♪ Cantor e compositor pernambucano, projetado nos anos 1990 como vocalista do grupo Sheik Tosado, China - em foto de Leco de Souza - está lançando o álbum Telemática, quarto título de sua discografia solo (capa à direita). Três das 13 faixas do disco - Arquitetura de vertigem (música composta em 2010 e já apresentada em formato de clipe), Frevo morgado (música feita por China com André Édipo para disputar concurso de frevos e lançada em recente coletânea do gênero) e Panorama (já lançada como single) - já eram conhecidas. Uma quarta música - Realinhar, parceria de China com os músicos do Jota Quest - já tinha sido lançada no mais recente álbum do grupo mineiro, Funky funky boom boom (Sony Music, 2013). As outras nove são inteiramente inéditas. Quem escreve o detalhado texto de apresentação de Telemática é o próprio China. Com a palavra, o mentor do disco lançado neste mês de dezembro de 2014, mas por ora somente em edição digital (o CD será editado em 2015):
Telemática por China
"Acho que
não é muito normal escrever o release do próprio disco, né?
O natural
é que essa apresentação seja feita por um crítico musical, um músico ou um
escritor. Mas, dessa vez, eu mesmo queria contar as histórias por trás das
canções de Telemática, o quarto disco que lanço na carreira solo, que
começou com o EP Um só (2004), e seguiu com os
álbuns Simulacro (2007) e Moto contínuo (2011).
Em geral,
primeiro escrevo a letra em forma de poema, depois vem a música. E como sou
péssimo instrumentista, já com a memória um pouco avariada, vou compondo e
gravando tudo no computador.
Na
pré-produção desse disco, gravei todos os instrumentos, contando claro, com a
ajuda da tecnologia para deixar as coisas mais claras para quem veio depois. E
quem veio depois? Os meus amigos músicos. Esses caras foram dando ideias,
gravando novos arranjos para as músicas e até me incentivando a aproveitar
minhas gravações toscas. Por isso, nas músicas de Telemática sempre tem algum instrumento tocado por mim. Gravei a maior parte desse disco na minha
casa, e o que tenho é um quartinho minúsculo, com um equipamento de som modesto,
mas que quebra um galho danado.
Gosto de
trabalhar desse jeito e só fui para um estúdio profissional quando precisei de
uma turma com mais preparo e equipamentos do que eu. O resultado dessa bem-vinda
colaboração coletiva você confere neste álbum.
Agora,
vamos às músicas de Telemática:
Arquitetura
de vertigem foi
composta em 2010. A frase "Recife alcança um céu de concreto armado…" me veio à
mente quando percebi que, do prédio para onde eu tinha acabado de me mudar, dava
para ver construções semelhantes brotando em outros bairros. Depois, Rodrigo
Sanches e Felipe S. (Mombojó) gravaram bateria e guitarra solo. O texto que abre
a faixa é do jornalista e escritor Otto Lara Resende e foi extraído de uma
entrevista que ele deu nos anos 70, quando já se falava da verticalização das
cidades. O clipe, que recebeu ótimas críticas, foi selecionado para o Festival
Internacional de Videoclipes de Paris, em 2014.
Choque
pesadelo nasceu de
um papo com o blogueiro e parceiro dos tempos de MTV, PC Siqueira, que é um
fenômeno de views e likes nas redes sociais com seus vídeos. Fiquei pensando em
como a vida dele se dividia entre o real e o virtual. Chiquinho (Mombojó) gravou
um solo de teclado arrasador. Quando eu soube que Ilhan Ersain (Wax Poetics)
estava em turnê pelo Brasil, arrastei o cara pro estúdio e ele gravou o sax que
você ouve no fim da música.
Quando
comecei a trabalhar em Panorama, eu tinha apenas o refrão, que lembra
uma pegada, vamos dizer assim, mais Jovem Guarda. Deixei de lado e comecei a
compor outra coisa, que acabou virando a primeira parte da música. A letra veio
depois, inspirada nas canções de Erasmo Carlos. Panorama foi lançada como single
e ganhou um clipe em formato vídeo-letra colaborativo, aberto na internet, com
participação dos fãs.
O que eu
mais curto em Memória celeste é o beat eletrônico. Parece que
foi tocada por um baterista mesmo e não programada no computador. Jorge Du Peixe
(Nação Zumbi) já apareceu no estúdio com a letra pronta e sua voz de trovão. O
cara ainda deu ideias para o arranjo geral e gravou uma escaleta. Marcelo
Machado (Mombojó) gravou a guitarra e Yuri Queiroga contribuiu com o
baixo.
O céu de
Brasília tem o
baixo de Felipe S., que amarra e dá todo o balanço da canção. Fui fazer um show
por lá, acordei cedo e saí para andar pelo jardim do hotel. Olhei para cima e
constatei que aquele era o céu mais bonito que eu já tinha visto.
Cores
novas é uma
parceria com a cantora Cyz e o guitarrista André Édipo. Ele chegou com a música,
eu tinha a letra, e ela colocou a melodia. Criamos uma espécie de bolero
combinando com o poema. Essa faixa tem a participação de Luzia Lucena e Sofia
Freire, duas jovens cantoras do Recife.
Um dia a
cantora e atriz Karine Carvalho me mostrou um pedaço de letra e pediu que eu
completasse. Acabei compondo a música também. Outra coisa só não tinha
nome ainda. Eu mandava as várias versões e Karine sempre dizia: "se liga que
isso é outra coisa", e assim a canção foi batizada. Quando fomos gravar para
valer, achei que a "voz guia", que eu havia registrado em casa há anos, tinha
ficado com muito mais emoção, e decidi deixá-la. Mais vale uma boa interpretação
do que todos os recursos tecnológicos disponíveis.
QTK 63
Kaiowa é uma
música instrumental que foi composta por mim e meu irmão, Bruno Ximarú. Apesar
da insistência dele, nunca achei que devia colocar letra, soava mais como trilha
de filme. Convidei Rodrigo Lemos e Diego Plaça (A Banda Mais Bonita da Cidade)
para fazerem um coro como se fosse um canto meio indígena, meio gregoriano, e
Lucas dos Prazeres gravou as percussões, que segundo ele, remetem aos barulhos
da mata e à forma mais tribal de composição musical.
Telemática é a faixa
que dá nome ao disco e surgiu do texto A fábrica, do filósofo tcheco Vilém
Flusser. Fala da relação do homem com a máquina, das fábricas com o homem.
Lembro que tinha comentado sobre o disco novo com HD Mabuse, um dos mentores de
Chico Science, e o cara me mandou esse texto, que acabou me ajudando um bocado
na concepção do álbum inteiro. Outro que colaborou com essa faixa, e também com
o disco, foi o pesquisador de engenharia de software e referência brasileira no
assunto Sílvio Meira.
Em Subintenções,
criei a base rítmica da canção, usando a bateria de um jeito diferente,
inspirado na performance do cara do Can - banda de rock experimental alemã dos
anos 70. Pedi a Homero Basílio, da Orquestra Sinfônica de Pernambuco, para tocar
usando apenas os tons e a caixa. Surgiu um beat pesado e contínuo, combinando
com a guitarra mais balançada, na proposta do refrão: "Por que você não vem
dançar comigo…". PJ, do Jota Quest, mandou muito bem no slap (um estilo de tocar
baixo).
Realinhar foi
lançada primeiro no mais recente disco do Jota Quest, Funky Funky Boom Boom, e é
uma parceria minha com os caras. Resolvi lançar também a minha versão por
lembrar que, na época da Tropicália, era natural existirem várias interpretações
para uma mesma música, como aconteceu com a clássica Baby.
Olho de
Thundera é a música
que foi composta de forma mais rápida e também mais demorada. Explico: a música
ficou pronta em meia hora, mas levou seis anos para ser, de fato, terminada.
Numa jam session com minha banda, Yuri Queiroga puxou o riff de guitarra e logo
vieram a letra e a melodia. Talvez por ter nascido prematuramente, ela ficou
guardada por todos esses anos. Na gravação das bases desse disco, Yuri iniciou o
mesmo riff, demos um tempo na faixa que estávamos gravando, e, como antes, em 30
minutos a música estava pronta.
A faixa
mais curiosa desse disco é Frevo morgado, feita por mim e André Édipo
para disputar um concurso de frevo. Encontrei, depois de um tempo, um dos
organizadores e comentei que a composição era boa, mas não tinha ficado entre as
finalistas. Quando falei o nome da música, fui interrompido de imediato: "China,
como é que tu inscreves uma música com esse nome num concurso de frevo? A galera
quer frevos pra cima e não frevos morgados". Se para um concurso não era um
título adequado, para um disco ficou ideal. As participações de Vitor Araújo,
Vinícius Sarmento, Públius e Deco Trombone só deixaram esse frevo mais
bonito.
E chegamos
ao final das 13 faixas que compõem Telemática, meu quarto disco solo,
feito com recursos próprios e muito esforço. Ser artista independente no Brasil
só tem graça se for assim, com suor, perseverança e paciência para aproveitar
tudo no tempo certo". China
♪ Cantor e compositor pernambucano, projetado nos anos 1990 como vocalista do grupo Sheik Tosado, China - em foto de Leco de Souza - está lançando o álbum Telemática, quarto título de sua discografia solo. Três das 13 faixas do disco - Arquitetura de vertigem (música composta em 2010 e já apresentada em formato de clipe), Frevo morgado (música feita por China com André Édipo para disputar concurso de frevos e lançada em recente coletânea do gênero) e Panorama (já lançada como single) - já eram conhecidas. Uma quarta música - Realinhar, parceria de China com os músicos do Jota Quest - já tinha sido lançada no mais recente álbum do grupo mineiro, Funky funky boom boom (Sony Music, 2013). As outras nove são inteiramente inéditas. Quem escreve o detalhado texto de apresentação de Telemática é o próprio China.
ResponderExcluirVou procurar conhecer o trabalho de China como cantor e compositor, porque como apresentador e comentarista ele é chato pra car(*)!
ResponderExcluirEsse disco está incrivel, grata surpresa....depois de lançamentos decepcionantes dos conterraneos Mombojó e Nação Zumbi, curto muito as duas bandas, mas lançaram discos fracos esse ano...China salvando a cena de Recife com um ótimo disco, aos 45 do segundo tempo....
ResponderExcluir