Título: Em estúdio e em cores
Artista: Sambô
Gravadora: Som Livre
Cotação: *
♪ Quase ao fim de seu primeiro álbum gravado em estúdio, o grupo paulista Sambô arma com o Trio Preto uma roda de samba. Nessa roda, os grupos revivem trinca de sucessos iniciais do cantor e compositor fluminense Martinho da Vila - O pequeno burguês (1969), Casa de bamba (1969) e Pra que dinheiro? (1968) - em clima de samba mesmo. É um caminho que, se tivesse sido seguido pelo Sambô no CD Em estúdio e em cores, talvez resultasse em um disco até convencional, mas certamente menos equivocado do que o álbum posto nas lojas pela gravadora Som Livre neste mês de outubro de 2014. No CD, produzido por Ricardo Gama, tecladista do Sambô, o grupo - criado em 2006 na cidade de Ribeirão Preto (SP) - apaga a gama de cores de leque variado de sucessos da música brasileira e do pop internacional. O Sambô dilui hits em solução rala de samba e rock. Em essência, o grupo põe tudo e todos em pagodão populista de clima roqueiro. O rock é evocado pela guitarra de Julio Fejuca. Mas, sem cerimônia, o Sambô traz até um sucesso dos Beatles, Come together (John Lennon e Paul McCartney, 1969), para o universo do pagode. Já a outra música do repertório dos Fab Four, Don't let me down (John Lennon e Paul McCartney, 1969), é menos agredida. Por mais que o disco tenha apelo popular, o nível das releituras é baixo. Não há um toque de fato original em nenhuma regravação. Tampouco um ganho. Há, sim, perdas e danos. Eu amo você (Cassiano e Silvio Roachel, 1970) - balada do primeiro álbum de Tim Maia (1942 - 1998) - perde sua alma soul. Primeiro hit de Beth Carvalho, Andança (Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Maurício Tapajós, 1968) perde aquela levada irresistível que tornou a música um hit perene nas rodinhas e nos barzinhos. Primeiro sucesso de Hyldon como cantor e compositor, Na rua, na chuva, na fazenda (1973) perde seu romantismo e vira tão somente um pagode insosso quando posto na mesma roda de Tudo bem (Lulu Santos, 1984). Já Tempo perdido (Renato Russo, 1986) - primeiro single do segundo álbum da Legião Urbana, uma canção à moda introspectiva do grupo inglês The Smiths - ganha texto pretensamente filosófico recitado por Fernando Anitelli, tirando a letra original do foco absoluto. Com sua mistura uniforme de samba e rock, que nada tem a ver com o samba-rock dos anos 1970, o Sambô dilui até a simplicidade pop de Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002), um dos hits do primeiro e único álbum do trio Tribalistas. Girl on fire (Alicia Keys, Jeff Bhasker e Salaam Remi, 2012) perde o poder incendiário do refrão, cantado em tom de pagode. Enfim, o Sambô segue com fidelidade neste primeiro disco de estúdio a receita de sucesso que tem lhe rendido fama e público nos últimos anos. Pena que as cores do som do grupo e do canto do vocalista Daniel San sejam todas do mesmo tom pálido - o tom do pouco exigente público do Sambô, grupo fadado a padronizar criação alheia.
2 comentários:
♪ Quase ao fim de seu primeiro álbum gravado em estúdio, o grupo paulista Sambô arma com o Trio Preto uma roda de samba. Nessa roda, os grupos revivem trinca de sucessos iniciais do cantor e compositor fluminense Martinho da Vila - O pequeno burguês (1969), Casa de bamba (1969) e Pra que dinheiro? (1968) - em clima de samba mesmo. É um caminho que, se tivesse sido seguido pelo Sambô no CD Em estúdio e em cores, talvez resultasse em um disco até convencional, mas certamente menos equivocado do que o álbum posto nas lojas pela gravadora Som Livre neste mês de outubro de 2014. No CD, produzido por Ricardo Gama, tecladista do Sambô, o grupo - criado em 2006 na cidade de Ribeirão Preto (SP) - apaga a gama de cores de leque variado de sucessos da música brasileira e do pop internacional. O Sambô dilui hits em solução rala de samba e rock. Em essência, o grupo põe tudo e todos em pagodão populista de clima roqueiro. O rock é evocado pela guitarra de Julio Fejuca. Mas, sem cerimônia, o Sambô traz até um sucesso dos Beatles, Come together (John Lennon e Paul McCartney, 1969), para o universo do pagode. Já a outra música do repertório dos Fab Four, Don't let me down (John Lennon e Paul McCartney, 1969), é menos agredida. Por mais que o disco tenha apelo popular, o nível das releituras é baixo. Não há um toque de fato original em nenhuma regravação. Tampouco um ganho. Há, sim, perdas e danos. Eu amo você (Cassiano e Silvio Roachel, 1970) - balada do primeiro álbum de Tim Maia (1942 - 1998) - perde sua alma soul. Primeiro hit de Beth Carvalho, Andança (Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Maurício Tapajós, 1968) perde aquela levada irresistível que tornou a música um hit perene nas rodinhas e nos barzinhos. Primeiro sucesso de Hyldon como cantor e compositor, Na rua, na chuva, na fazenda (1973) perde seu romantismo e vira tão somente um pagode insosso quando posto na mesma roda de Tudo bem (Lulu Santos, 1984). Já Tempo perdido (Renato Russo, 1986) - primeiro single do segundo álbum da Legião Urbana, uma canção à moda introspectiva do grupo inglês The Smiths - ganha texto pretensamente filosófico recitado por Fernando Anitelli, tirando a letra original do foco absoluto. Com sua mistura uniforme de samba e rock, que nada tem a ver com o samba-rock dos anos 1970, o Sambô dilui até a simplicidade pop de Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002), um dos hits do primeiro e único álbum do trio Tribalistas. Girl on fire (Alicia Keys, Jeff Bhasker e Salaam Remi, 2012) perde o poder incendiário do refrão, cantado em tom de pagode. Enfim, o Sambô segue com fidelidade neste primeiro disco de estúdio a receita de sucesso que tem lhe rendido fama e público nos últimos anos. Pena que as cores de seu som e do canto do vocalista Daniel San sejam todas do mesmo tom. O de seu pouco exigente público.
Me parece que apelo popular,e baixo nível,é quase sempre a mesma coisa.
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