Mauro Ferreira no G1

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domingo, 9 de novembro de 2014

Casuarina oscila no passo de Caymmi, embora mostre real evolução no álbum

Resenha de álbum
Título: Casuarina no passo de Caymmi
Artista: Casuarina
Gravadora: Superlativa
Cotação: * * *

É bem difícil seguir o passo de Dorival Caymmi (1914 - 2008), compositor de músicas aparentemente simples, mas que exigem apuro de seus intérpretes - até porque todas já foram gravadas de forma magistral pelo próprio cantor e compositor baiano. Embora convidativo a mergulhos nesse cancioneiro de arquitetura original, o mar de Caymmi esconde perigos em suas ricas profundezas. Grupo carioca de samba que despontou no mercado fonográfico há dez anos, o Casuarina não se afoga nesse mar ao longo do CD No passo de Caymmi, mas tampouco emerge dele com gravações capazes de serem alinhadas entre os melhores registros da obra do compositor centenário.  Produção independente da Superlativa, o CD No passo de Caymmi registra em estúdio o show homônimo que o grupo estreou em maio deste ano de 2014, no rastro das comemorações dos 100 anos de nascimento do Buda Nagô. Em 16 faixas, o disco alinha 17 músicas de Caymmi lançadas entre 1939 e 1994. Algumas - como o samba Maricotinha (1994), levado no disco no ritmo ditado pelas mãos - estão alocadas como vinhetas. Embora o Casuarina oscile no passo de Caymmi, o grupo mostra evolução, nem tanto na parte vocal - embora haja brilho nesse quesito, perceptível já na harmonização de Suíte dos pescadores (1957) - mas sobretudo  nos arranjos criados por Daniel Montes e João Fernandes. Gravado com mix de molejo carioca e manemolência baiana, o samba Você já foi à Bahia? (1941) aponta na sequência o passo seguido pelo Casuarina em músicas como Lá vem a baiana (1947). Abordagens como a de Peguei um ita no Norte (1945) - tema ouvido no canto do vocalista João Cavalcanti - indicam o apuro dos arranjos. Requinte ratificado no toque do violão que introduz Saudade da Bahia (1957), samba cuja combinação de vozes na gravação do Casuarina remete - nessa introdução - aos grupos vocais da fase pré-Bossa. Tal evocação também é feita em algumas partes de Dora (1945), música que pede interpretação mais viçosa, problema também detectado em É doce morrer no mar (Dorival Caymmi e Jorge Amado, 1941), tema talhado para vozes de alcance mais profundo. Da mesma forma, o samba A vizinha do lado (1946) carece de dengo e malícia no registro do Casuarina. Sambas-canção como Só louco (1955) e Marina (1947) - com sonoridade que remete aos conjuntos regionais dos anos 1940 - reiteram que o mergulho do Casuarina na obra de Caymmi têm arranjos mais inspirados do que as interpretações em si. Oração de Mãe Menininha (1972), por exemplo, tem diluída sua sagrada carga espiritual na vinheta ouvida no disco produzido pelo próprio Casuarina. Já O bem do mar (1954) se destaca no álbum justamente pelo equilíbrio entre arranjo e canto. De todo modo, ao seguir o passo de Dorival Caymmi, o Casuarina mostra que está em movimento, indo bem além das fronteiras do bairro da Lapa, matriz do grupo carioca.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ É difícil seguir o passo de Dorival Caymmi (1914 - 2008), compositor de músicas aparentemente simples, mas que exigem apuro de seus intérpretes - até porque todas já foram gravadas de forma magistral pelo próprio cantor e compositor baiano. Embora convidativo a mergulhos nesse cancioneiro de arquitetura original, o mar de Caymmi esconde perigos em suas ricas profundezas. Grupo carioca de samba que despontou no mercado fonográfico há dez anos, o Casuarina não se afoga nesse mar ao longo do CD No passo de Caymmi, mas tampouco emerge dele com gravações capazes de serem alinhadas entre os melhores registros da obra do compositor centenário. Produção independente da Superlativa, o CD No passo de Caymmi registra em estúdio o show homônimo que o grupo estreou em maio deste ano de 2014, no rastro das comemorações dos 100 anos de nascimento do Buda Nagô. Em 16 faixas, o disco alinha 17 músicas de Caymmi lançadas entre 1939 e 1994. Algumas - como o samba Maricotinha (1994), levado no disco no ritmo ditado pelas mãos - estão alocadas como vinhetas. Embora o Casuarina oscile no passo de Caymmi, o grupo mostra evolução, nem tanto na parte vocal - embora haja brilho nesse quesito, perceptível já na harmonização de Suíte dos pescadores (1957) - mas sobretudo nos arranjos criados por Daniel Montes e João Fernandes. Gravado com mix de molejo carioca e manemolência baiana, o samba Você já foi à Bahia? (1941) aponta na sequência o passo seguido pelo Casuarina em músicas como Lá vem a baiana (1947). Abordagens como a de Peguei um ita no Norte (1945) - tema ouvido no canto do vocalista João Cavalcanti - indicam o apuro dos arranjos. Requinte ratificado no toque do violão que introduz Saudade da Bahia (1957), samba cuja combinação de vozes na gravação do Casuarina remete - nessa introdução - aos grupos vocais da fase pré-Bossa. Tal evocação também é feita em algumas partes de Dora (1945), música que pede interpretação mais viçosa, problema também detectado em É doce morrer no mar (Dorival Caymmi e Jorge Amado, 1941), tema talhado para vozes de alcance mais profundo. Da mesma forma, o samba A vizinha do lado (1946) carece de dengo e malícia no registro do Casuarina. Sambas-canção como Só louco (1955) e Marina (1947) - com sonoridade que remete aos conjuntos regionais dos anos 1940 - reiteram que o mergulho do Casuarina na obra de Caymmi têm arranjos mais inspirados do que as interpretações em si. Oração de Mãe Menininha (1972), por exemplo, tem diluída sua sagrada carga espiritual na vinheta ouvida no disco produzido pelo próprio Casuarina. Já O bem do mar (1954) se destaca no álbum justamente pelo equilíbrio entre arranjo e canto. De todo modo, ao seguir o passo de Dorival Caymmi, o Casuarina mostra que está em movimento, indo bem além das fronteiras do bairro da Lapa, matriz do grupo.