Mauro Ferreira no G1

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sábado, 6 de setembro de 2014

Alice Caymmi expõe sua personalidade em show performático e político

Resenha de show
Título: Palavras cruzadas # 8
Artistas: Alice Caymmi, Guga Ferraz e Rafucko (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Teatro do Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 5 de setembro de 2014
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz até 7 de setembro de 2014, no Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ)

Seria redutor conceituar o espetáculo da oitava edição da série Palavras cruzadas - projeto multimídia idealizado e dirigido por Marcio Debellian - como um show musical. Embora o roteiro inclua nove números musicais feitos pela cantora carioca Alice Caymmi com o trio formado por Bernardo Pauleira (bateria), Bubu (guitarra) e Daniel Castanheira (baixo), o espetáculo se alimenta da interação - original, mas nem sempre inteligível para o espectador - entre música, projeções em vídeo e intervenções teatrais feitas em cena pelo artista plástico Guga Ferraz e pelo videomaker Rafael Puetter, o Rafucko. Com humor, a turma destila ironia ao cutucar a mídia política e ao tocar em temas do atual panorama político do Brasil, a um mês das eleições. Musicalmente, toda a força do espetáculo reside na voz, na segurança e na atitude personalíssima com que Alice Caymmi encara um roteiro que começa com samba esperançoso de Nelson Cavaquinho (1911 - 1986), Juízo final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973), e culmina com marchinha-jingle que carnavaliza o fim da performance política. Entre um momento e outro, Alice apresenta boa canção inédita de sua autoria - Antes de tudo o amor, de melodia melancólica - e se veste com as armas do rock para saudar sem reverência são Jorge Ben Jor com a lembrança de Cuidado com o bulldog, música gravada pelo Zé Pretinho no álbum Solta o pavão (1975). Na sequência, a cantora dá voz a uma canção pueril que foi sucesso nacional em 1978 na voz miúda da carioca Lilian Knapp, Sou rebelde, versão de Paulo Coelho para Soy rebelde (Manuel Alejandro e Ana Magdalena, 1971). Melodiosa canção da trilha sonora do filme O poderoso chefão, Speak softly love (Nino Rota e Larry Kusik, 1972) é instante lírico-romântico em que Alice dança com Guga Ferraz em clima de anos dourados. Em seguida, Keep it comin' love (Harry Wayne Casey e Richard Finch, 1977) - sucesso da banda norte-americana KC and The Sunshine Band nos tempos da discoteca - acelera os beats e agita o ambiente, preparando a cena para o fim interativo. Antes do desfecho, Alice dá voz a canção lançada pelo grupo carioca Tono em seu álbum Aquário (Independente, 2013) - Como vês (Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, 2013) - e aciona os raios de Iansã (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1972) sem reeditar ao vivo toda a força da música e da interpretação que já eternizou em registro posto na web. Tímida quando precisa interagir com Guga e Rafucko, Alice se ilumina como cantora, mostrando habilidade para cruzar palavras e sons de músicas de universos díspares - em roteiro que joga Ben Jor, Lilian, Tono e KC and The Sunhsine Band no mesmo caldeirão performático - sem perder o tom e a personalidade. Vote em Alice Caymmi!!

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Seria redutor conceituar o espetáculo da oitava edição da série Palavras cruzadas - projeto multimídia idealizado e dirigido por Marcio Debellian - como um show musical. Embora o roteiro inclua nove números musicais feitos pela cantora carioca Alice Caymmi com o trio formado por Bernardo Pauleira (bateria), Bubu (guitarra) e Daniel Castanheira (baixo), o espetáculo se alimenta da interação - original, mas nem sempre inteligível para o espectador - entre música, projeções em vídeo e intervenções teatrais feitas em cena pelo artista plástico Guga Ferraz e pelo videomaker Rafael Puetter, o Rafucko. Com humor, a turma destila ironia ao cutucar a mídia política e ao tocar em temas do atual panorama político do Brasil, a um mês das eleições. Musicalmente, toda a força do espetáculo reside na voz, na segurança e na atitude personalíssima com que Alice Caymmi encara um roteiro que começa com samba esperançoso de Nelson Cavaquinho (1911 - 1986), Juízo final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973), e culmina com marchinha-jingle que carnavaliza o fim da performance política. Entre um momento e outro, Alice apresenta boa canção inédita de sua autoria - Antes de tudo o amor, de melodia melancólica - e se veste com as armas do rock para saudar sem reverência são Jorge Ben Jor com a lembrança de Cuidado com o bulldog, música gravada pelo Zé Pretinho no álbum Solta o pavão (1975). Na sequência, a cantora dá voz a uma canção pueril que foi sucesso nacional em 1978 na voz miúda da carioca Lilian Knapp, Sou rebelde, versão de Paulo Coelho para Soy rebelde (Manuel Alejandro e Ana Magdalena, 1971). Melodiosa canção da trilha sonora do filme O poderoso chefão, Speak softly love (Nino Rota e Larry Kusik, 1972) é instante lírico-romântico em que Alice dança com Guga Ferraz em clima de anos dourados. Em seguida, Keep it comin' love (Harry Wayne Casey e Richard Finch, 1977) - sucesso da banda norte-americana KC and The Sunshine Band nos tempos da discoteca - acelera os beats e agita o ambiente, preparando a cena para o fim interativo. Antes do desfecho, Alice dá voz a canção lançada pelo grupo carioca Tono em seu álbum Aquário (Independente, 2013) - Como vês (Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, 2013) - e aciona os raios de Iansã (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1972) sem reeditar ao vivo toda a força da música e da interpretação que já eternizou em registro posto na web. Tímida quando precisa interagir com Guga e Rafucko, Alice se ilumina como cantora, mostrando habilidade para cruzar palavras e sons de músicas de universos díspares - em roteiro que joga Ben Jor, Lilian, Tono e KC and The Sunhsine Band no mesmo caldeirão performático - sem perder o tom e a personalidade. Vote em Alice Caymmi!!