Título: Verde amarelo negro anil
Artista: Nilze Carvalho
Gravadora: Rob Digital
Cotação: * * * *
♪ Mesmo ser uma cantora de interpretações notáveis, Nilze Carvalho vem acertando o tom dos discos que grava fora do Sururu na Roda, grupo carioca que fundou há 15 anos. A habilidade para colher frutos pouco saboreados no quintal do samba valoriza seus álbuns individuais. Foi assim com O que é meu (Biscoito Fino, 2010) e é assim com Verde amarelo negro anil, terceiro CD solo da artista carioca como cantora, lançado no fim deste ano de 2014. Neste disco produzido pela própria Nilze com o baixista Zé Luiz Maia, o repertório é pautado por regravações. Mas passa longe do óbvio. Com arranjo que mistura samba com ijexá, Nilze reacende Fumo de rolo, samba de Nei Lopes lançado pelo cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) no álbum Fantasias (EMI-Odeon, 1982). De Leci Brandão, Nilze revive Antes que eu volte a ser nada, samba que deu nome ao primeiro álbum dessa politizada cantora e compositora carioca. Do rico repertório de Beth Carvalho, a escolha foi por Peso na balança - samba do bamba Wilson Moreira, lançado por Beth no álbum Coração feliz (RCA-Victor, 1984) - e por Samba no quintal (Everaldo Cruz e Toninho Nascimento, 1979), pérola do pagode, regravada no tom descontraído das rodas de samba cariocas. Apesar de certa carioquice estar entranhada na maioria das 14 faixas do CD, Verde amarelo negro anil combina cores e tons do Rio de Janeiro e da Bahia. Delícia do repertório, Retrato da Bahia - tema do resistente sambista baiano Riachão - é polaroid gastronômico e postal da cidade de São Salvador. Samba de Ivan Lins e Vitor Martins lançado em 1981 na voz da verdadeira baiana Gal Costa, Roda baiana ganha registro gracioso de Nilze, embora a desabe a tentativa de erguer ponte com a bossa nova. Do repertório de Gal, há também Teco teco (Pereira Costa e Milton Vilela), samba-choro lançado em 1950 pela cantora potiguar Ademilde Fonseca (1921 - 2012), mas desde 1975 também associado à voz cristalina de Gal. Como compositora, Nilze também surpreende positivamente ao apresentar bela toada inédita, Viola, composta sobre versos de Zeca Leal. A outra autoral música inédita do disco é a que lhe dá título, Verde amarelo negro anil, samba assinado por Nilze com o carioca Marceu Vieira. Reiterando a capacidade de pescar pérolas no baú do samba, Nilze reaviva Vai dizer a ela, samba de Nelson Sargento gravado pelo pelo conjunto Os Cinco Crioulos em 1967. E por falar em bamba da Velha Guarda, Monarco dá o ar nobre da graça no medley portelense que amalgama Atraso em meu caminho (Picolino e Jair do Cavaquinho), Recado (Casquinha e Paulinho da Viola, 1966) e Lenço (Monarco e Chico Santana, 1971). Disco coeso, Verde, amarelo, negro, anil rebobina o tema instrumental Choro de menina - clássico da fase em que Nilze Carvalho era conhecida como prodígio mirim no toque do bandolim - e Peço a Deus (Dedé da Portela e Dida, 1985), samba lançado por Mestre Marçal (1930 - 1994) e ora também revivido por Mart'nália no DVD e CD ao vivo que marcam sua volta ao samba. Diferentemente de Mart'nália, que priorizou os sucessos mais óbvios do samba, Nilze foi na fonte ao garimpar repertório para seu melhor disco solo. Sem inventar moda nos arranjos, assinados pela própria Nilze Carvalho, Verde amarelo negro anil mostra o samba com cores vivas, mas sem tons óbvios na pintura da aquarela brasileira. Dá até para armar um sururu na roda.
4 comentários:
♪ Mesmo ser uma cantora de interpretações notáveis, Nilze Carvalho vem acertando o tom dos discos que grava fora do Sururu na Roda, grupo carioca que fundou há 15 anos. A habilidade para colher frutos pouco saboreados no quintal do samba valoriza seus álbuns individuais. Foi assim com O que é meu (Biscoito Fino, 2010) e é assim com Verde amarelo negro anil, terceiro CD solo da artista carioca como cantora, lançado no fim deste ano de 2014. Neste disco produzido pela própria Nilze com o baixista Zé Luiz Maia, o repertório é pautado por regravações. Mas passa longe do óbvio. Com arranjo que mistura samba com ijexá, Nilze reacende Fumo de rolo, samba de Nei Lopes lançado pelo cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) no álbum Fantasias (EMI-Odeon, 1982). De Leci Brandão, Nilze revive Antes que eu volte a ser nada, samba que deu nome ao primeiro álbum dessa politizada cantora e compositora carioca. Do rico repertório de Beth Carvalho, a escolha foi por Peso na balança - samba do bamba Wilson Moreira, lançado por Beth no álbum Coração feliz (RCA-Victor, 1984) - e por Samba no quintal (Everaldo Cruz e Toninho Nascimento, 1979), pérola do pagode, regravada no tom descontraído das rodas de samba cariocas. Apesar de certa carioquice estar entranhada na maioria das 14 faixas do CD, Verde amarelo negro anil combina cores e tons do Rio de Janeiro e da Bahia. Delícia do repertório, Retrato da Bahia - tema do resistente sambista baiano Riachão - é polaroid gastronômico e postal da cidade de São Salvador. Samba de Ivan Lins e Vitor Martins lançado em 1981 na voz da verdadeira baiana Gal Costa, Roda baiana ganha registro gracioso de Nilze, embora a desabe a tentativa de erguer ponte com a bossa nova. Do repertório de Gal, há também Teco teco (Pereira Costa e Milton Vilela), samba-choro lançado em 1950 pela cantora potiguar Ademilde Fonseca (1921 - 2012), mas desde 1975 também associado à voz cristalina de Gal. Como compositora, Nilze também surpreende positivamente ao apresentar bela toada inédita, Viola, composta sobre versos de Zeca Leal. A outra autoral música inédita do disco é a que lhe dá título, Verde amarelo negro anil, samba assinado por Nilze com o carioca Marceu Vieira. Reiterando a capacidade de pescar pérolas no baú do samba, Nilze reaviva Vai dizer a ela, samba de Nelson Sargento gravado pelo pelo conjunto Os Cinco Crioulos em 1967. E por falar em bamba da Velha Guarda, Monarco dá o ar nobre da graça no medley portelense que amalgama Atraso em meu caminho (Picolino e Jair do Cavaquinho), Recado (Casquinha e Paulinho da Viola, 1966) e Lenço (Monarco e Chico Santana, 1971). Disco coeso, Verde, amarelo, negro, anil rebobina o tema instrumental Choro de menina - clássico da fase em que Nilze Carvalho era conhecida como prodígio mirim no toque do bandolim - e Peço a Deus (Dedé da Portela e Dida, 1985), samba lançado por Mestre Marçal (1930 - 1994) e ora também revivido por Mart'nália no DVD e CD ao vivo que marcam sua volta ao samba. Diferentemente de Mart'nália, que priorizou os sucessos mais óbvios do samba, Nilze foi na fonte ao garimpar repertório para seu melhor disco solo. Sem inventar moda nos arranjos, assinados pela própria Nilze Carvalho, Verde amarelo negro anil mostra o samba com cores vivas, mas sem tons óbvios na pintura da aquarela brasileira. Dá até para armar um sururu na roda.
Grata surpresa do samba... Deliciosa e delicada voz se firmando no mundo do samba contemporâneo...
Delicada mas inexpressiva
Gosto muito da Nilze! Tem uma bela voz, escolhe bem o seu repertório, é humilde e não se acha diva como algumas off-Rio.
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