Resenha de filme
Título: Tim Maia
Direção: Mauro Lima
Roteiro: Mauro Lima e Antônia Pellegrino
Direção musical: Berna Ceppas
Elenco: Babu Santana, Robson Nunes, Cauã Reymond e Alinne Moraes
Cotação: * * * *
♪ A vida de Sebastião Rodrigues Maia (28 de setembro de 1942 - 15 de março de 1998) daria tanto um livro como um filme. E deu os dois. Escrita pelo jornalista carioca Nelson Motta, a biografia de Tim Maia, Vale tudo - O som e a fúria de Tim Maia (Objetiva, 2007), é a base do filme que entrou em cartaz nos cinemas no Brasil anteontem, 30 de outubro de 2014. Dirigido pelo cineasta Mauro Lima com o Padrão Globo Filmes de qualidade, Tim Maia é cinebiografia com ar de blockbuster. O trunfo do roteiro, assinado por Lima com Antônia Pellegrino, é a própria personagem, de trajetória improvável. Mulato gordo e feio crescido na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ), Tim Maia desafiou o destino ingrato que a vida provavelmente lhe reservaria com seu espírito indomado. Tim Maia subiu na vida no grito, espantando inimigos reais e imaginários com o vozeirão que traduziu a soul music para o idioma musical do Brasil. Por isso mesmo, é definidora a cena inicial em que Tim, então o jovem baterista do efêmero conjunto Os Tijucanos do Ritmo, parte com tudo para cima de um colega desse grupo que nasceu e morreu nos primeiros ensaios. Se a personagem é irresistível, os dois atores que a interpretam se mostram irretocáveis na tela, auxiliados por caracterizações impecáveis. Robson Nunes (o Tim da adolescência) e Babu Santana (o Tim da fase adulta e do sucesso) estão perfeitos e valem o filme. Assim como Tiago Abravanel fez valer o eletrizante musical de teatro que estreou em 2011 com produção bem mais modesta do que a do longa-metragem. Se o musical mostrou Tim em todas as fases da vida, o filme se concentra no período que vai de sua adolescência até 1978, ano da composição de Sossego, sucesso do álbum Tim Maia Disco Club (Warner Music, 1978), LP que devolveu ao cantor a popularidade perdida a partir da adesão à controvertida seita Universo em Desencanto. A opção por mostrar Tim até os anos 1970 - a década áurea de sua produção musical (reproduzida com maestria na tela por Berna Ceppas, diretor musical do filme) - priva o espectador de ver o cantor na fase mais açucarada dos anos 1980, década de hits como Me dê motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1983), totalmente omitida na narrativa. Mas o fato é que a história da vida de Tim Maia é tão boa que é difícil resistir ao filme. As duas horas e vinte minutos da narrativa fluem com leveza na tela, com doses altas de humor por conta das tiradas cotidianas do artista. A dose de drogas no roteiro também é alta, compatível com a realidade do cantor. Se o retrato de Tim é pintado sem maniqueísmos na tela, a escalação do elenco pedia reparos. Se os dois protagonistas estão sempre fenomenais, o elenco coadjuvante resulta irregular. Excelente ator, George Sauma compõe Roberto Carlos no limite da caricatura, de forma pouco crível. Produtor associado do filme, o talentoso Cauã Reymond também parece não ser o rosto ideal para viver o cantor Fábio, narrador do filme e retratado como síntese dos amigos de Tim. Se a escalação tem erros eventuais, o roteiro se mostra ágil e sedutor, retratando a ascensão de Tim com propriedade. A única falha é a omissão do primeiro disco de Tim - um compacto mal-sucedido, editado pela CBS em 1968 - de forma que o roteiro induz o espectador a pensar que o cantor somente teve chance de fazer um disco quando Roberto Carlos gravou seu funk Não vou ficar em álbum de 1969. De todo modo, foi mesmo a partir daí que as portas do sucesso se abriram para Tim Maia. As reconstituições de show de 1993 e do não realizado espetáculo de 1998 - o último de Tim, que saiu do palco do Theatro Municipal de Niterói (RJ) aos primeiros minutos da apresentação para entrar na ambulância que o levaria ao hospital em que sairia de cena - permitem a conclusão da história sem carregar no melodriama. Tim Maia é um filme grande como o cantor que expõe em cena com suas particularidades - inclusive com o vozeirão que ecoa na memória afetiva do Brasil.
♪ A vida de Sebastião Rodrigues Maia (28 de setembro de 1942 - 15 de março de 1998) daria tanto um livro como um filme. E deu os dois. Escrita pelo jornalista carioca Nelson Motta, a biografia de Tim Maia, Vale tudo - O som e a fúria de Tim Maia (Objetiva, 2007), é a base do filme que entrou em cartaz nos cinemas no Brasil anteontem, 30 de outubro de 2014. Dirigido pelo cineasta Mauro Lima com o Padrão Globo Filmes de qualidade, Tim Maia é cinebiografia com ar de blockbuster. O trunfo do roteiro, assinado por Lima com Antônia Pellegrino, é a própria personagem, de trajetória improvável. Mulato gordo e feio crescido na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ), Tim Maia desafiou o destino ingrato que a vida provavelmente lhe reservaria com seu espírito indomado. Tim Maia subiu na vida no grito, espantando inimigos reais e imaginários com o vozeirão que traduziu a soul music para o idioma musical do Brasil. Por isso mesmo, é definidora a cena inicial em que Tim, então o jovem baterista do efêmero conjunto Os Tijucanos do Ritmo, parte com tudo para cima de um colega desse grupo que nasceu e morreu nos primeiros ensaios. Se a personagem é irresistível, os dois atores que a interpretam se mostram irretocáveis na tela, auxiliados por caracterizações impecáveis. Robson Nunes (o Tim da adolescência) e Babu Santana (o Tim da fase adulta e do sucesso) estão perfeitos e valem o filme. Assim como Tiago Abravanel fez valer o eletrizante musical de teatro que estreou em 2011 com produção bem mais modesta do que a do longa-metragem. Se o musical mostrou Tim em todas as fases da vida, o filme se concentra no período que vai de sua adolescência até 1978, ano da composição de Sossego, sucesso do álbum Tim Maia Disco Club (Warner Music, 1978), LP que devolveu ao cantor a popularidade perdida a partir da adesão à controvertida seita Universo em Desencanto. A opção por mostrar Tim até os anos 1970 - a década áurea de sua produção musical (reproduzida com maestria na tela por Berna Ceppas, diretor musical do filme) - priva o espectador de ver o cantor na fase mais açucarada dos anos 1980, década de hits como Me dê motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1983), totalmente omitida na narrativa. Mas o fato é que a história da vida de Tim Maia é tão boa que é difícil resistir ao filme. As duas horas e vinte minutos da narrativa fluem com leveza na tela, com doses altas de humor por conta das tiradas cotidianas do artista. A dose de drogas no roteiro também é alta, compatível com a realidade do cantor. Se o retrato de Tim é pintado sem maniqueísmos na tela, a escalação do elenco pedia reparos. Se os dois protagonistas estão sempre fenomenais, o elenco coadjuvante resulta irregular. Excelente ator, George Sauma compõe Roberto Carlos no limite da caricatura, de forma pouco crível. Produtor associado do filme, o talentoso Cauã Reymond também parece não ser o rosto ideal para viver o cantor Fábio, narrador do filme e retratado como síntese dos amigos de Tim. Se a escalação tem erros eventuais, o roteiro se mostra ágil e sedutor, retratando a ascensão de Tim com propriedade. A única falha é a omissão do primeiro disco de Tim - um compacto mal-sucedido, editado pela CBS em 1968 - de forma que o roteiro induz o espectador a pensar que o cantor somente teve chance de fazer um disco quando Roberto Carlos gravou seu funk Não vou ficar em álbum de 1969. De todo modo, foi mesmo a partir daí que as portas do sucesso se abriram para Tim Maia. As reconstituições de show de 1993 e do não realizado espetáculo de 1998 - o último de Tim, que saiu do palco do Theatro Municipal de Niterói (RJ) aos primeiros minutos da apresentação para entrar na ambulância que o levaria ao hospital em que sairia de cena - permitem a conclusão da história sem carregar no melodriama. Tim Maia é um filme grande como o cantor que expõe em cena com suas particularidades - inclusive com o vozeirão que ecoa na memória afetiva do Brasil.
ResponderExcluirAssisti o filme ontem e como você colocou, apesar de algumas omissões sobre a carreira do cantor, o filme é irresistível. Você sabe qual o nome daquela música que toca no momento em que o personagem é levado de ambulância? É a única que aparece no filme que não conheço.
ResponderExcluirOi, Maria, não lembro da música, infelizmente. Abs, grato pelo comentário, MauroF
ResponderExcluirO que houve no show de 1993 para que ele seja retratado no filme? Desculpe a ignorância, mas fiquei curioso, e não achei nada no Google sobre...
ResponderExcluirNada houve de especial neste show de 1993, Guidolino. Foi apenas uma forma de mostrar o reencontro de Tim com a personagem fictícia Janaína. Abs, MauroF
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ResponderExcluirA Cultura Racional trouxe equilíbrio para Tim Maia que se livrou dos vícios.
ResponderExcluirMas a Cultura Racional por não ser seita, doutrina, religião ou filosofia, não prende ninguém a nada, muito ao contrário, dá toda liberdade de expressão.
Assim sendo, cada um é responsável em colher o que plantar.
Isso aconteceu com Tim Maia.
Foi convidado a se retirar da Cultura Racional, por não ser um meio comercial e nem de geração de lucros.
Revoltado, não quis mais comentar o fato, porém, destilou o veneno que o meio não era bom e tratava-se de uma seita.
Aos que procuram pela verdade, terão provas que não tem cabimento tais acusações, pois não se pode rotular como seita, uma Cultura que soluciona a vida do leitor.
O próprio autor do Livro já mencionava em sua Obra que tais abutres tentariam enganar Deus, com propósitos explorativos.
Leia você também o Livro Universo em Desencanto.
Maria Faria o nome da música é " Você "
ResponderExcluirO nome da música de quando Tim vai para a ambulância é Supermundo Racional. Essa música faz parte do volume 3 da fase Tim Maia Racional. Esse CD com essa música foi lançado apenas em 2011.
ResponderExcluirE o nome da música que ele canta na boate pela primeira vez
ExcluirQual o nome da música que ele canta pela primeira vez na boate
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