Título: Natália Matos
Artista: Natália Matos
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * 1/2
♪ Fenômeno midiático dos anos 2010, a reinserção do Pará no mapa da música do Brasil tem dado maior visibilidade às cantoras e compositoras da Região Norte. Muitas vem tentando obter projeção nacional no rastro da exposição de Gaby Amarantos. Natália Matos se posiciona de forma curiosa nessa corrente. Em atividade profissional desde 2012, a artista pegou o caminho de volta para Belém (PA) - sua cidade natal - após oito anos de vivência em São Paulo (SP). Essa rota inversa explica as trilhas seguidas pela artista em seu primeiro álbum, Natália Matos, produção independente viabilizada com patrocínio do projeto Natura Musical. Produzido por Guilherme Kastrup, o disco reforça a ponte que liga São Paulo a Belém através das conexões de músicos do Norte - como Felipe Cordeiro, cuja guitarra é ouvida no CD em Cândido brilho (Natália Matos e Renato Torres) - com nomes da efervescente cena paulistana contemporânea como Kiko Dinucci, parceiro de Douglas Germano em Cio, música que abre o disco em flerte com a cumbia. Composição lançada em 2009 pelo Duo Moviola, formado por Dinucci com Germano, Cio sinaliza a leveza que pauta o álbum e o canto pequeno de Natália Matos. Leveza que dilui o peso sugerido pelos versos de Coração sangrando, joia brega da lavra da veterana paraense Dona Onete lapidada por Matos em dueto com Zeca Baleiro, cantor maranhense que transita com naturalidade por esse universo kitsch. Nessa conexão Belém-São Paulo, o álbum Natália Matos embute levadas de carimbó na regravação de Este pranto é meu (Carlos Gomes, Nicéas Drumont e Pim) e soa especialmente embriagante quando cai no suingue de Beber você, música assinada por Arnaldo Antunes, Felipe Cordeiro, Manoel Cordeiro, Betão Aguiar e Luê (a mesma turma de Ela é tarja preta, faixa de tom nortista do último álbum de Arnaldo, Disco). Outro acerto é Um amor de morrer, exemplo da inspiração da parceria de Romulo Fróes com Clima. Já bela em si, a música é valorizada pelo arranjo de tom celestial que combina o cavaco de Rodrigo Campos com a viola de Caçapa e os teclados etéreos de Zé Nigro. Lindo! A flor do segredo (Almirzinho Gabriel) também desabrocha com encantamento em Natália Matos, disco que se situa acima da média das produções de cantoras do Norte. Os pontos menos luminosos são as músicas de autoria da própria cantora e compositora, casos de Pouca luz e de Você me ama, mas (de textura mais pop e universal). Contudo, entre referências da música do Norte (algumas explicitadas já no título das músicas, caso de Maria do Pará, de Iva Rothe) e flerte com o suingue cubano na inédita Baila de Havana (Ronaldo Silva), o primeiro álbum de Natália do Matos não reinventa a roda, mas demole clichês regionais ao reciclar tradições da região da cantora em tom moderno e sedutor.
3 comentários:
♪ Fenômeno midiático dos anos 2010, a reinserção do Pará no mapa da música do Brasil tem dado maior visibilidade às cantoras e compositoras da Região Norte. Muitas vem tentando obter projeção nacional no rastro da exposição de Gaby Amarantos. Natália Matos se posiciona de forma curiosa nessa corrente. Em atividade profissional desde 2012, a artista pegou o caminho de volta para Belém (PA) - sua cidade natal - após oito anos de vivência em São Paulo (SP). Essa rota inversa explica as trilhas seguidas pela artista em seu primeiro álbum, Natália Matos, produção independente viabilizada com patrocínio do projeto Natura Musical. Produzido por Guilherme Kastrup, o disco reforça a ponte que liga São Paulo a Belém através das conexões de músicos do Norte - como Felipe Cordeiro, cuja guitarra é ouvida no CD em Cândido brilho (Natália Matos e Renato Torres) - com nomes da cena paulistana contemporânea como Kiko Dinucci, parceiro de Douglas Germano em Cio, música que abre o disco em flerte com a cumbia. Composição lançada em 2009 pelo Duo Moviola, formado por Dinucci com Germano, Cio sinaliza a leveza que pauta o álbum e o canto pequeno de Natália Matos. Leveza que dilui o peso sugerido pelos versos de Coração sangrando, joia brega da lavra da veterana paraense Dona Onete lapidada por Matos em dueto com Zeca Baleiro, cantor maranhense que transita com naturalidade por esse universo kitsch. Nessa conexão Belém-São Paulo, o álbum Natália Matos embute levadas de carimbó na regravação de Este pranto é meu (Carlos Gomes, Nicéas Drumont e Pim) e soa especialmente embriagante quando cai no suingue de Beber você, música assinada por Arnaldo Antunes, Felipe Cordeiro, Manoel Cordeiro, Betão Aguiar e Luê (a mesma turma de Ela é tarja preta, faixa de tom nortista do último álbum de Arnaldo, Disco). Outro acerto é Um amor de morrer, exemplo da inspiração da parceria de Romulo Fróes com Clima. Já bela em si, a música é valorizada pelo arranjo de tom celestial que combina o cavaco de Rodrigo Campos com a viola de Caçapa e os teclados etéreos de Zé Nigro. Lindo! A flor do segredo (Almirzinho Gabriel) também desabrocha com encantamento em Natália Matos, disco que se situa acima da média das produções de cantoras do Norte. Os pontos menos luminosos são as músicas de autoria da própria cantora e compositora, casos de Pouca luz e de Você me ama, mas (de textura mais pop e universal). Contudo, entre referências da música do Norte (algumas explicitadas já no título das músicas, caso de Maria do Pará, de Iva Rothe) e flerte com o suingue cubano na inédita Baila de Havana (Ronaldo Silva), o primeiro álbum de Natália do Matos não reinventa a roda, mas demole clichês regionais ao reciclar tradições da região da cantora em tom moderno e sedutor.
mais uma na onda
Luca, ouve o cd dela. É bem feito e tem boas letras.
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