terça-feira, 4 de novembro de 2014

'Não pare pra pensar' sinaliza ruptura na relação musical de Takai e Ulhoa

Resenha de CD
Título: Não pare pra pensar
Artista: Pato Fu
Gravadora: Rotomusic / Sony Music
Cotação: * * *

A audição do primeiro álbum de inéditas do grupo mineiro Pato Fu em sete anos - Não pare pra pensar, lançado oficialmente hoje, 4 de novembro de 2014, em edição do selo Rotomusic distribuída via Sony Music - sinaliza cisão na relação musical entre Fernanda Takai e John Ulhoa. Líder e porta-voz da banda, o casal parece viver momento de dissonância sonora, retratada na distribuição vocal do repertório do primeiro disco de inéditas do Pato Fu desde Daqui pro futuro (Rotomusic, 2007). Se Takai dá voz às canções mais melódicas que versam sobre amores partidos ou felizes, em linha próxima do que segue em sua festejada discografia solo, Ulhoa assina as dez inéditas do CD - quase sempre sozinho e eventualmente em parceria com o baixista Ricardo Koctus - e se aventura como cantor nos dois rocks do 12º álbum do Pato Fu, Ninguém mexe com o diabo (John Ulhoa) - faixa de tonalidade sombria, épica - e You have to outgrown rock'n'roll (John Ulhoa). Se existe mesmo o descompasso musical entre o casal que harmoniza o pop nacional há 20 anos, a tônica recai sobre Takai. Por mais que guitarras sejam ouvidas na introdução da música que abre o disco, Cego para as cores (John Ulhoa), Não pare pra pensar é disco pautado por canções, dominantes a partir da quinta das 11 faixas. Uma das melhores, Eu era feliz (John Ulhoa, Ricardo Koctus e Roberta Campos) tem a melancolia de seus versos diluída em contraste com a leveza pop do arranjo. Outro destaque de um disco que não figura entre os mais inspirados do Pato Fu, Sigo mesmo no escuro (John Ulhoa e Ricardo Koctus) enxerga no fim do túnel a luz que clareia Um dia do seu sol (John Ulhoa), canção que endurece com a progressiva pegada roqueira sem perder a ternura pop folk. Dura mesmo é a robótica música-título Não pare pra pensar (John Ulhoa), marcada pelo imperativo refrão-título e também pelos beats eletrônicos entranhados em todo o álbum. Já Pra qualquer bicho (John Ulhoa) - música que fala de lágrimas com direito a trocadilho nos versos "Eu choro pra cachorro / Eu choro pra você / Pra qualquer bicho que merecer" - se diferencia por trazer a voz de Ritchie, o cantor inglês de vivência brasileira que despontou em 1983 com o sucesso Menina veneno (Ritchie e Bernardo Vilhena, 1983). A música também se destaca - inclusive pela pegada do arranjo - neste álbum irregular no qual não se detecta o tom lúdico dos primeiros álbuns do Pato Fu, ainda que haja certa ironia mordaz em Eu ando tendo sorte (John Ulhoa), faixa de sedutora moldura instrumental. Única investida do grupo em território alheio, a regravação de Mesmo que seja eu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1982) destoa do tom do disco, em contrapartida, estando mais sintonizada com a obra solo de Takai. No todo, Não pare pra pensar - álbum que marca o ingresso no Pato Fu do baterista Glauco Mendes, músico (de outra banda mineira, Tianastácia) que passa a ocupar o posto deixado vago pelo dissidente Xande Tamietti - tem lá seus reais bons momentos, mas deixa a impressão de que algo pode estar fora da ordem musical. Entre rocks e baladas, Não pare pra pensar não diz a que veio.

Um comentário:

  1. ♪ A audição do primeiro álbum de inéditas do grupo mineiro Pato Fu em sete anos - Não pare pra pensar, lançado oficialmente hoje, 4 de novembro de 2014, em edição do selo Rotomusic distribuída via Sony Music - sinaliza cisão na relação musical entre Fernanda Takai e John Ulhoa. Líder e porta-voz da banda, o casal parece viver momento de dissonância sonora, retratada na distribuição vocal do repertório do primeiro disco de inéditas do Pato Fu desde Daqui pro futuro (Rotomusic, 2007). Se Takai dá voz às canções mais melódicas que versam sobre amores partidos ou felizes, em linha próxima do que segue em sua festejada discografia solo, Ulhoa se aventura como cantor nos dois rocks do 12º álbum do Pato Fu, Ninguém mexe com o diabo - faixa de tonalidade sombria - e You have to outgrown rock'n'roll. Se existe mesmo o descompasso musical entre o casal que harmoniza o pop nacional há 20 anos, a tônica recai sobre Takai. Por mais que guitarras sejam ouvidas na introdução da música que abre o disco, Cego para as cores, Não pare pra pensar é disco pautado por canções, dominantes a partir da quinta das 11 faixas. Uma das melhores, Eu era feliz, tem a melancolia de seus versos diluída em contraste com a leveza pop do arranjo. Outro destaque de um disco que não figura entre os mais inspirados do Pato Fu, Sigo mesmo no escuro enxerga no fim do túnel a luz que clareia Um dia do seu sol, canção que endurece com a progressiva pegada roqueira sem perder a ternura pop. Dura mesmo é a robótica música-título Não pare pra pensar, marcada pelo imperativo refrão-título. Já Pra qualquer bicho - que fala de lágrimas com direito a trocadilho nos versos "Eu choro pra cachorro / Eu choro pra você / Pra qualquer bicho que merecer" - se diferencia por trazer a voz de Ritchie, o cantor inglês de vivência brasileira que despontou em 1983 com o sucesso Menina veneno. A música também se destaca - inclusive pela pegada do arranjo - neste álbum irregular no qual não se detecta o tom lúdico dos primeiros álbuns do Pato Fu, ainda que haja certa ironia mordaz em Eu ando tendo sorte, faixa de instrumental sedutor. Única investida do grupo em território alheio, a regravação de Mesmo que seja eu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1982) destoa do tom do disco, em contrapartida, estando mais sintonizada com a obra solo de Takai. No todo, Não pare pra pensar - álbum que marca o ingresso no Pato Fu do baterista Glauco, músico (de outra banda mineira, Tianastácia) que passa a ocupar o posto deixado vago pelo dissidente Xande - tem lá seus reais bons momentos, mas deixa a impressão de que algo pode estar fora da ordem musical.

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