Título: Telma Costa
Artista: Telma Costa
Gravadora da edição original de 1983: Opus Columbia / Som Livre
Gravadora da reedição em CD de 2014: Kuarup
Cotação: * * * 1/2
♪ Ouvido em perspectiva na bem-vinda reedição em CD da gravadora Kuarup, 31 anos após seu lançamento via Som Livre, o primeiro e único álbum da cantora mineira Telma Costa (1953 - 1989) deixa a impressão de ter sido gravado um pouco tarde demais, em 1983, ano em que a música brasileira começava a mudar de ares e tons com o império do rock e o nascimento da era Sullivan & Massadas. O que talvez explique o fato de o disco jamais ter cumprido sua alta expectativa mercadológica. Afinal, Telma Costa foi álbum feito com orçamento de grandes produções fonográficas. A rigor, foi uma superprodução orquestrada por Dori Caymmi sob a direção artística de Max Pierre para sedimentar a carreira da cantora, irmã da compositora mineira Sueli Costa. Ícones da MPB forneceram repertório inédito para Telma, que alcançara certa projeção ao gravar Eu te amo (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1980) em dueto com Chico Buarque em álbum, Vida (Ariola, 1980), do cantor e compositor carioca. Um deles - Caetano Veloso, autor e convidado da canção Certeza da beleza - até marcou presença no álbum, dividindo a interpretação de sua música com a anfitriã. Enfim, tudo no disco Telma Costa soa requintado, só que não necessariamente sedutor. O fato é que, ouvido anos depois, algo parece fora da ordem. Talvez sejam os teclados de César Camargo Mariano, excessivos no arranjo criado por Mariano para a regravação do samba Coisa feita (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1982) e executado por músicos do grupo Roupa Nova. Seja o que for, a voz de Telma Costa - cantora que começou a cantar nos anos 1960 em Juiz de Fora (MG), sua terra natal, e que veio para a cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1970 tentar a sorte no mundo da música - jamais saiu do tom nas 11 músicas do álbum. "Era um fio de voz, uma emissão delicada e precisa que fazia valer a nota musical", como caracteriza apropriadamente o cineasta Walter Lima Jr. - segundo marido de Telma - em breve depoimento reproduzido no encarte, que também traz letras e texto biográfico assinado por Alcides Ferreira. Dentre canções então inéditas como Lembra (Ivan Lins e Vítor Martins), o destaque do disco é Fruta boa (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1983), canção brilhantemente emoldurada por Alberto Arantes em arranjo com flautas, trompas e harpas. Como produtor e arranjador do disco, Dori Caymmi não estava em seu momento mais inspirado. Mas cabe ressaltar a beleza das cordas que envolvem Espelho das águas (Antonio Carlos Jobim, 1981) e a excelência do time de músicos arregimentados para o disco - virtuoses do naipe dos pianistas Gilson Peranzzetta e Luiz Avelar, do violonista Hélio Delmiro e do baixista Luiz Alves. Também com músicas medianas que permaneceram esquecidas no baú da MPB, casos de Ilusão (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e Não vale mais chorar (Toninho Horta e Ronaldo Bastos), o álbum Telma Costa prima pela sofisticação harmônica sem arrebatar. Talvez o grande problema tenha sido uma pompa e uma circustância que foram na contramão do canto íntimo de Telma Costa, que logo saiu de cena.
8 comentários:
♪ Ouvido em perspectiva na bem-vinda reedição em CD da gravadora Kuarup, 31 anos após seu lançamento via Som Livre, o primeiro e único álbum da cantora mineira Telma Costa (1953 - 1989) deixa a impressão de ter sido gravado um pouco tarde demais, em 1983, ano em que a música brasileira começava a mudar de ares e tons com o império do rock e o nascimento da era Sullivan & Massadas. O que talvez explique o fato de o disco jamais ter cumprido sua alta expectativa mercadológica. Afinal, Telma Costa foi álbum feito com orçamento de grandes produções fonográficas. A rigor, foi uma superprodução orquestrada por Dori Caymmi sob a direção artística de Max Pierre para sedimentar a carreira da cantora, irmã da compositora mineira Sueli Costa. Ícones da MPB forneceram repertório inédito para Telma, que alcançara certa projeção ao gravar Eu te amo (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1980) em dueto com Chico Buarque em álbum, Vida (Ariola, 1980), do cantor e compositor carioca. Um deles - Caetano Veloso, autor e convidado da canção Certeza da beleza - até marcou presença no álbum, dividindo a interpretação de sua música com a anfitriã. Enfim, tudo no disco Telma Costa soa requintado, só que não necessariamente sedutor. O fato é que, ouvido anos depois, algo parece fora da ordem. Talvez sejam os teclados de César Camargo Mariano, excessivos no arranjo criado por Mariano para a regravação do samba Coisa feita (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1982) e executado por músicos do grupo Roupa Nova. Seja o que for, a voz de Telma Costa - cantora que começou a cantar nos anos 1960 em Juiz de Fora (MG), sua terra natal, e que veio para a cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1970 tentar a sorte no mundo da música - jamais saiu do tom nas 11 músicas do álbum. "Era um fio de voz, uma emissão delicada e precisa que fazia valer a nota musical", como caracteriza apropriadamente o cineasta Walter Lima Jr. - segundo marido de Telma - em breve depoimento reproduzido no encarte, que também traz letras e texto biográfico assinado por Alcides Ferreira. Dentre canções então inéditas como Lembra (Ivan Lins e Vítor Martins), o destaque do disco é Fruta boa (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1983), canção brilhantemente emoldurada por Alberto Arantes em arranjo com flautas, trompas e harpas. Como produtor e arranjador do disco, Dori Caymmi não estava em seu momento mais inspirado. Mas cabe ressaltar a beleza das cordas que envolvem Espelho das águas (Antonio Carlos Jobim, 1981) e a excelência do time de músicos arregimentados para o disco - virtuoses do naipe dos pianistas Gilson Peranzzetta e Luiz Avelar, do violonista Hélio Delmiro e do baixista Luiz Alves. Também com músicas medianas que permaneceram esquecidas no baú da MPB, casos de Ilusão (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e Não vale mais chorar (Toninho Horta e Ronaldo Bastos), o álbum Telma Costa prima pela sofisticação harmônica sem arrebatar. Talvez o grande problema tenha sido uma pompa e uma circustância que foram na contramão do canto íntimo de Telma Costa, que logo saiu de cena.
Nunca gostei muito da voz de Telma Costa na gravação de "Eu te amo" (acho a parte de Chico, que é tido como um "não cantor", muito melhor).
Com o relançamento desse Cd tive a curiosidade de ir conhecer mais do trabalho da Telma e, apesar de achar o timbre dela bonito, acho-a monocórdia. O jeito dela cantar nada tem a ver com o "mulherão" de "Coisa feita", como diz a própria letra. Soa muito mais como uma menininha tímida do que com uma princesa do Daomé. Verônica Sabino gravou essa letra com muito mais propriedade.
Vou ouvir o disco inteiro tentando abstrair or arranjos e prestando atenção apenas na cantora pra ver se mudo de opinião. Mas até hoje nada que tenha ouvido da voz de Telma Costa me arrebatou de verdade.
Não esquecendo de lembrar que Telma Costa é mãe da também excelente cantora Fernanda Cunha...
Adquiri esse cd e fiquei encantado com a qualidade do repertório e a beleza angelical da voz.
"Fruta Boa" e "Não Vale Mais Chorar" receberam interpretações divinas. E a reamornização feita pelo César Camargo Mariano para "Chuá, Chuá" é emocionante para quem é músico, como eu.
Um belo disco de uma excelente cantora. Merece estar nas mãos e nos ouvidos das pessoas que ama a música brasileira, como eu.
abração,
Denilson
Que boa notícia, Mauro! Tenho esse disco em vinil e sempre torci para que ele saísse em cd. A voz de Telma Costa era de uma delicadeza ímpar!
César Camargo Mariano não ia errar a mão nos teclados, nunca ouvi esse disco mas duvido que o problema seja do Mariano
Cantora sem graça com um repertório excelente! Se fosse outra cantora seria " O " disco!!!!
A única lembrança que tenho dela, é cantando com o Chico.
Um disco magistral, com arranjos e interação de intérprete e músicos. Telma me surpreendeu, à muito tempo não ouvia uma voz tão genuinamente bela, doce, afinada e sem as atuais e insuportáveis firulas vocais americanizadas que vemos e ouvimos como padrões midiáticos todos os dias. Não fosse assim, Telma jamais teria alcançado a notoriedade que alcançou entre tantos mestres compositores que incluem a obra. Também não concordo com a sua impressão sobre o piano do César, na década de 80 o piano elétrico CP80 da Yamaha era o timbre mais presente em gravações e não vi nada de incomum na presença dele.
Postar um comentário