Título: Os outubros de Taiguara - Um artista contra a ditadura: música, censura e exílio
Autoria: Janes Rocha
Editora: Kuarup Música
Cotação: * *
♪ Livro que marca o ingresso da gravadora Kuarup no mercado editorial, Os outubros de Taigura parece ser mais uma (boa e extensa) reportagem sobre Taiguara Chalar da Silva (Montevidéu, 9 de outubro de 1945 - São Paulo, 14 de fevereiro de 1996) do que propriamente uma biografia do cantor e compositor uruguaio de criação brasileira. Escrita por Janes Rocha, jornalista paulistana ligada à área econômica, a biografia reconstitui somente alguns outubros de Taiguara. Com texto objetivo, a autora segue narrativa de tom geralmente superficial em que os fatos da vida e obra do artista são relatados sem minúcias. O terceiro álbum do artista - Crônica da cidade amada (1966), o último feito pelo cantor na Philips, em fase em que sua música ainda estava associada à Bossa Nova - é mencionado somente na discografia que se limita a listar títulos, anos e gravadoras de álbuns e compactos. O maior mérito do livro reside na exposição de documentos que comprovam a perseguição implacável da censura federal ao cancioneiro militante de Taiguara. Tais documentos reiteram a visão tacanha dos censores do Departamento de Censura e Diversões Públicas (DCDP), da Polícia Federal, sobre músicas de Taiguara. A censura à obra de Taiguara era tão forte que extrapolou as fronteiras do Brasil. Como revela Janes Rocha, a EMI-Odeon foi notificada no Brasil do veto que a censura brasileira impôs a um disco em inglês gravado por Taiguara em Londres via KPM, gravadora associada à multinacional EMI. Batizado com o nome da versão em inglês de Que as crianças cantem livres (1972), o álbum Let the children hear the music foi abortado e suas gravações tiveram destino ignorado. Além de documentos do DCDP, o livro reproduz também fotos do artista - algumas raras - e a letra de Zumbi do Brasil, a última música composta pelo artista, já no leito do hospital no qual Taiguara travava batalha contra o câncer que o fez sair precocemente de cena, aos 50 anos. Apesar de ter sido escrita com as melhores intenções, a biografia de Taiguara fica aquém da importância do artista nos anos 1960 e 1970. Parece que faltou à autora uma compreensão mais profunda de obra analisada com propriedade pelo jornalista musical Tárik de Souza no ensaio O novo amanhecer de Taiguara, trunfo da abertura deste livro que se debruça somente sobre alguns poucos outubros militantes do artista ora biografado.
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