Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 14 de setembro de 2014

Rasa, biografia de Ronnie Von desperdiça boa história de vida do artista

Resenha de livro
Título: Ronnie Von - O príncipe que podia ser rei
Autores Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel
Editora: Planeta
Cotação: * *

Diz a lenda - reproduzida na biografia que festeja os 70 anos de vida do cantor Ronnie Von - que Roberto Carlos compôs e gravou Querem acabar comigo, música de seu álbum de 1966, com o Pequeno príncipe em mente. Pequeno príncipe era o epíteto dado ao então jovem artista fluminense - de criação paulista - pela apresentadora de TV Hebe Camargo (1929 - 2012). Pode parecer incrível para quem acompanhou a evolução das carreiras dos dois cantores a partir dos anos 1970, mas Ronnie Von chegou a ameaçar o reinado de Roberto Carlos na Jovem Guarda. A rivalidade é um dos assuntos abordados pelos jornalistas Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel na recém-lançada biografia Ronnie Von - O príncipe que queria ser rei. Pena que os autores não tenham detalhado mais a vida e obra deste artista nascido em berço de ouro. Rasa, a bem-escrita biografia de Ronnie patina na superfície ao narrar a história de Ronaldo Nogueira. Boa história desperdiçada em livro que mais parece um relato de wikipedia. Projetado em 1966 com sua gravação de Meu bem, ágil versão de Girl (John Lennon e Paul McCartney, 1965) escrita pelo próprio Ronnie com rapidez incomum na era pré-cibernética, o cantor alcançaria o topo do sucesso popular com o registro, em 1967, da marcha-rancho A praça, gravada a contragosto por insistência do autor da música, Carlos Imperial (1935 - 1992). Contudo, a carreira fonográfica de Ronnie nunca chegou a ser realmente relevante, em que pesem alguns hits esporádicos na fase pós-Jovem Guarda como o tema afro Cavaleiro de Aruanda (Tony Osanah, 1972) e as canções Tranquei a vida (Ronnie Von e Tony Osanah, 1977) e Cachoeira (música de Thomas Roth e Luiz Guedes lançada por Rosana em 1979, mas popularizada na gravação feita por Ronnie em 1984). Embora reconheçam as limitações de Ronnie como compositor, na comparação com o rival Roberto Carlos, os autores deixam entrever nas rasas páginas do livro uma admiração excessiva pela personagem principal da história que parecem ter apenas rascunhado. Falta à biografia um maior detalhamento da gênese dos álbuns de Ronnie. Até mesmo a trilogia psicodélica da virada dos anos 1960 para os 1970 poderia ser mais esmiuçada, embora ocupe razoáveis páginas do livro. Estabelecido nos últimos anos como apresentador de TV, retomando contato com o veículo que lhe deu projeção na época da rivalidade com Roberto Carlos, Ronnie viveu uma bela história em seus 70 anos de vida. Renegou o destino de empresário idealizado pelo pai, foi ídolo juvenil na Jovem Guarda, deu nome ao grupo Os Mutantes - inspirado por seu entusiasmo com a ficção científica do livro O império dos mutantes (Stefan Wul, 1958) - e enfrentou grave doença que quase o tirou de cena no fim dos anos 1970, ocasião em que recebeu a visita do ex-rival Roberto Carlos (então já definitivamente entronizado na preferência popular), que gravara música de Ronnie, Pra ser só minha mulher, em 1977. Tudo isso está em Ronnie Von O príncipe que queria ser rei de forma tão breve que fica a sensação de que ainda vai ser escrita uma biografia de Ronnie Von.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Diz a lenda - reproduzida na biografia que festeja os 70 anos de vida do cantor Ronnie Von - que Roberto Carlos compôs e gravou Querem acabar comigo, música de seu álbum de 1966, com o Pequeno príncipe em mente. Pequeno príncipe era o epíteto dado ao então jovem artista fluminense - de criação paulista - pela apresentadora de TV Hebe Camargo (1929 - 2012). Pode parecer incrível para quem acompanhou a evolução das carreiras dos dois cantores a partir dos anos 1970, mas Ronnie Von chegou a ameaçar o reinado de Roberto Carlos na Jovem Guarda. A rivalidade é um dos assuntos abordados pelos jornalistas Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel na recém-lançada biografia Ronnie Von - O príncipe que queria ser rei. Pena que os autores não tenham detalhado mais a vida e obra deste artista nascido em berço de ouro. Rasa, a biografia de Ronnie patina na superfície ao narrar a história de Ronaldo Nogueira. Boa história, aliás, desperdiçada em livro que mais parece um relato de wikipedia. Projetado em 1966 com sua gravação de Meu bem, versão de Girl (John Lennon e Paul McCartney, 1965) escrita pelo próprio Ronnie com rapidez incomum na era pré-cibernética, o cantor alcançaria o topo do sucesso popular com o registro, em 1967, da marcha-rancho A praça, gravada a contragosto por insistência do autor da música, Carlos Imperial (1935 - 1992). Contudo, a carreira fonográfica de Ronnie nunca chegou a ser realmente relevante, em que pesem alguns hits esporádicos na fase pós-Jovem Guarda como o tema afro Cavaleiro de Aruanda (Tony Osanah, 1972) e as canções Tranquei a vida (Ronnie Von e Tony Osanah, 1977) e Cachoeira (música de Thomas Roth e Luiz Guedes lançada por Rosana em 1979, mas popularizada na gravação feita por Ronnie em 1984). Embora reconheçam as limitações de Ronnie como compositor, na comparação com o rival Roberto Carlos, os autores deixam entrever nas rasas páginas do livro uma admiração excessiva pela personagem principal da história que parecem ter apenas rascunhado. Falta à biografia um maior detalhamento da gênese dos álbuns de Ronnie. Até mesmo a trilogia psicodélica da virada dos anos 1960 para os 1970 poderia ser mais esmiuçada, embora ocupe razoáveis páginas do livro. Estabelecido nos últimos anos como apresentador de TV, retomando contato com o veículo que lhe deu projeção na época da rivalidade com Roberto Carlos, Ronnie viveu uma bela história em seus 70 anos de vida. Renegou o destino de empresário idealizado pelo pai, foi ídolo juvenil na Jovem Guarda, deu nome ao grupo Os Mutantes - inspirado por seu entusiasmo com a ficção científica do livro O império dos mutantes (Stefan Wul, 1958) - e enfrentou grave doença que quase o tirou de cena no fim dos anos 1970, ocasião em que recebeu a visita do ex-rival Roberto Carlos (então já definitivamente entronizado na preferência popular), que gravara música de Ronnie, Pra ser só minha mulher, em 1977. Tudo isso está em Ronnie Von - O príncipe que queria ser rei de forma tão breve que fica a sensação de que ainda vai ser escrita uma biografia de Ronnie Von.

L disse...

Mauro, tornei-me SUPER FÃ do seu blog desde que o descobri mais ou menos há um ano (inclusive comprei seu livro quando fui ao Brasil no final do ano, mas ainda não tive tempo para parar e ler).

O meu maior "desespero" com relação aos seus escritos extremamente prolíficos é que os arquivos do blog anterior (antes de você mudar pra esta versão melhor) não tem "tags" nas postagens (desculpe o inglês, tem coisas q não sei em português, moro há 18 anos nos States!), para ser possível, por exemplo, ler todos os posts sobre um cantor/compositor.

Bom, eu não poderia deixar de dizer que você escreve bem demais! Neste post aqui a pérola é: "Boa história desperdiçada em livro que mais parece um relato de wikipedia." E... obviamente o final "...de forma tão breve que fica a sensação de que ainda vai ser escrita uma biografia de Ronnie Von."

Obrigada por partilhar seu trabalho com todos nós na internet!

Lilian (como blogo sobre assuntos pessoais e profissionais, uso somente a minha inicial e um codinome no meu blog)

ADEMAR AMANCIO disse...

O seu maior sucesso foi mesmo-A Praça-e não-Meu bem-como querem alguns.E teve também "A banda da ilusão",e só.

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu sempre usei a ferramenta de busca,nos dois acervos,e nunca deu problema.

Eduardo disse...

Como sempre, as resenhas do Mauro são mais interessantes que os próprios livros! Parabéns!