Resenha de show
Título: Meu Rio de muitos janeiros
Artista: Fafá de Belém (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 15 de setembro de 2014
Cotação: * * * 1/2
No depoimento que gravou para ser ouvido em off na abertura de seu show Meu Rio de muitos janeiros, Fafá de Belém diz que, quando ainda morava em Belém (PA), a cidade do Rio de Janeiro (RJ) era sua disneylândia. De Belém, a cantora saboreava cada novidade vinda do Rio pelas revistas da década de 1960. Vitrine de modas e costumes do Brasil desde que o samba é samba, o Rio pauta Fafá em cena. Mas é um rio antigo - o rio boêmio dos anos dourados das boates e da Bossa Nova - a inspiração desse show que estreou na casa carioca Miranda em janeiro deste ano de 2014 e posteriormente foi para o Theatro Net Rio, onde voltou esta semana à cena em apresentações agendadas para 15 e 16 de setembro. Antítese da Bossa Nova pela própria natureza passional e vivaz de seu canto, Fafá arrisca suavizar seu tom para cantar alguns clássicos do cancioneiro soberano de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) - Fotografia (1959) e Corcovado (1960), entre eles - mas se encontra mesmo é nas dores de amores expiadas em músicas dos repertórios dramáticos de cantoras como a paulista Maysa Matarazzo (1936 - 1977), a carioca Nora Ney (1922 - 2003) e a potiguar (de criação carioca) Núbia Lafayette (1937 - 2007), de quem revive a folhetinesca Devolvi (Adelino Moreira, 1960). Na companhia de um trio de piano (o do maestro Cristóvão Bastos), baixo (o de Renato Loyola) e bateria (a de Ricardo Costa) que remete à formação clássica das boates cariocas nas quais se tocava e ouvia o samba-jazz derivado da Bossa Nova, nos anos 1960, Fafá saúda à sua moda o seu Rio antigo. Não consegue pôr seu bloco na rua logo na abertura do show, quando canta a marcha Cidade maravilhosa (André Filho, 1934) com mais ênfase na melodia do que no ritmo que desacelera, mas, aos poucos, a cantora vai se encontrando nos tons habituais. A partir do bolero Foi assim (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977), Fafá eventualmente usa e abusa do recurso de incentivar o coro da plateia. Recurso desnecessário para cantora que se mantém na melhor das formas vocais, sem precisar baixar os tons, como fica evidente na lembrança de Coração do agreste (Moacyr Luz e Aldir Blanc, 1989), sucesso da trilha sonora da novela Tieta (TV Globo, 1989) que resiste ao tempo pela beleza melódica e poética. O medley com sucessos de Maysa - Ouça (Maysa, 1957), Meu mundo caiu (Maysa, 1958) e Franqueza (Denis Brean e Osvaldo Guilherme, 1957) - é pautado de início por suavidade contrastante com a quentura do repertório da cantora surgida em 1956. Intérprete talhada para temas densos, Fafá acerta os tons de Todo o sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987) - em número de voz e piano com o compositor da melodia letrada por Chico - e de Canto triste (1967), canção sublime composta por Edu Lobo com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), e não com o poeta Torquato Neto (1944 - 1972), como a cantora credita erroneamente em cena. Em contrapartida, Fafá exagera nas caras e bocas do bolero Sob medida (Chico Buarque, 1979), em interpretação rasa que já soa déjà vu para os fiéis espectadores de seus shows, e embarga outro bolero, Resposta ao tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998), com choro protocolar. No fim, Valsa de uma cidade (Ismael Neto e Antônio Maria, 1954) repõe em cena o romantismo idealizado de um Rio que, no imaginário de Fafá, se resume ao mítico bairro de Copacabana, como a artista ressalta em cena ao fim de fluente apresentação em que se mostra bem à vontade na sua disneylândia entre tons altos e baixos.
No depoimento que gravou para ser ouvido em off na abertura de seu show Meu Rio de muitos janeiros, Fafá de Belém diz que, quando ainda morava em Belém (PA), a cidade do Rio de Janeiro (RJ) era sua disneylândia. De Belém, a cantora saboreava cada novidade vinda do Rio pelas revistas da década de 1960. Vitrine de modas e costumes do Brasil desde que o samba é samba, o Rio pauta Fafá em cena. Mas é um rio antigo - o rio boêmio dos anos dourados das boates e da Bossa Nova - a inspiração desse show que estreou na casa carioca Miranda em janeiro deste ano de 2014 e posteriormente foi para o Theatro Net Rio, onde voltou esta semana à cena em apresentações agendadas para 15 e 16 de setembro. Antítese da Bossa Nova pela própria natureza passional e vivaz de seu canto, Fafá arrisca suavizar seu tom para cantar alguns clássicos do cancioneiro soberano de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) - Fotografia (1959) e Corcovado (1960), entre eles - mas se encontra mesmo é nas dores de amores expiadas em músicas dos repertórios dramáticos de cantoras como a paulista Maysa Matarazzo (1936 - 1977), a carioca Nora Ney (1922 - 2003) e a potiguar (de criação carioca) Núbia Lafayette (1937 - 2007), de quem revive a folhetinesca Devolvi (Adelino Moreira, 1960). Na companhia de um trio de piano (o do maestro Cristóvão Bastos), baixo (o de Renato Loyola) e bateria (a de Ricardo Costa) que remete à formação clássica das boates cariocas nas quais se tocava e ouvia o samba-jazz derivado da Bossa Nova, nos anos 1960, Fafá saúda à sua moda o seu Rio antigo. Não consegue pôr seu bloco na rua logo na abertura do show, quando canta a marcha Cidade maravilhosa (André Filho, 1934) com mais ênfase na melodia do que no ritmo que desacelera, mas, aos poucos, a cantora vai se encontrando nos tons habituais. A partir do bolero Foi assim (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977), Fafá eventualmente usa e abusa do recurso de incentivar o coro da plateia. Recurso desnecessário para cantora que se mantém na melhor das formas vocais, sem precisar baixar os tons, como fica evidente na lembrança de Coração do agreste (Moacyr Luz e Aldir Blanc, 1989), sucesso da trilha sonora da novela Tieta (TV Globo, 1989) que resiste ao tempo pela beleza melódica e poética. O medley com sucessos de Maysa - Ouça (Maysa, 1957), Meu mundo caiu (Maysa, 1958) e Franqueza (Denis Brean e Osvaldo Guilherme, 1957) - é pautado de início por suavidade contrastante com a quentura do repertório da cantora surgida em 1956. Intérprete talhada para temas densos, Fafá acerta os tons de Todo o sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987) - em número de voz e piano com o compositor da melodia letrada por Chico - e de Canto triste (1967), canção sublime composta por Edu Lobo com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), e não com o poeta Torquato Neto (1944 - 1972), como a cantora credita erroneamente em cena. Em contrapartida, Fafá exagera nas caras e bocas do bolero Sob medida (Chico Buarque, 1979), em interpretação rasa que já soa déjà vu para os fiéis espectadores de seus shows, e embarga outro bolero, Resposta ao tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, 1998), com choro protocolar. No fim, Valsa de uma cidade (Ismael Neto e Antônio Maria, 1954) repõe em cena o romantismo idealizado de um Rio que, no imaginário de Fafá, se resume ao mítico bairro de Copacabana, como a artista ressalta em cena ao fim de fluente apresentação em que se mostra bem à vontade na sua disneylândia entre tons altos e baixos.
ResponderExcluirNa minha opiniao, Fafá perdeu o ouro desde ''O Canto das Aguas''. Fafá é cantora de músicas ineditas, pouco conhecidas - romanticas ou regionais. Adoro Fafá, ela precisa de show inedito, disco inedito, e maestro que resgate o fogo que é so dela - e que hj estamos vendo em algumas cantoras populares por aí - e nao cantar musicas de outras cantoras. Nao acho que fique ruim, mas ela perde a Importancia para a Música Popular. Os 10 primeiros anos de carreira dela eu acho incrivel. / É como Daniela Mercury cantando ''Como nossos pais'', etc..... / Duas cantoras muito talentosas, basta usar.
ResponderExcluirLove, Ty.
Disse tudo Tyrone! Fafá tem que olhar pra frente, pra mim não diz nada mas reconheço que canta muito
ResponderExcluirShow lindo!! Repertório de qualidade e de bom gosto. Com Fafá então...tudo fica melhor!!! Cantar essas canções não é pra qq um não!!
ResponderExcluirPena que não tenha como eu assistir o show da Fafá, pelo visto de uma qualidade inegável. Agora, aproveito pra dizer que ainda espero que a Universal Music volte com a ideia de reeditar os discos da Fafá de Belém na Philips, de 1976 a 1988. Se brincar, acho que dá pra eles colocarem junto os discos da fase Som Livre junto, aí ficava o período 1975 e 1988 completo, com raridades. Ficaria um luxo. Eu tenho o box "Três Tons de Fafá de Belém", mas espero que isso aconteça logo.
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