Título: Meu é caminho é chão e céu - Memórias
Autor: Dadi
Editora: Record
Cotação: * * * *
♪ A partir dos anos 1970, é impossível escrever a história completa da música brasileira sem tocar no nome do carioca Eduardo Magalhães de Carvalho, o Dadi. Hoje já um senhor de 62 anos que conserva a cara de menino do rio que inspirou o velho baiano Caetano Veloso a compor a canção O Leãozinho (1977), Dadi é (excelente) músico polivalente que se defende bem na guitarra e que toca um baixo sempre requisitado para bandas dos maiores cantores brasileiros. Como bem ressalta o jornalista carioca Antonio Carlos Miguel no texto escrito para a orelha do livro de memórias desse músico, compositor e eventual cantor de temperamento zen, somente o fato de Dadi ter integrado a comunidade do grupo Novos Baianos entre 1971 e 1975 já lhe garante um verbete em qualquer enciclopédia da MPB. Mas Dadi fez e faz muito mais. Integrou a banda de Jorge Ben Jor nos anos 1970 (década do auge criativo do Zé Pretinho), fez parte do grupo A Cor do Som - a mais perfeita tradução possível de uma música pop brasileira antes da abertura do mercado fonográfico para o rock - e foi baixista do Barão Vermelho antes de tocar com nomes de ponta da cena nativa, como o já mencionado Caetano e como a cantora e compositora carioca Marisa Monte, que veio a se tornar sua vizinha, parceira e amiga. Toda essa vivência musical de Dadi está relatada, em primeira pessoa, em seu livro de memórias Meu caminho é chão e céu, recém-lançado pela editora Record. Antes de começar a expor suas memórias musicais, Dadi assume posição defensiva ao dizer que não é escritor. Mas o fato é que, mesmo que não seja formalmente um escritor, Dadi se mostra com o dom da palavra escrita ao longo das 176 páginas do livro. Saborosa, a exposição de suas memórias musicais é feita com as cores vivas do som e, nesse sentido, a arte da capa criada por Leonardo Laccarino - a partir de foto de Mario Luiz Thompson - ilustra com fidelidade o conteúdo do livro. As memórias musicais são expostas em ordem cronológica, mas de forma leve, sem que o músico tente dar ao livro o peso (que ele, o livro, não tem) de uma autobiografia que desvende a alma de quem ali se expõe. Dadi basicamente conta causos e refaz os passos de sua caminhada musical, tomando como ponto de partida seu encantamento, aos 11 anos, com o primeiro álbum de Jorge Ben Jor, Samba esquema novo (Philips, 1963), disco decisivo para levá-lo a tomar o rumo da música em rota que, dali a meros 12 anos, iria colocá-lo no posto de baixista da banda de seu ídolo Ben. Isso depois da vivência de quatro anos na comunidade dos Novos Baianos, grupo no qual Dadi ingressou ao ser apresentado a Baby do Brasil - então Baby Consuelo - por amiga comum. Dadi parece ter dado todos seus passos naturalmente. E é de forma natural que ele escreve suas memórias, sem comprometer ninguém, mas também sem maquiar os fatos. Dadi mostra como se dissolveu a ilusão de liberdade no sítio dos Novos Baianos, rememora a ascensão e declínio d'A Cor do Som e revive a indecisão dos anos 1990 entre a permanência no Barão Vermelho - com o qual gravou o vigoroso álbum Na calada da noite (Warner Music, 1990) - e a aceitação do convite para tocar com Caetano Veloso (a banda acabou decidindo por ele, que foi tocar com Caetano na turnê do show Circuladô). Entre uma memória musical e outra, Dadi expõe no livro o apego aos filhos e à mulher, Leilinha, lembrando que, na segunda metade dos anos 1980, chegou a levar vida típica de dona de casa. Enfim, ao reconstituir seus passos musicais em Meu caminho é chão e ceu, Dadi acaba por expor muito de seu temperamento de bem com a vida. A julgar por suas memórias, parece que o Leãozinho caminha sob o sol com os pés no chão e chega ao céu através da música.
3 comentários:
♪ A partir dos anos 1970, é impossível escrever a história completa da música brasileira sem tocar no nome do carioca Eduardo Magalhães de Carvalho, o Dadi. Hoje já um senhor de 62 anos que conserva a cara de menino do rio que inspirou o velho baiano Caetano Veloso a compor a canção O Leãozinho (1977), Dadi é (excelente) músico polivalente que se defende bem na guitarra e que toca um baixo sempre requisitado para bandas dos maiores cantores brasileiros. Como bem ressalta o jornalista carioca Antonio Carlos Miguel no texto escrito para a orelha do livro de memórias desse músico, compositor e eventual cantor de temperamento zen, somente o fato de Dadi ter integrado a comunidade do grupo Novos Baianos entre 1971 e 1975 já lhe garante um verbete em qualquer enciclopédia da MPB. Mas Dadi fez e faz muito mais. Integrou a banda de Jorge Ben Jor nos anos 1970 (década do auge criativo do Zé Pretinho), fez parte do grupo A Cor do Som - a mais perfeita tradução possível de uma música pop brasileira antes da abertura do mercado fonográfico para o rock - e foi baixista do Barão Vermelho antes de tocar com nomes de ponta da cena nativa, como o já mencionado Caetano e como a cantora e compositora carioca Marisa Monte, que veio a se tornar sua vizinha, parceira e amiga. Toda essa vivência musical de Dadi está relatada, em primeira pessoa, em seu livro de memórias Meu caminho é chão e céu, recém-lançado pela editora Record. Antes de começar a expor suas memórias musicais, Dadi assume posição defensiva ao dizer que não é escritor. Mas o fato é que, mesmo que não seja formalmente um escritor, Dadi se mostra com o dom da palavra escrita ao longo das 176 páginas do livro. Saborosa, a exposição de suas memórias musicais é feita com as cores vivas do som e, nesse sentido, a arte da capa criada por Leonardo Laccarino - a partir de foto de Mario Luiz Thompson - ilustra com fidelidade o conteúdo do livro. As memórias musicais são expostas em ordem cronológica, mas de forma leve, sem que o músico tente dar ao livro o peso (que ele, o livro, não tem) de uma autobiografia que desvende a alma de quem ali se expõe. Dadi basicamente conta causos e refaz os passos de sua caminhada musical, tomando como ponto de partida seu encantamento, aos 11 anos, com o primeiro álbum de Jorge Ben Jor, Samba esquema novo (Philips, 1963), disco decisivo para levá-lo a tomar o rumo da música em rota que, dali a meros 12 anos, iria colocá-lo no posto de baixista da banda de seu ídolo Ben. Isso depois da vivência de quatro anos na comunidade dos Novos Baianos, grupo no qual Dadi ingressou ao ser apresentado a Baby do Brasil - então Baby Consuelo - por amiga comum. Dadi parece ter dado todos seus passos naturalmente. E é de forma natural que ele escreve suas memórias, sem comprometer ninguém, mas também sem maquiar os fatos. Dadi mostra como se dissolveu a ilusão de liberdade no sítio dos Novos Baianos, rememora a ascensão e declínio d'A Cor do Som e revive a indecisão dos anos 1990 entre a permanência no Barão Vermelho - com o qual gravou o vigoroso álbum Na calada da noite (Warner Music, 1990) - e a aceitação do convite para tocar com Caetano Veloso (a banda acabou decidindo por ele, que foi tocar com Caetano na turnê do show Circuladô). Entre uma memória musical e outra, Dadi expõe no livro o apego aos filhos e à mulher, Leilinha, lembrando que, na segunda metade dos anos 1980, chegou a levar vida típica de dona de casa. Enfim, ao reconstituir seus passos musicais em Meu caminho é chão e ceu, Dadi acaba por expor muito de seu temperamento de bem com a vida. A julgar por suas memórias, parece que o Leãozinho caminha sob o sol com os pés no chão e chega ao céu através da música.
Parece ser daqueles caras que é impossível não gostar.
Até a lua gosta dele - já que escolheu sua bunda pra ser virada pra ela.
Se Deus e o Diabo trabalhassem com música,com certeza esse cara seria parceiro dos dois.
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