♪ Na foto acima, de Imas Pereira, o cantor, compositor e percussionista baiano Carlinhos Brown ensaia um passo de deboche, a dança criada por conta da música Fricote (Paulinho Camafeu e Luiz Caldas, 1985). Lançada há 30 anos por Luiz Caldas no álbum Magia (Nova República / PolyGram, 1995), Fricote foi um marco inicial - ao lado de gravações de Gerônimo e Sarajane - do som afro-pop-baiano que seria rotulado pelo jornalista baiano Hagamenon Brito de axé music. Por isso, a música Fricote é citada por Brown na letra da (ótima) música inédita, Por causa de você, composta pelo timbaleiro e lançada pelo compositor neste mês de novembro de 2014, abrindo os festejos pelas três décadas de axé music, a serem comemoradas ao longo de 2015. Com batida contagiante que remete aos tempos iniciais do axé, Por causa de você já pode ser ouvida no canal do artista no portal SoundCloud. O próprio autor da música escreveu na primeira pessoa um texto esperto para contextualizar a composição de Por causa de você. Com a palavra, Carlinhos Brown:
Mas foi no estúdio da WR, de Wesley Rangel, que o professor Carlinhos Marques e os recém-chegados argentinos Nestor Madrid, Bocha Caballero e Guimo Migoya, davam o tom de avanço junto ao movimento instrumental com Zeca Freitas, Sexteto do Beco, Zaquim e Paulinho Andrade. E o incrível era que tudo isso ia além de um movimento musical; era uma ação comunicada. E um inesperado convite para integrar como percussionista oficial da WR me trouxe a grata surpresa de outros grandes encontros com músicos como o baterista Cezinha Lacerda, o tecladista e arranjador Alfredo Moura, o percussionista Espiga, Von Ol.
Espontaneamente começamos a fazer parte de um movimento de comunicação e atendíamos promissores e emergentes publicitários, como Duda Mendonça, Ninzan Guanaes, Fernando Barros, Washinton Oliveto e Giovani Almeida e sua Madragoa. Com um potente cash e compositores inspirados - como Paulinho Camafeu, Jorge Portugal, Vevé Calazans, Walter Queiroz, Batatinha, Dubinha, Ton Ton Flores, Fabio Paz, Carlos Pitta e grandes outros - começava ali o registro do que estava rolando nas ruas, nos bares e nos lares.
Quando chega Roberto Santana com seu selo Nova República e nos requisita para projetos como o disco Mensageiro da alegria, de Gerônimo, Magia, de Luiz Caldas, e Rio de leite de Sarajane.
E foram essas primeiras músicas que começaram a soar no rádio que motivaram dois gênios críticos, Marcelo Nova e Hagamenon Brito, a batizarem o que estava sendo construído. Nas rádios também soavam a música Axé Babá, de Gilberto Gil e, enquanto os músicos mais conceituados nos chamavam de Axé Babaca, Hagamenon Brito nos chamou de Axé Music. E isso era tudo que nossos experimentos buscavam: algo que nos identificasse.
Nosso desejo inicial era de pesquisa, laboratorial. Nós éramos um grupo de estúdio, mas também de estudo. Nós aplicávamos na música o que íamos aprendendo na nossa experiência popular e religiosa: eu vinha das ruas da Bahia, Luiz Caldas do interior do estado, Alfredo Moura e Cezinha de bairros como Graça e Vitória, Carlinhos Marques já com a experiência de tocar com Carlos Lacerda e outros artistas da Jovem Guarda. Fora dali, continuávamos pesquisando no Pelourinho com Neguinho do Samba. Logo depois, quando integrei o Acordes Verdes, liderado por Luiz Caldas, não paramos mais de produzir axé music. O mais importante de tudo isto é que seguimos com uma experiência de estudo e artistas importantes nos confiavam bases, como Chiclete com Banana, Asa de Águia, Sarajane, dentre outros.
O coletivo nasceu muito forte porque todos encontrávamos segurança um nos outros. E o mais importante: Nós sabíamos que éramos filhos de Dodô e Osmar. Naquele momento, cantar as coisas do Brasil era de extrema importância. O pop rock também ganhava força. O Brasil, quando nos ouviu pela primeira vez, nos considerou caribenhos se esquecendo que o Caribe começou aqui. Salvador nasce primeiro que Cuba. Tudo passou aqui primeiro, para depois ir para o Caribe. Essa força não está só nos músicos, mas também nos produtores e comunicadores como Bel Machado, Cristovão Rodrigues, Manolo Posada e uma quantidade gigante de pessoas que deram suas vidas para o que somos hoje.
Estes versos de Por causa de você são para eles e para o público que entendeu tudo isso. Claro que os subprodutos macularam muitas pérolas do movimento, mas que tal redescobri-las agora?
Muito obrigado Pintado do Bongô, Gigante de Bagdá, Arquimedes, Nelson Maleiro, Professor Edgar Santos, Mestre Prego, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Maiamba, Antônio Risério, Caetano, Eron, Buziga. Muito obrigado a você, muito obrigado axé!"
6 comentários:
♪ Na foto acima, de Imas Pereira, o cantor, compositor e percussionista baiano Carlinhos Brown ensaia um passo de deboche, a dança criada por conta da música Fricote (Paulinho Camafeu e Luiz Caldas, 1985). Lançada há 30 anos por Luiz Caldas no álbum Magia (Nova República / PolyGram, 1995), Fricote foi um marco inicial - ao lado de gravações de Gerônimo e Sarajane - do som afro-pop-baiano que seria rotulado pelo jornalista baiano Hagamenon Brito de axé music. Por isso, a música Fricote é citada por Brown na letra da (ótima) música inédita, Por causa de você, composta pelo timbaleiro e lançada pelo compositor neste mês de novembro de 2014, abrindo os festejos pelas três décadas de axé music, a serem comemoradas ao longo de 2015. Com batida contagiante que remete aos tempos iniciais do axé, Por causa de você já pode ser ouvida no canal do artista no portal SoundCloud. O próprio autor da música escreveu na primeira pessoa um texto esperto para contextualizar a composição de Por causa de você.
Francamente!! Carlinhos Brown é brasileiro para inglês ver. Do verdadeiro Brasil não ten absolutamente nada, é uma batucada infernal que não nunca se torna música, um estereótipo sem fim.
Carlinhos Brown é prolixo no falar, mas sua capacidade de criar musicalmente é inquestionável.
Aos que não conseguem distinguir sua música de uma "batucada infernal", recomendo, além da audição mais atenta de seus discos (particularmente os primeiros), procurar ver o documentário "O Milagre do Candeal", do diretor espanhol Fernando Trueba.
Esse movimento tinha, no seu inicio, uma raiz afro muito mais interessante do que se tornou posteriormente quando rumou pro 'pop', uma música sem cor. Mas haviam nomes muito bons relembrados pelo texto de Brown.
Eu gosto muito do disco "Omelete Man" de 1998,é um trabalho primoroso, bem diversificado, mas tudo esta muito bem colocado, não sei se foi por que teve produção da Marisa Monte, mas é o único trabalho do Brown que realmente é maravilhoso da primeira a última faixa. Os outros discos são interessantes apenas em partes. A questão do Carlinhos é que ele mistura muito nos discos, fica muito carregado você não conesegue penetrar no disco.A mistura é bem vinda desde que tenha um objetivo ou um segmento.Eu ainda espero um bom disco do Brown, mas eu fico com Omelete Man :)
O axé nos primórdios era uma expressão musical positiva,depois pasteurizou.Quanto a este tal de Brown,quando acerta é genial.
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