Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Disco autorreferente dos Racionais MC's causa mais impacto pela capa

Resenha de CD
Título: Cores & valores
Artista: Racionais MC's
Gravadora: Cosa Nostra / Radar Records
Cotação: * * *

Nada como um dia após o outro dia. Doze anos separam Cores & valores - o sexto disco de inéditas dos Racionais MC's - do último álbum de estúdio do grupo paulistano de rap. As aparições de rappers como Emicida e Criolo movimentaram o universo do hip hop brasileiro com outros tons, cores e valores. Natural em qualquer nicho musical, a rotatividade de nomes e discursos no mundo do rap faz com que o elemento de maior impacto do CD Cores & valores esteja na capa que expõe Edi Rock, Ice Blue, KL Jay e Mano Brown caracterizados como garis armados. É a estética da violência que já pautou discos do grupo como - esse sim, impactante - Sobrevivendo no inferno (Cosa Nostra, 1997), tratado sobre miséria, desigualdade, racismo e injustiça social feito na velocidade do rap com uma virulência que faz com que o ataque ao consumismo de Eu compro (Ice Blue e Helião) soe quase pueril. Talvez pela ciência de que a forma desse discurso já dá sinais de esgotamento no tempo presente (embora as periferias continuem ardendo em chamas infernais), Os Racionais MC's se voltam para seu passado no autorreferente Cores & valores. Em O mal e o bem (Edi Rock e Don Pixote), tema de levada soul que se destaca entre as 15 faixas do álbum, Edi Rock versa sobre seu encontro nos anos 1990 com KL Jay, o DJ dos Racionais. Já no single Quando vale o show? (Mano Brown) - tão hipnótico com sua batida que torna um anticlímax a audição de Cores & valores - Mano Brown rima sobre a adolescência vivida nos anos 1980 no bairro do Capão Redondo, na periferia chapa quente da cidade de São Paulo (SP). Aliás, trechos de letras de sucessos da década pop de 1980 - Pro dia nascer feliz (Frejat e Cazuza, 1983), Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero, 1984) e Vamos fugir (Gilberto Gil e Liminha, 1984), entre outros - são citados nos versos de Eu te proponho (Mano Brown e Lino Crizz), convite romântico-sensual de Brown para uma fuga momentânea da realidade dura e crua que inspira os raps da primeira parte do disco. Raps como Cores & valores (Mano Brown e Don Pixote), Somos o que somos (Ice Blue e Helião) e Preto Zica (Mano Brown e Edi Rock) reproduzem os tons e as cores da matriz norte-americana do hip hop. Dentro dessa atmosfera tensa, que adquire peso especial em Coração barrabaz (Mano Brown), A praça (Edi Rock e Juliano Kurban) alfineta a mídia ao versar sobre a veiculação nos meios de comunicação do tumulto gerado por show gratuito feito pelos Racionais MC's em 2007 na Praça da Sé, no Centro da cidade de São Paulo (SP). Em que pese o excesso de autorreferências no disco, como se a periferia gerasse em torno dos umbigos dos Racionais, o que mais incomoda em Cores & valores são as faixas com menos de um minuto - Cores & valores - Preto e amarelo (Negreta), Trilha (Mano Brown e DJ Cia) e Eu te disse (Mano Brown) - que soam como vinhetas enfileiradas na primeira metade do álbum. Mais do que ganchos para a costura do repertório, tais vinhetas parecem estar ali para preencher o espaço mínimo para que Cores & valores seja tecnicamente considerado um álbum com sua meia hora de duração. Um título literal e metaforicamente menor na discografia vultosa dos Racionais MC's...

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Nada como um dia após o outro dia. Doze anos separam Cores & valores - o sexto disco de inéditas dos Racionais MC's - do último álbum de estúdio do grupo paulistano de rap. As aparições de rappers como Emicida e Criolo movimentaram o universo do hip hop brasileiro com outros tons, cores e valores. Natural em qualquer nicho musical, a rotatividade de nomes e discursos no mundo do rap faz com que o elemento de maior impacto do CD Cores & valores esteja na capa que expõe Edi Rock, Ice Blue, KL Jay e Mano Brown caracterizados como garis armados. É a estética da violência que já pautou discos do grupo como - esse sim, impactante - Sobrevivendo no inferno (Cosa Nostra, 1997), tratado sobre miséria, desigualdade, racismo e injustiça social feito na velocidade do rap com uma virulência que faz com que o ataque ao consumismo de Eu compro (Ice Blue e Helião) soe quase pueril. Talvez pela ciência de que a forma desse discurso já dá sinais de esgotamento no tempo presente (embora as periferias continuem ardendo em chamas infernais), Os Racionais MC's se voltam para seu passado no autorreferente Cores & valores. Em O mal e o bem (Edi Rock e Don Pixote), tema de levada soul que se destaca entre as 15 faixas do álbum, Edi Rock versa sobre seu encontro nos anos 1990 com KL Jay, o DJ dos Racionais. Já no single Quando vale o show? (Mano Brown) - tão hipnótico com sua batida que torna um anticlímax a audição de Cores & valores - Mano Brown rima sobre a adolescência vivida nos anos 1980 no bairro do Capão Redondo, na periferia chapa quente da cidade de São Paulo (SP). Aliás, trechos de letras de sucessos da década pop de 1980 - Pro dia nascer feliz (Frejat e Cazuza, 1983), Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero, 1984) e Vamos fugir (Gilberto Gil e Liminha, 1984), entre outros - são citados nos versos de Eu te proponho (Mano Brown e Lino Crizz), convite romântico-sensual de Brown para uma fuga momentânea da realidade dura e crua que inspira os raps da primeira parte do disco. Raps como Cores & valores (Mano Brown e Don Pixote), Somos o que somos (Ice Blue e Helião) e Preto Zica (Mano Brown e Edi Rock) reproduzem os tons e as cores da matriz norte-americana do hip hop. Dentro dessa atmosfera tensa, que adquire peso especial em Coração barrabaz (Mano Brown), A praça (Edi Rock e Juliano Kurban) alfineta a mídia ao versar sobre a veiculação nos meios de comunicação do tumulto gerado por show gratuito feito pelos Racionais MC's em 2007 na Praça da Sé, no Centro da cidade de São Paulo (SP). Em que pese o excesso de autorreferências no disco, como se a periferia gerasse em torno dos umbigos dos Racionais, o que mais incomoda em Cores & valores são as faixas com menos de um minuto - Cores & valores - Preto e amarelo (Negreta), Trilha (Mano Brown e DJ Cia) e Eu te disse (Mano Brown) - que soam como vinhetas enfileiradas na primeira metade do álbum. Mais do que ganchos para a costura do repertório, tais vinhetas parecem estar ali para preencher o espaço mínimo para que Cores & valores seja tecnicamente considerado um álbum com sua meia hora de duração. Um título literal e metaforicamente menor na discografia vultosa dos Racionais MC's...

BIGODE disse...

Decepção total, o disco é muito fraco....o 'Nada como um dia após o outro dia' já era muito inferior ao 'Sobrevivendo no Inferno' mas ainda assim um grande disco de rap, esse é péssimo eles não tinham material e lançaram qualquer coisa, um monte de pedaços de musicas, vinhetas e chamaram de disco....uma droga, só o single Quanto vale o show é bom

Unknown disse...

Os Racionais MC's parecem que vieram de outro tempo...os caras ficaram 10 anos cantando as mesmas músicas e perderam o tom que hoje vive a periferia. Uma pena.