Resenha de musical de teatro
Título: Chacrinha - O musical
Texto: Pedro Bial e Rodrigo Nogueira
Direção: Andrucha Waddington
Direção musical e arranjos: Delia Fischer
Elenco: Stepan Nercessian (como Chacrinha - em foto de Juliana Cerdeira), Leo Bahia (como Abelardo Barbosa) e outros
Cotação: * * *
Espetáculo em cartaz de quinta-feira a domingo no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro (RJ), até 1º de março de 2015
♪ Percussionista que se tornou radialista e, do rádio, migrou em 1957 para a TV já personificado como Chacrinha, o apresentador pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros (30 de setembro de 1917 - 30 de junho de 1988) teve papel fundamental na propagação de discos e músicas. Dos anos 1960 aos 1980, uma aparição em qualquer um de seus programas - A discoteca do Chacrinha, A buzina do Chacrinha ou O cassino do Chacrinha - era a garantia de projeção nacional para cantores que disputavam o então rentável mercado fonográfico brasileiro. Recém-estreado no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro (RJ), em temporada prevista para se estender até 1º de março de 2015, o musical sobre o mais tropicalista dos comunicadores seduz ao atiçar a memória afetiva de várias gerações que viram os programas do Chacrinha em emissoras como a Tupi, Rio Excelsior, Globo e Bandeirantes. Feitas no segundo ato, as convincentes reconstituições dos programas de Chacrinha na televisão dão caráter quase mágico à encenação. As recriações são sustentadas pela incrível atuação do ator goiano Stepan Nercessian, que mimetiza Chacrinha em cena com perfeição gestual e vocal em um trabalho de excelência que justifica o clichê interpretação mediúnica. É nesse segundo ato - com mais magnetismo do que teatralidade em si - que desfilam pelo palco, em traços geralmente caricaturais, cantores como Ney Matogrosso, Fábio Jr. e Elba Ramalho em números musicais mais talhados para provocar riso do que encantamento. Paira a sensação de que todo o primeiro ato - no qual Abelardo Barbosa é talentosamente interpretado na juventude pelo ator fluminense Leo Bahia, recente revelação da cena teatral carioca pela luminosa atuação na montagem estudantil do musical O livro dos mórmons (2013) - foi mero preâmbulo para o segundo ato, quando a montagem dirigida pelo cineasta Andrucha Waddington adquire vivacidade e sentido. Justiça seja feita: o texto - escrito por Pedro Bial e finalizado por Rodrigo Nogueira - foge da fórmula dos musicais biográficos, normalmente estruturados na mera exposição cronológica dos principais fatos da vida e obra da personalidade eleita para ter sua trajetória reconstituída em cena. Ao inserir na dramaturgia elementos do pastoril, criando uma espécie de duplo de Chacrinha na persona do líder desta manifestação folclórica especialmente popular em Pernambuco, os autores fogem do realismo biográfico, sobretudo quando promovem encontros fictícios entre o Velho Palhaço e Abelardo Barbosa, recurso bisado no segundo ato com menor força cênica. De todo modo, o primeiro ato é pautado por cenas que traçam o perfil do jovem Abelardo Barbosa - nascido na interiorana cidade de Surubim (PE) - na infância e na juventude dividida entre o ofício de percussionista, a faculdade de Medicina e as primeiras experiências no rádio. O texto consegue mostrar como Abelardo Barbosa virou Chacrinha, fechando magistralmente o primeiro ato com a primeira aparição de Stepan Nercessian como Chacrinha por trás de Leo Bahia, numa espécie de passagem da coroa, mas o musical fica na superfície quando apenas esboça no segundo ato os conflitos de Abelardo diante da supremacia da personagem Chacrinha no imaginário do povo brasileiro. Só que aí Chacrinha já está em cena como na TV, revivido mimeticamente por Stepan na recriação dos programas. E a plateia-auditório não resiste quando o espetáculo aciona a memória afetiva do espectador. Do ponto de vista musical, o espetáculo é primário. Dentro de sua (aparente) desorganização, os programas de Chacrinha tinham uma lógica inexistente no musical, que mais confunde do que explica ao longo da exposição de músicas cantadas na Discoteca, na Buzina ou no Cassino do Chacrinha. Confusão evidente já no grande pot-pourri alocado ao início do espetáculo quando, em meio ao universo folclórico do pastoril, são ouvidas músicas que foram sucessos nas vozes de cantores e grupos como Lulu Santos (O último romântico, Lulu Santos / Antonio Cícero e Sérgio de Almeida, 1984), Lady Zu (A noite vai chegar, Paulinho Camargo, 1977) e Absyntho (Meu ursinho blau blau, Sérgio Diamante e Paulo Massadas, 1983), entre outros hits alinhados no roteiro sem conexão ou lógica com que se vê em cena. Como o vasto elenco de Chacrinha - O musical não inclui virtuoses vocais, todo o charme e sedução do espetáculo residem na reconstituição crível dos programas de auditório do Velho Guerreiro. É quando Stepan Nercessian domina a cena com seu brilho inusitado, personificando Chacrinha com tal precisão que a memória afetiva trai o espectador a cada vez que o programa entra no ar, criando a ilusão de que o musical sobre o velho palhaço é mais interessante e bem-resolvido do que ele realmente é...
♪ Percussionista que se tornou radialista e, do rádio, migrou em 1957 para a TV já personificado como Chacrinha, o apresentador pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros (30 de setembro de 1917 - 30 de junho de 1988) teve papel fundamental na propagação de discos e músicas. Dos anos 1960 aos 1980, uma aparição em qualquer um de seus programas - A discoteca do Chacrinha, A buzina do Chacrinha ou O cassino do Chacrinha - era a garantia de projeção nacional para cantores que disputavam o então rentável mercado fonográfico brasileiro. Recém-estreado no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro (RJ), em temporada prevista para se estender até 1º de março de 2015, o musical sobre o mais tropicalista dos comunicadores seduz ao atiçar a memória afetiva de várias gerações que viram os programas do Chacrinha em emissoras como a Tupi, Rio Excelsior, Globo e Bandeirantes. Feitas no segundo ato, as convincentes reconstituições dos programas de Chacrinha na televisão dão caráter quase mágico à encenação. As recriações são sustentadas pela incrível atuação do ator goiano Stepan Nercessian, que mimetiza Chacrinha em cena com perfeição gestual e vocal em um trabalho de excelência que justifica o clichê interpretação mediúnica. É nesse segundo ato - com mais magnetismo do que teatralidade em si - que desfilam pelo palco, em traços geralmente caricaturais, cantores como Ney Matogrosso, Fábio Jr. e Elba Ramalho em números musicais mais talhados para provocar riso do que encantamento. Paira a sensação de que todo o primeiro ato - no qual Abelardo Barbosa é talentosamente interpretado na juventude pelo ator fluminense Leo Bahia, recente revelação da cena teatral carioca pela luminosa atuação na montagem estudantil do musical O livro dos mórmons (2013) - foi mero preâmbulo para o segundo ato, quando a montagem dirigida pelo cineasta Andrucha Waddington adquire vivacidade e sentido. Justiça seja feita: o texto - escrito por Pedro Bial e finalizado por Rodrigo Nogueira - foge da fórmula dos musicais biográficos, normalmente estruturados na mera exposição cronológica dos principais fatos da vida e obra da personalidade eleita para ter sua trajetória reconstituída em cena. Ao inserir na dramaturgia elementos do pastoril, criando uma espécie de duplo de Chacrinha na persona do líder desta manifestação folclórica especialmente popular em Pernambuco, os autores fogem do realismo biográfico, sobretudo quando promovem encontros fictícios entre o Velho Palhaço e Abelardo Barbosa, recurso bisado no segundo ato com menor força cênica. De todo modo, o primeiro ato é pautado por cenas que traçam o perfil do jovem Abelardo Barbosa - nascido na interiorana cidade de Surubim (PE) - na infância e na juventude dividida entre o ofício de percussionista, a faculdade de Medicina e as primeiras experiências no rádio. O texto consegue mostrar como Abelardo Barbosa virou Chacrinha, fechando magistralmente o primeiro ato com a primeira aparição de Stepan Nercessian como Chacrinha por trás de Leo Bahia, numa espécie de passagem da coroa, mas o musical fica na superfície quando apenas esboça no segundo ato os conflitos de Abelardo diante da supremacia da personagem Chacrinha no imaginário do povo brasileiro. Só que aí Chacrinha já está em cena como na TV, revivido mimeticamente por Stepan na recriação dos programas. E a plateia-auditório não resiste quando o espetáculo aciona a memória afetiva do espectador.
ResponderExcluirDo ponto de vista musical, o espetáculo é primário. Dentro de sua (aparente) desorganização, os programas de Chacrinha tinham uma lógica inexistente no musical, que mais confunde do que explica ao longo da exposição de músicas cantadas na Discoteca, na Buzina ou no Cassino do Chacrinha. Confusão evidente já no grande pot-pourri alocado ao início do espetáculo quando, em meio ao universo folclórico do pastoril, são ouvidas músicas que foram sucessos nas vozes de cantores e grupos como Lulu Santos (O último romântico, Lulu Santos / Antonio Cícero e Sérgio de Almeida, 1984), Lady Zu (A noite vai chegar, Paulinho Camargo, 1977) e Absyntho (Meu ursinho blau blau, Sérgio Diamante e Paulo Massadas, 1983), entre outros hits alinhados no roteiro sem conexão ou lógica com que se vê em cena. Como o vasto elenco de Chacrinha - O musical não inclui virtuoses vocais, todo o charme e sedução do espetáculo residem na reconstituição crível dos programas de auditório do Velho Guerreiro. É quando Stepan Nercessian domina a cena com seu brilho inusitado, personificando Chacrinha com tal precisão que a memória afetiva trai o espectador a cada vez que o programa entra no ar, criando a ilusão de que o musical sobre o velho palhaço é mais interessante e bem-resolvido do que ele realmente é...
ResponderExcluirquando vier pra são paulo pretendo ver
ResponderExcluir