Resenha de filme
Título: (o vento lá fora) (Brasil, 2014)
Direção: Marcio Debellian
Roteiro: Marcio Debellian e Diana Vasconcellos
Elenco: Cleonice Berardinelli e Maria Bethânia
Cotação: * * * * 1/2
Filme em exibição na edição de 2014 do Festival do Rio, no Rio de Janeiro (RJ)
Sessões de (o vento lá fora) no Festival do Rio:
* 7 de outubro de 2014, às 16h45m - Centro Cultural Justiça Federal 1
* 7 de outubro de 2014, às 18h - Ponto Cine
* 8 de outubro de 2014, às 16h - Ponto Cine
* 8 de outubro de 2014, às 18h - Oi Futuro Ipanema
♪ Quase ao fim do filme (o vento lá fora), a professora carioca Cleonice Berardinelli - com sua vasta bagagem de vida e poesia - caracteriza Fernando Pessoa (1888 - 1935) como "um imenso poeta". Pois (o vento lá fora) arrasta para a tela toda a imensidão da poesia de Pessoa a partir da filmagem de uma leitura de alguns de seus versos mais expressivos. Em 26 e 27 de setembro de 2013, o diretor Marcio Debellian - que já investigara a relação entre música e poesia no aclamado documentário Palavra encantada (Brasil, 2009) - captou no estúdio da gravadora Biscoito Fino, no Rio de Janeiro (RJ), a leitura de versos de Pessoa que Berardinelli e a cantora Maria Bethânia já haviam feito na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) daquele ano de 2013. Em cena, Berardinelli encarna a professora que ensina a aluna Bethânia a prosódia e o timing corretos da récita dos versos do poeta português. Só que Bethânia é também mestra na poesia de Pessoa, à qual apresentou para grande parte dos brasileiros que ouviram discos e viram shows como Rosa dos ventos (1971) e Imitação da vida (1997). Por mais que Dona Cleo (como a professora de 98 anos é carinhosamente chamada nos círculos literários) detenha mais saber formal acerca de Pessoa, a equivalência entre mestra e discípula na leitura de poemas como Aniversário faz com que (o vento lá fora) arraste para a tela todo o imenso painel de emoções, sentimentos e significados contidos nos versos de Pessoa. A propósito, Debellian mostra sensibilidade apurada ao enfatizar em close a expressão da quase centenária Dona Cleo ao ouvir a própria récita de Aniversário - momento em que se identifica com o estado emocional da personagem dos versos, como ela mesma admite ao fim. Ao mesmo tempo em que apresenta cenas típicas de making of, quando reproduz conversas entre Berardinelli e Bethânia sobre a melhor maneira de pronunciar determinado verso, (o vento lá fora) também espalha informações objetivas sobre Pessoa sem adquirir caráter meramente didático. Com informalidade, quase como se estivesse falando sobre o poeta na mesa de um bar, Dona Cleo explica para Bethânia - e para os espectadores do filme em cartaz de 6 a 8 de outubro de 2014 no Festival do Rio - as diferenças primordiais entre os heterônimos de Pessoa (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis). "Álvaro de Campos é o divã de Fernando Pessoa", conceitua, espirituosa, Dona Cleo em conversa com Bethânia filmada em locação externa, fora do estúdio. Aliás, cabe ressaltar o humor embutido na filmagem da leitura. O riso do espectador pode brotar tanto de uma entonação de Dona Cleo - em especial durante suas intervenções no poema Cartas de amor - quanto de uma reprimenda da mestra na discípula. A leveza com que a leitura é mostrada na tela faz belo contraste com o peso existencial posto pelo poeta em seu versos. É como o preto no branco da película. Com lançamento em CD + DVD programado para novembro de 2014, em edição do selo Quitanda que vai ser distribuída pela gravadora Biscoito Fino, (o vento lá fora) faz rir, emociona e provoca reflexões a partir da amplidão da poesia de Pessoa. Sem perder sua atmosfera clássica, reiterada pela trilha sonora formada por temas de compositores eruditos como o húngaro Franz Liszt (1811 - 1886), (o vento lá fora) mostra toda a musicalidade que há no tempo teatral da poesia de Pessoa. A música, a propósito, abre e fecha o filme. Na abertura, Maria Bethânia senta ao piano para tocar o tema instrumental Le lac de come (M. Gallus), reproduzindo número do show Rosa dos ventos (1971) revivido no show Maricotinha (2001). No fim, enquanto rolam os créditos, ouve-se a voz da cantora em Segue o teu destino (Sueli Costa e Ricardo Reis, 1997). E assim, entre a música e o drama da poesia de Pessoa, (o vento lá fora) dribla a inevitável linearidade do roteiro e carrega o espectador para um universo de emoções superiores, a reboque dos versos desse imenso poeta tão português quanto universal.
♪ Quase ao fim do filme (o vento lá fora), a professora carioca Cleonice Berardinelli - com sua vasta bagagem de vida e poesia - caracteriza Fernando Pessoa (1888 - 1935) como "um imenso poeta". Pois (o vento lá fora) arrasta para a tela toda a imensidão da poesia de Pessoa a partir da filmagem de uma leitura de alguns de seus versos mais expressivos. Em 26 e 27 de setembro de 2013, o diretor Marcio Debellian - que já investigara a relação entre música e poesia no aclamado documentário Palavra encantada (Brasil, 2009) - captou no estúdio da gravadora Biscoito Fino, no Rio de Janeiro (RJ), a leitura de versos de Pessoa que Berardinelli e a cantora Maria Bethânia já haviam feito na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) daquele ano de 2013. Em cena, Berardinelli encarna a professora que ensina a aluna Bethânia a prosódia e o timing corretos da récita dos versos do poeta português. Só que Bethânia é também mestra na poesia de Pessoa, à qual apresentou para grande parte dos brasileiros que ouviram discos e viram shows como Rosa dos ventos (1971) e Imitação da vida (1997). Por mais que Dona Cleo (como a professora de 98 anos é carinhosamente chamada nos círculos literários) detenha mais saber formal acerca de Pessoa, a equivalência entre mestra e discípula na leitura de poemas como Aniversário faz com que (o vento lá fora) arraste para a tela todo o imenso painel de emoções, sentimentos e significados contidos nos versos de Pessoa. A propósito, Debellian mostra sensibilidade apurada ao enfatizar em close a expressão da quase centenária Dona Cleo ao ouvir a própria récita de Aniversário - momento em que se identifica com o estado emocional da personagem dos versos, como ela mesma admite ao fim. Ao mesmo tempo em que apresenta cenas típicas de making of, quando reproduz conversas entre Berardinelli e Bethânia sobre a melhor maneira de pronunciar determinado verso, (o vento lá fora) também espalha informações objetivas sobre Pessoa sem adquirir caráter meramente didático. Com informalidade, quase como se estivesse falando sobre o poeta na mesa de um bar, Dona Cleo explica para Bethânia - e para os espectadores do filme em cartaz de 6 a 8 de outubro de 2014 no Festival do Rio - as diferenças primordiais entre os heterônimos de Pessoa (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis). "Álvaro de Campos é o divã de Fernando Pessoa", conceitua, espirituosa, Dona Cleo em conversa com Bethânia filmada em locação externa, fora do estúdio. Aliás, cabe ressaltar o humor embutido na filmagem da leitura. O riso do espectador pode brotar tanto de uma entonação de Dona Cleo - em especial durante suas intervenções no poema Cartas de amor - quanto de uma reprimenda da mestra na discípula. A leveza com que a leitura é mostrada na tela faz belo contraste com o peso existencial posto pelo poeta em seu versos. É como o preto no branco da película. Com lançamento em CD + DVD programado para novembro de 2014, em edição do selo Quitanda que vai ser distribuída pela gravadora Biscoito Fino, (o vento lá fora) faz rir, emociona e provoca reflexões a partir da amplidão da poesia de Pessoa. Sem perder sua atmosfera clássica, reiterada pela trilha sonora formada por temas de compositores eruditos como o húngaro Franz Liszt (1811 - 1886), (o vento lá fora) mostra toda a musicalidade que há no tempo teatral da poesia de Pessoa. A música, a propósito, abre e fecha o filme. Na abertura, Maria Bethânia senta ao piano para tocar o tema instrumental Le lac de come (M. Gallus), reproduzindo número do show Rosa dos ventos (1971) revivido no show Maricotinha (2001). No fim, enquanto rolam os créditos, ouve-se a voz da cantora em Segue o teu destino (Sueli Costa e Ricardo Reis, 1997). E assim, entre a música e o drama da poesia de Pessoa, (o vento lá fora) dribla a inevitável linearidade do roteiro e carrega o espectador para um universo de emoções superiores, a reboque dos versos desse imenso poeta tão português quanto universal.
ResponderExcluirMauro, que lindo texto. Só aumentou mais ainda minha vontade de ver este documentário que farei questão de tê-lo! Uma pena não ter havido uma exibição em todo o território nacional...
ResponderExcluirforte abraço!
Mauro, uma pergunta um pouco burra. Esse CD que vem junto ao DVD contem os poemas falados ou musicados?
ResponderExcluirGrato, Cristiano. Fabio, o CD vai trazer a leitura dos poemas, mote o filme. Abs, MauroF
ResponderExcluirMauro - Haverá partes cantadas???
ResponderExcluirNão, Diego. Abs, MauroF
ResponderExcluirBethânia, mais uma vez e sempre!! Incrível, enriquecedora, trazendo beleza e delicadeza para todos! Que artista completa! Que carreira nobre!São todas as artes numa só Arte.
ResponderExcluirUm alento em tempos tão difíceis. D.Cleo, uma riqueza do Brasil! Como as duas se fazem necessárias!!