Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Além do samba, Sacramento faz Carnaval torto no autoral 'Autorretrato'

Resenha de CD
Título: Autorretrato
Artista: Marcos Sacramento
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * /12

"...E o que me resta / É um samba torto / Bastante pra fazer meu Carnaval", resigna-se Marcos Sacramento entre o toque roqueiro da guitarra de Fabiano Krieger e a cadência bonita do samba na qual também cai O samba não me quis (Luiz Flávio Alcofra e Marcos Sacramento), música que abre Autorretrato, primeiro álbum inteiramente autoral do cantor e compositor carioca. Com finas ironias, O samba não me quis deixa entrever certa mágoa deste bom cantor cuja voz não se levantou com altitude suficiente para desafiar a supremacia feminina neste país de cantoras (em que pese a criação em 2010 do show Estamos aí, feito por Sacramento com Moyseis Marques e Pedro Miranda para chamar atenção para os dotes vocais da ala masculina da música brasileira). De todo modo, Sacramento não deixa de cair no samba em Autorretrato, assinando sozinho três incursões por esse ritmo de alma carioca como os versos confessionais de Na rua (Marcos Sacramento), balada arranjada em clima pop e introduzida pelo assovio de Daniel Vasques. Traço destacado de Autorretrato, Na rua sinaliza a construção por Sacramento de cancioneiro autoral de contornos eventualmente inusitados, tortos como as quebras de (Marcos Sacramento) e como os caminhos inusuais seguidos por Enigma (Marcos Sacramento) e por Carnaval (Zé Paulo Becker e Marcos Sacramento), samba batido na palma da mão, mas atravessado pelo toque das guitarras de Fabiano Krieger. Tanto que, dentre as 13 músicas autorais do disco, os sambas Qualquer um (Marcos Sacramento), Sacada (Marcos Sacramento) - o melhor deles - e Sereia na avenida (Marcos Sacramento) soam menos surpreendentes do que o recorte da melodia de Labirinto (Marcos Sacramento), faixa que se ergue no disco no toque dos tambores de Raphael Miranda. Além das fronteiras do Brasil, Dois rios - parceria de Sacramento com versos do poeta lusitano Tiago Torres da Silva - esboça clima de fado enquanto Sem sal (Marcos Sacramento) põe saborosa pitada de cabaré alemão - com arranjo eletrônico - neste cancioneiro que surpreende positivamente. O acabamento pop contemporâneo dos arranjos contribui para diluir o melodrama contido nos versos de temas como a balada Três horas da noite (Marcos Sacramento). Por mais que haja músicas menos inspiradas, como a balada Bichos (Marcos Sacramento), Autorretrato é CD que expõe compositor promissor e que, no fim,  com Sereia na avenida (Marcos Sacramento), imprime a sensação de que Marcos Sacramento já tem o bastante para fazer o seu Carnaval torto.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ "...E o que me resta / É um samba torto / Bastante pra fazer meu Carnaval", resigna-se Marcos Sacramento entre o toque roqueiro da guitarra de Fabiano Krieger e a cadência bonita do samba na qual também cai O samba não me quis (Luiz Flávio Alcofra e Marcos Sacramento), música que abre Autorretrato, primeiro álbum inteiramente autoral do cantor e compositor carioca. Com finas ironias, O samba não me quis deixa entrever certa mágoa deste bom cantor cuja voz não se levantou com altitude suficiente para desafiar a supremacia feminina neste país de cantoras (em que pese a criação em 2010 do show Estamos aí, feito por Sacramento com Moyseis Marques e Pedro Miranda para chamar atenção para os dotes vocais da ala masculina da música brasileira). De todo modo, Sacramento não deixa de cair no samba em Autorretrato, assinando sozinho três incursões por esse ritmo de alma carioca como os versos confessionais de Na rua (Marcos Sacramento), balada arranjada em clima pop e introduzida pelo assovio de Daniel Vasques. Traço destacado de Autorretrato, Na rua sinaliza a construção por Sacramento de cancioneiro autoral de contornos eventualmente inusitados, tortos como as quebras de Pá (Marcos Sacramento) e como os caminhos inusuais seguidos por Enigma (Marcos Sacramento) e por Carnaval (Zé Paulo Becker e Marcos Sacramento), samba batido na palma da mão, mas atravessado pelo toque das guitarras de Fabiano Krieger. Tanto que, dentre as 13 músicas autorais do disco, os sambas Qualquer um (Marcos Sacramento), Sacada (Marcos Sacramento) - o melhor deles - e Sereia na avenida (Marcos Sacramento) soam menos surpreendentes do que o recorte da melodia de Labirinto (Marcos Sacramento), faixa que se ergue no disco no toque dos tambores de Raphael Miranda. Além das fronteiras do Brasil, Dois rios - parceria de Sacramento com versos do poeta lusitano Tiago Torres da Silva - esboça clima de fado enquanto Sem sal (Marcos Sacramento) põe saborosa pitada de cabaré alemão - com arranjo eletrônico - neste cancioneiro que surpreende positivamente. O acabamento pop contemporâneo dos arranjos contribui para diluir o melodrama contido nos versos de temas como a balada Três horas da noite (Marcos Sacramento). Por mais que haja músicas menos inspiradas, como a balada Bichos (Marcos Sacramento), Autorretrato é CD que expõe compositor promissor e que, no fim, com Sereia na avenida (Marcos Sacramento), imprime a sensação de que Marcos Sacramento já tem o bastante para fazer o seu Carnaval torto.

Luca disse...

Mauro esse negócio de país de cantoras é você que tenta impor, o Brasil é país de sertanejos isso sim

CelloPiazza disse...

Uma pena que Marcos Sacramento esteja relegado a um mínimo grupo de apreciadores da boa MPB ... Ótimo cantor, tem discos primorosos que valem a pena serem (re)descobertos.

dude disse...

Nunca consegui entender esse papo de "bom cantor" pra classificar o Sacramento. Pra mim deixa entrever certa implicância.

Marcos Sacramento é um cantor raro, está entre os maiores - de qualquer período da nossa história musical, embora nunca tenha alcançado o público que merece.

E não estou sozinho nessa avaliação:

“Imagine um jovem Roberto Silva com o humor de Ciro Monteiro e o it de Carmen Miranda, mas com a liberdade do século 21”

Rui Castro

"Na música brasileira há cantores bons, cantores muito bons, cantores ótimos - e os grandes cantores. Marcos Sacramento é um grande cantor".

Joyce Moreno


"Tudo o que ele canta cresce na sua voz. E mais: o seu bom gosto na seleção das músicas, sejam novas ou antigas é tão grande que o mínimo que posso dizer é que, se eu fosse cantor gostaria de ter um repertório igual ao dele."

Sérgio Cabral

"Se a maioria das pessoas que compram discos fizesse isto por causa da música, o cantor carioca Marcos Sacramento estaria há anos encantando muito mais gente do que apenas os privilegiados que o admiram"

Rui Castro

Abs,
Anderson Falcão