenta um segundo show solo pautado pela elegância, pelo refinamento, sem grandes ousadias cênicas, mas nem por isso menos sedutor. Como o disco que o gerou, Na medida do impossível (Deck, 2014), o show apresenta no roteiro um leque de músicas melodiosas que, na voz hábil da cantora de alma mineira e origem amapaense, ganham vida inteligente. A maior novidade do show reside na ausência em cena de John Ulhoa, parceiro de vida e de música que produziu e arranjou o segundo álbum solo gravado em estúdio pela vocalista do grupo mineiro Pato Fu. Takai toca seu violão e divide o palco com os músicos Lulu Camargo (teclados, acordeom e gaita), Larissa Horta (baixo e vocais), Lenis Rino (bateria) e Tiago Borba (guitarra). Por mais que álbum soe eventualmente como um disco do Pato Fu sem guitarras e por mais que o espírito do disco esteja no show (cujo roteiro inclui 12 das 13 músicas selecionadas por Takai para o CD), Na medida do impossível se desvincula em cena do som do Pato Fu - mesmo que paire uma atmosfera pop roqueira nos arranjos de músicas como o samba Como dizia o mestre (1975), sucesso autoral do cantor, compositor e pianista fluminense Benito Di Paula. A beleza da cena - que evoca a capa do disco, embora não na medida idealizada pela artista - salta aos olhos já na música que dá o start no show, Partida (Fernanda Takai, 2014), balada melodiosa entoada por Takai enquanto a neve cai. A lembrança de três músicas do álbum de 2007 em que a cantora abordou o repertório da antecessora Nara Leão (1942 - 1989) - o samba Diz que fui por aí (Zé Kétti e Hortênsio Rocha, 1964), a doída canção Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1966) e Com açúcar, com afeto (Chico Buarque, 1966), esta já no bis - também cai bem no show. Takai tem o dom de irmanar músicas de origens, estilos e tempos distintos. É como se tudo soasse pop popular contemporâneo na sua voz delicada. Por isso mesmo, reviver com a letra original a balada Nada pra mim (John Ulhoa, 1999) - definitivamente associada à voz passional da cantora mineira Ana Carolina, intérprete original da canção - foi bela sacada de Takai. Sucesso do padre Zezinho há 40 anos, Amar como Jesus amou (José Fernandes de Oliveira, 1974) reaparece em cena com barulhinhos bons e sem a voz de outro padre cantor, Fábio de Mello, convidado da faixa mais controvertida do disco. De onde vens (1967) - parceria de Nelson Motta com Dori Caymmi (e não com Danilo Caymmi, como informou equivocadamente Takai na estreia nacional do show, no paulistano Auditório Ibirapuera, em 2 de agosto de 2104) - é a grande surpresa do roteiro juntamente com a abordagem, no encerramento do bis, de I don't want to talk about it (Danny Whitten, 1971), balada lançada em disco pela banda norte-americana Crazy Horse, mas associada a Rod Stewart desde que o cantor escocês a regravou em 1975. São músicas que se harmonizam no canto suave da artista, cuja veia popular salta novamente no revival de sucesso da Jovem Guarda, O ritmo da chuva (1964), versão em português de Demétrius para (Rhythm of the rain) (John Claude Gummoe, 1962), pontuada em cena pelo acordeom de Lulu Camargo. Sagaz, Takai aloca O ritmo da chuva ao lado de outro hit das jovens tardes dominicais dos anos 1960, A pobreza (Paixão proibida) (Renato Barros, 1968), levada na gaita pelo mesmo polivalente Lulu Camargo. Em cena, Fernanda Takai tem a capacidade de diluir naturalmente prévios conceitos - já em si tênues - de brega e chique. Parece fácil, mas não é. Em vozes e mentes menos sutis, o repertório miscigenado do show Na medida do impossível poderia soar como samba da mineira doida. Com Fernanda Takai, tudo se afina na medida do (im)possível.
ResponderExcluirTakai diva!
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