Título: Sobre noites e dias
Artista: Lucas Santtana
Gravadora: Diginois
Cotação: * * * * *
Em abril de 2014, quando Lucas Santtana pôs na web a gravação de sua música Partículas de amor (Lucas Santtana e Gui Amabis), o cantor e compositor baiano - radicado no Rio de Janeiro (RJ) - gerou altas expectativas por seu sexto álbum. Afinal, a canção - gravada com adesões do paralama Bi Ribeiro (baixo), de Bruno Buarque (MPC) e de Luis Filipe de Lima (violão de sete cordas)- era bela e sinalizava guinada do artista rumo a um pop mais melódico e poético. Pois Sobre noites e dias - o recém-lançado sexto álbum de Lucas Santtana - faz jus à alta expectativa, sendo um desenvolvimento natural do encorpado O Deus que devasta mas também cura (Diginois, 2012). Em seu melhor disco, de tonalidade pop eletrônica, o artista se vale de inspirado repertório autoral para fazer - sem nostalgia - a crônica dos amores e anseios do cibernético tempo urbano atual. Tempo de ilusórios comprimidos ansiolíticos, tomados para controlar a pressão e a solitude cotidianas, como expõe Montanha russa sentimental (Lucas Santtana), tema que insiste no amor. Com sopros orquestrados com maestria por Leiteres Leite, a melancólica Alguém assopra ela (Lucas Santtana) reitera a aposta no formato da canção. Mas são canções de tempos modernos e sons sintetizados. Só que o sintético ganha vida em Sobre noites e dias, disco cosmopolita que, embora predominantemente cantado em português, tem músicas com versos em inglês, em francês e espanhol. Com cordas arranjadas de forma sublime pelo próprio Lucas Santtana, em produção dividida com Bruno Buarque, Human time (Lucas Santtana) radiografa - com versos em inglês e em francês (estes recitados de forma incidental pela atriz francesa Fanny Ardant) - a complexidade de homens e máquinas nos tempos do amor e da cólera contra as diferenças. Mas também da paradoxal liberdade de extrapolar rótulos e classificações sociais e sexuais, como prega, desencanado, o Funk dos bromânticos (Lucas Santtana). Embora toque em questões densas do robotizado cotidiano urbano, Sobre noites e dias flui sem peso e sem clichês. Pontuado pelo discurso solar do rapper fluminense De Leve, Diário de uma bicicleta soa como pedalada em dia de verão. "Sei que você vive na praia / Mas o sol que abraça só tem no Brasil", argumenta Lucas em verso de Mariazinha morena clara, tema animado que dá a pista da origem do artista pela evocação vivaz da rítmica das marchas-frevos do sempre novo baiano Moraes Moreira. Em atmosfera oposta, Blind date é cinzenta, londrina, em sua ambiência futurista que dialoga com o arranjo de Human time. No fim, a singela balada Velhinho (Rica Amabis e Lucas Santtana) arrebata o (grande) disco com poesia. "O tempo passa e vem acomodar / Toda a idade de um menino que nasceu, / cresceu, viveu com a alma de um velhinho", percebe Lucas Santtana, pleno de juventude e de inspiração, no topo da montanha russa musical, em seu melhor tempo e álbum.
7 comentários:
Em abril de 2014, quando Lucas Santtana pôs na web a gravação de sua música Partículas de amor (Lucas Santtana e Gui Amabis), o cantor e compositor baiano - radicado no Rio de Janeiro (RJ) - gerou altas expectativas por seu sexto álbum. Afinal, a canção - gravada com adesões do paralama Bi Ribeiro (baixo), de Bruno Buarque (MPC) e de Luis Filipe de Lima (violão de sete cordas)- era bela e sinalizava guinada do artista rumo a um pop mais melódico e poético. Pois Sobre noites e dias - o recém-lançado sexto álbum de Lucas Santtana - faz jus à alta expectativa, sendo um desenvolvimento natural do encorpado O Deus que devasta mas também cura (Diginois, 2012). Em seu melhor disco, de tonalidade pop eletrônica, o artista se vale de inspirado repertório autoral para fazer - sem nostalgia - a crônica dos amores e anseios do cibernético tempo urbano atual. Tempo de ilusórios comprimidos ansiolíticos, tomados para controlar a pressão e a solitude cotidianas, como expõe Montanha russa sentimental (Lucas Santtana), tema que insiste no amor. Com sopros orquestrados com maestria por Leiteres Leite, a melancólica Alguém assopra ela (Lucas Santtana) reitera a aposta no formato da canção. Mas são canções de tempos modernos e sons sintetizados. Só que o sintético ganha vida em Sobre noites e dias, disco cosmopolita que, embora predominantemente cantado em português, tem músicas com versos em inglês, em francês e espanhol. Com cordas arranjadas de forma sublime pelo próprio Lucas Santtana, em produção dividida com Bruno Buarque, Human time (Lucas Santtana) radiografa - com versos em inglês e em francês (estes recitados de forma incidental pela atriz francesa Fanny Ardant) - a complexidade de homens e máquinas nos tempos do amor e da cólera contra as diferenças. Mas também da paradoxal liberdade de extrapolar rótulos e classificações sociais e sexuais, como prega, desencanado, o Funk dos bromânticos (Lucas Santtana). Embora toque em questões densas do robotizado cotidiano urbano, Sobre noites e dias flui sem peso e sem clichês. Pontuado pelo discurso solar do rapper fluminense De Leve, Diário de uma bicicleta soa como pedalada em dia de verão. "Sei que você vive na praia / Mas o sol que abraça só tem no Brasil", argumenta Lucas em verso de Mariazinha morena clara, tema animado que dá a pista da origem do artista pela evocação vivaz da rítmica das marchas-frevos do sempre novo baiano Moraes Moreira. Em atmosfera oposta, Blind date é cinzenta, londrina, em sua ambiência futurista que dialoga com o arranjo de Human time. No fim, a singela balada Velhinho (Rica Amabis e Lucas Santtana) arrebata o (grande) disco com poesia. "O tempo passa e vem acomodar / Toda a idade de um menino que nasceu, / cresceu, viveu com a alma de um velhinho", percebe Lucas Santtana, pleno de juventude e de inspiração, no topo da montanha russa musical, em seu melhor tempo e álbum.
Recebi o meu CD ontem e estou ouvindo sem parar. Lucas Santtana atingiu um patamar raro no pop brasileiro, emendando três trabalhos de alta qualidade, cada um com suas particularidades. Atenção especial para a qualidade dos arranjos e do som de "Sobre Noites e Dias". Captei ecos de Phillip Glass nas cordas de Human Time, e fazer isso sem perder a pegada pop não é desafio pequeno. Para ouvir e descobrir!
Recebi o meu CD ontem e estou ouvindo sem parar. Lucas Santtana atingiu um patamar raro no pop brasileiro, emendando três trabalhos de alta qualidade, cada um com suas particularidades. Atenção especial para a qualidade dos arranjos e do som de "Sobre Noites e Dias". Captei ecos de Phillip Glass nas cordas de Human Time, e fazer isso sem perder a pegada pop não é desafio pequeno. Para ouvir e descobrir!
Baiano Márcio, o 3 Sessions in The Green House, disco anterior ao Sem Nostalgia, também é da pesada. Talvez seja até o meu preferido dele.
Esse novo ainda não ouvi, mas fiquei animado com a visão, melhor dizendo, audição, entusiasmada sua e do Mauro.
Lucas, dos novatos, sempre foi dos meus preferidos.
PS: Essa bolachinha vai ser difícil encontrar. Onde você comprou?
Zé Henrique, meu CD eu recebi em casa, por ter colaborado com o crowdfunding.
Distribuição de disco independente sempre foi um problema no Brasil. Fora do Rio e de São Paulo fica complicado achar trabalhos menos convencionais. Aqui em Brasília eu corto um dobrado para encontrar o que quero. Felizmente Lucas Santtana costuma liberar o disco inteiro para download em seu site .
Também tenho o "3 Sessions", mas confesso que só fui ouvi-lo com calma depois do impacto que "Sem Nostalgia" teve em mim. Ainda estou atrás dos dois primeiros.
Preciso escutar esse CD. Conheci o Lucas com o Sem Nostalgia e foi amor-musical a primeira vista. Ele casa bem os arranjos detalhitas e minimalistas com a música quase falada. Vou procurar esse CD.
Márcio, fui no facebook dele e lá ele colocou um link para quem quiser comprar.
Ah, sobre o crowdfunding vai no youtube e ve um vídeo impagável que o próprio Lucas fez sobre a prática.
Coloca Lucas Santtana crowdfunding que acha.
Se nao der uma risada eu cegue, como diria o outro.
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