Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Álbum solo de Cintra, 'Animal' expõe desconexão entre letras e sons dos 80

Resenha de CD
Título: Animal
Artista: Adriano Cintra
Gravadora: Deck
Cotação: * * 

Como produtor de discos,  o paulistano Adriano Cintra impôs seu nome ao longo deste ano de 2014. Além de ter assinado com Jesse Harris a produção do disco mais bem acabado de Tiê, Esmeraldas (Warner Music), o artista paulistano é copiloto do irretocável terceiro álbum de Thiago Pethit, Rock'n'roll sugar darling (Independente), agendado para novembro. Diante de tamanho êxito na formatação de obras alheias, esperava-se mais de Cintra na produção de seu primeiro álbum solo, Animal, lançado via Deck neste mês de outubro. O melhor do disco é a capa assinada por Rodrigo Maltchique. Batizado com o nome da parceria de Cintra com Marcelo Segreto (da Filarmônica de Pasárgada), Animal, o disco teve seu repertório composto originalmente com letras em inglês. Por sugestão de Marcus Preto, diretor artístico do álbum, as letras foram refeitas em português por time heterogêneo que vai de Alice Caymmi (autora dos versos de Toque) a Guilherme Arantes (parceiro de Cintra em Não vai dominar), passando por Gaby Amarantos, letrista de Duda, música de refrão pegajoso, já previamente exposta na rede, para promover Animal. A ideia em si é boa, mas o álbum expõe a falta de sintonia entre as letras e as músicas. Basta ouvir A sedução de um desejo - composição cantada por Nana Rizzini com versos típicos da obra popular de Odair José, autor da letra - para entender a desconexão entre músicas e letras. Musicalmente, Animal se escora nos beats acelerados do tecnopop dos anos 1980, sem sintetizar visão nova do gênero, como já deixam evidentes as batidas de Desagradável aparelho (Adriano Cintra, John Ulhoa e Nana Rizinni) e Não ladrão (Adriano Cintra), as duas músicas que abrem o CD. Poeticamente, Animal transita por outra via. Passionais, intensas e despudoradas, as letras quase nunca se afinam com o som pop, dançante e desencanado do disco, que traz a voz de Rogério Flausino em Desde o início (Adriano Cintra, Rogério Flausino e Péricles Martins), uma das três faixas produzidas por Boss in Drama (as outras duas são as já mencionadas Duda e Não vai dominar). Essa falta de sintonia acentua o fato de Cintra ser cantor meramente eficaz e compositor irregular. Músicas como Deu ruim (Adriano Cintra) estão longe de roçar o bom acabamento melódico e pop dos hits da década de 1980. Mentor do superestimado grupo Cansei de Ser Sexy (CSS), do qual saiu de forma bem ruidosa em novembro de 2011, Cintra ainda está envolto em aura hype. O que deverá livrar Animal das garras de muitos críticos. Mas o fato é que, citando verso de Fracaso favorito, música em espanhol que fecha o disco, Animal tem tudo para ser o fiasco preferido da turma descolada. De todo modo, Adriano Cintra parece ter bom futuro como produtor de discos alheios...

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Como produtor de discos, o paulistano Adriano Cintra impôs seu nome ao longo deste ano de 2014. Além de ter assinado com Jesse Harris a produção do disco mais bem acabado de Tiê, Esmeraldas (Warner Music), o artista paulistano é copiloto do irretocável terceiro álbum de Thiago Pethit, Rock'n'roll sugar darling (Independente), agendado para novembro. Diante de tamanho êxito na formatação de obras alheias, esperava-se mais de Cintra na produção de seu primeiro álbum solo, Animal, lançado via Deck neste mês de outubro. O melhor do disco é a capa assinada por Rodrigo Maltchique. Batizado com o nome da parceria de Cintra com Marcelo Segreto (da Filarmônica de Pasárgada), Animal, o disco teve seu repertório composto originalmente com letras em inglês. Por sugestão de Marcus Preto, diretor artístico do álbum, as letras foram refeitas em português por time heterogêneo que vai de Alice Caymmi (autora dos versos de Toque) a Guilherme Arantes (parceiro de Cintra em Não vai dominar), passando por Gaby Amarantos, letrista de Duda, música de refrão pegajoso, já previamente exposta na rede, para promover Animal. A ideia em si é boa, mas o álbum expõe a falta de sintonia entre as letras e as músicas. Basta ouvir A sedução de um desejo - composição cantada por Nana Rizzini com versos típicos da obra popular de Odair José, autor da letra - para entender a desconexão entre músicas e letras. Musicalmente, Animal se escora nos beats acelerados do tecnopop dos anos 1980, sem sintetizar visão nova do gênero, como já deixam evidentes as batidas de Desagradável aparelho (Adriano Cintra, John Ulhoa e Nana Rizinni) e Não ladrão (Adriano Cintra), as duas músicas que abrem o CD. Poeticamente, Animal transita por outra via. Passionais, intensas e despudoradas, as letras quase nunca se afinam com o som pop, dançante e desencanado do disco, que traz a voz de Rogério Flausino em Desde o início (Adriano Cintra, Rogério Flausino e Péricles Martins), uma das três faixas produzidas por Boss in Drama (as outras duas são as já mencionadas Duda e Não vai dominar). Essa falta de sintonia acentua o fato de Cintra ser cantor meramente eficaz e compositor irregular. Músicas como Deu ruim (Adriano Cintra) estão longe de roçar o bom acabamento melódico e pop dos hits da década de 1980. Mentor do superestimado grupo Cansei de Ser Sexy (CSS), do qual saiu de forma ruidosa em novembro de 2011, Cintra ainda está envolto em aura hype. O que deverá livrar Animal das garras de muitos críticos. Mas o fato é que, citando verso de Fracaso favorito, música em espanhol que fecha o disco, Animal tem tudo para ser o fiasco preferido da turma descolada. De todo modo, Adriano Cintra tem futuro como produtor de discos alheios.

BIGODE disse...

Ouvi o single e detestei, muito ruim....volta pro CSS que é melhor....

Luca disse...

gostei do single, Mauro nunca gostei do CSS, não vai ser agora que vai falar bem

Unknown disse...

Animal tem tudo para ser o fiasco preferido da turma descolada. Kkkk! Perfeito.