Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Belo busca o refinamento da MPB em bom disco que vai além do pagode

Resenha de CD
Título: Mistério
Artista: Belo
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Dentro dos padrões populares da discografia de Belo, Mistério é o melhor álbum da carreira solo do artista paulistano. Produzido pelo próprio Belo, em parceria com a dupla de produtores e compositores formada por Umberto Tavares com Mãozinha, o disco persegue um refinamento próximo do universo da MPB. Lançado pela gravadora Sony Music neste mês de novembro de 2014, Mistério não promove uma ruptura com o pagode romântico, mas tenta ir além do estilo que consagrou este bom cantor que implantou nos anos 1990 - no posto de vocalista do grupo Soweto - um novo modo de cantar samba. O belo fraseado vocal do intérprete embute influências do soul e do r&b norte-americanos, estando bem distante do tom mais descontraído que a turma revelada na quadra do Bloco Cacique de Ramos - Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz à frente - imprimiu ao samba do Rio de Janeiro (RJ). Influência para muitos vocalistas de pagode surgidos ao longo dos últimos 20 anos, Belo continua cantando muito bem. Sua voz valoriza as 16 músicas gravadas em Mistério. Várias são envoltas por cordas arranjadas com delicadeza por Jota Moraes ou Boris. A faixa que abre o disco em clima bossa novista, Feliz (Umberto Tavares e Jefferson Junior), exemplifica bem a intenção do artista de refinar seu som. Parceria de Jorge Vercillo com Jota Maranhão, a música-título Mistério reforça a procura sutil por sons mais belos, assim como Outra vez (Belo, Rafael Brito e Pedro Felipe). O disco consegue soar coeso, mesmo alternando pagodes românticos típicos do repertório do artista - casos de Porta aberta e Vi amor no seu olhar II, ambos assinados por Umberto Tavares com Jefferson Junior, e de Não sou feliz sem você (Belo, Pedro Felipe e Rafael Brito) - com uma balada de classudo formato camerístico como Mesmo sem entender (Thalles Roberto). Tanto que o disco nem surpreende quanto sintoniza citação do samba Mas que nada (Jorge Ben Jor, 1963) entre as interferências e ruídos inseridos na faixa Caso sério (Allan Lima e Umberto Tavares). Até o dueto com Ivete Sangalo em Linda rosa (Umberto Tavares e Jefferson Junior) desabrocha com elegância incomum no universo da canção mais popular. É óbvio que Belo dá em Mistério um salto calculado para não afugentar seu cativo público, alvo tanto da sensualidade latente em Voyeur (Diney, Ramón Torres e Tiee) - música do repertório do grupo fluminense de pagode Vou Zuar - como da conexão com a dupla Thaeme & Thiago em Até o sol não nascer mais (Belo, Allan Lima e Suel) e do romantismo popular de Lembra (Umberto Tavares e Jefferson Junior), cuja letra culmina com citação de versos - "Só faço com você / Só gosto com você" - de Adivinha o quê? (Lulu Santos), um dos sucessos da fase inicial da carreira solo de Lulu Santos. Belo não transgride, mas evolui neste disco salutar sem anular sua personalidade artística.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ Dentro dos padrões populares da discografia de Belo, Mistério é o melhor álbum da carreira solo do artista paulistano. Produzido pelo próprio Belo, em parceria com a dupla de produtores e compositores formada por Umberto Tavares com Mãozinha, o disco busca um refinamento próximo do universo da MPB. Lançado pela gravadora Sony Music neste mês de novembro de 2014, Mistério não promove uma ruptura com o pagode romântico, mas tenta ir além do estilo que consagrou este bom cantor que implantou nos anos 1990 - no posto de vocalista do grupo Soweto - um novo modo de cantar samba. O belo fraseado vocal do intérprete embute influências do soul e do r&b norte-americanos, estando bem distante do tom mais descontraído que a turma revelada na quadra do Bloco Cacique de Ramos - Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz à frente - imprimiu ao samba do Rio de Janeiro (RJ). Influência para muitos vocalistas de pagode surgidos ao longo dos últimos 20 anos, Belo continua cantando muito bem. Sua voz valoriza as 16 músicas gravadas em Mistério. Várias são envoltas por cordas arranjadas com delicadeza por Jota Moraes ou Boris. A faixa que abre o disco em clima bossa novista, Feliz (Umberto Tavares e Jefferson Junior), exemplifica bem a intenção do artista de refinar seu som. Parceria de Jorge Vercillo com Jota Maranhão, a música-título Mistério reforça a procura sutil por sons mais belos, assim como Outra vez (Belo, Rafael Brito e Pedro Felipe). O disco consegue soar coeso, mesmo alternando pagodes românticos típicos do repertório do artista - casos de Porta aberta e Vi amor no seu olhar II, ambos assinados por Umberto Tavares com Jefferson Junior, e de Não sou feliz sem você (Belo, Pedro Felipe e Rafael Brito) - com uma balada de classudo formato camerístico como Mesmo sem entender (Thalles Roberto). Tanto que o disco nem surpreende quanto sintoniza citação do samba Mas que nada (Jorge Ben Jor, 1963) entre as interferências e ruídos inseridos na faixa Caso sério (Allan Lima e Umberto Tavares). Até o dueto com Ivete Sangalo em Linda rosa (Umberto Tavares e Jefferson Junior) desabrocha com elegância incomum no universo da canção mais popular. É óbvio que Belo dá em Mistério um salto calculado para não afugentar seu cativo público, alvo tanto da sensualidade latente em Voyeur (Diney, Ramón Torres e Tiee) - música do repertório do grupo fluminense de pagode Vou Zuar - como da conexão com a dupla Thaeme & Thiago em Até o sol não nascer mais (Belo, Allan Lima e Suel) e do romantismo popular de Lembra (Umberto Tavares e Jefferson Junior), cuja letra culmina com citação de versos - "Só faço com você / Só gosto com você" - de Adivinha o quê? (Lulu Santos), um dos sucessos da fase inicial da carreira solo de Lulu Santos. Belo não transgride, mas evolui neste disco salutar sem anular sua personalidade artística.