Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Registros da época em que Angela era uma rainha do rádio são valiosos

Resenha de caixa de CDs
Título: Angela Maria - Rainha do rádio
Artista: Angela Maria
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * *

Produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para seu selo Discobertas, a caixa Angela Maria - Rainha do rádio tem título apropriado e alto valor documental, em que pese a precária qualidade técnica das 54 gravações reunidas nos quatro CDs. São registros raros - até então inéditos em disco - de números musicais feitos entre 1955 e 1956 pela Sapoti no auditório da Rádio Nacional, a PR-8, como também era conhecida a emissora de rádio que transmitia por suas ondas  as modas, as músicas e os costumes do Brasil dos anos 1940 e 1950. A cantora fluminense - que começara sua carreira fonográfica em 1951 - estava no auge da forma vocal e do sucesso popular. Seu registro de mezzo-soprano era um dos símbolos da era dourada do rádio brasileiro. Angela não reinou sozinha nessa era, mas também foi uma das rainhas do rádio, alternando a coroa com cantoras como Dalva de Oliveira (1917 - 1972), Emilinha Borba (1923 - 2005) e Marlene (1922 - 2014). Por isso, reunia as passionais macacas de auditório - termo racista criado na época para caracterizar as fãs dos cantores do rádio, em sua maioria negras e pobres - no palco da Nacional nas tardes de sábado, quando entrava no ar, ao vivo, o programa Angela Maria canta. A caixa do selo Discobertas - idealizada para festejar os 85 anos completados pela cantora em maio deste ano de 2014 - revive momentos desses programas. Sob o patrocínio do colírio Moura Brasil, como lembrado a toda hora pelo apresentador do programa, a cantora dava sua voz potente e extensa a músicas de sua discografia, cantadas com tratamento orquestral. Angela Maria - cabe lembrar - foi cantora influente, cujas interpretações reverberaram nas trajetórias luminosas de cantores de gerações posteriores como Elis Regina (1945 - 1982) e até mesmo Roberto Carlos. Mesmo que o repertório da Sapoti nem sempre tenha estado à altura de sua voz, as audições dos quatro discos da caixa permitem que a (re)descoberta de joias como o samba Rio é amor (Bruno Marnet), gravado em 1954 pela cantora, em disco de 78 rotações por minuto editado pela gravadora Copacabana. Rio é amor figura no CD 1 ao lado de sucessos como Lábios de mel (Waldir Rocha), música para sempre associada ao canto da Sapoti desde a gravação original da cantora, feita em 1955. O coro popular se faz ouvir na faixa. Embora a voz de Angela esteja também associada aos boleros e sambas-canção de romantismo exacerbado e/ou pueril, a cantora também deu voz às canções mais refinadas do então emergente Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994). Incluída no CD 2, Não devo sonhar é música pouco ouvida do cancioneiro de Tom, tendo sido gravada por Angela em 1956. O maestro soberano é compositor recorrente no CD 3, aberto com A chuva caiu (Antonio Carlos Jobim e Luiz Bonfá), música também gravada por Angela em 1956, ano em que a cantora lançou o álbum Sucessos de ontem e hoje (Copacabana, 1956). Neste disco, a Sapoti gravou o pioneiro samba-canção Linda flor (Ai, Ioiô) (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, 1929) e Ave Maria no morro (Herivelto Martins, 1942), músicas não por acaso cantadas pela artista no seu popular programa da Rádio Nacional, em registros ao vivo rebobinados no CD 4 da oportuna caixa Angela Maria - Rainha do rádio, já item de colecionador para quem louva as cantoras do Brasil de ontem e de hoje. 

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para seu selo Discobertas, a caixa Angela Maria - Rainha do rádio tem título apropriado e alto valor documental, em que pese a precária qualidade técnica das 54 gravações reunidas nos quatro CDs. São registros raros - até então inéditos em disco - de números musicais feitos entre 1955 e 1956 pela Sapoti no auditório da Rádio Nacional, a PR-8, como também era conhecida a emissora de rádio que transmitia por suas ondas as modas, as músicas e os costumes do Brasil dos anos 1940 e 1950. A cantora fluminense - que começara sua carreira fonográfica em 1951 - estava no auge da forma vocal e do sucesso popular. Seu registro de mezzo-soprano era um dos símbolos da era dourada do rádio brasileiro. Angela não reinou sozinha nessa era, mas também foi uma das rainhas do rádio, alternando a coroa com cantoras como Dalva de Oliveira (1917 - 1972), Emilinha Borba (1923 - 2005) e Marlene (1922 - 2014). Por isso, reunia as passionais macacas de auditório - termo racista criado na época para caracterizar as fãs dos cantores do rádio, em sua maioria negras e pobres - no palco da Nacional nas tardes de sábado, quando entrava no ar, ao vivo, o programa Angela Maria canta. A caixa do selo Discobertas - idealizada para festejar os 85 anos completados pela cantora em maio deste ano de 2014 - revive momentos desses programas. Sob o patrocínio do colírio Moura Brasil, como lembrado a toda hora pelo apresentador do programa, a cantora dava sua voz potente e extensa a músicas de sua discografia, cantadas com tratamento orquestral. Angela Maria - cabe lembrar - foi cantora influente, cujas interpretações reverberaram nas trajetórias luminosas de cantores de gerações posteriores como Elis Regina (1945 - 1982) e até mesmo Roberto Carlos. Mesmo que o repertório da Sapoti nem sempre tenha estado à altura de sua voz, as audições dos quatro discos da caixa permitem que a (re)descoberta de joias como o samba Rio é amor (Bruno Marnet), gravado em 1954 pela cantora, em disco de 78 rotações por minuto editado pela gravadora Copacabana. Rio é amor figura no CD 1 ao lado de sucessos como Lábios de mel (Waldir Rocha), música para sempre associada ao canto da Sapoti desde a gravação original da cantora, feita em 1955. O coro popular se faz ouvir na faixa. Embora a voz de Angela esteja também associada aos boleros e sambas-canção de romantismo exacerbado e/ou pueril, a cantora também deu voz às canções mais refinadas do então emergente Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994). Incluída no CD 2, Não devo sonhar é música pouco ouvida do cancioneiro de Tom, tendo sido gravada por Angela em 1956. O maestro soberano é compositor recorrente no CD 3, aberto com A chuva caiu (Antonio Carlos Jobim e Luiz Bonfá), música também gravada por Angela em 1956, ano em que a cantora lançou o álbum Sucessos de ontem e hoje (Copacabana, 1956). Neste disco, a Sapoti gravou o pioneiro samba-canção Linda flor (Ai, Ioiô) (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, 1929) e Ave Maria no morro (Herivelto Martins, 1942), músicas não por acaso cantadas pela artista no seu popular programa da Rádio Nacional, em registros ao vivo rebobinados no CD 4 da oportuna caixa Angela Maria - Rainha do rádio, já item de colecionador para quem louva as cantoras do Brasil de ontem e de hoje.

Galex disse...

Vou correndo comprar!