Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Wanda Sá exibe a jovialidade de sua bossa (ainda) nova em gravação ao vivo

Resenha de CD e DVD
Título:
Wandá ao vivo
Artista:
Wanda
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *


Além de ser uma síntese requintada do samba e de caracterizar uma forma de tocar e / ou cantar, a Bossa Nova é também - e talvez principalmente - um estado de espírito traduzido por eterna jovialidade. Aos 70 anos de idade e 50 de carreira, completados neste ano de 2014, Wanda Sá - cantora nascida em São Paulo (SP), mas de alma e vivência cariocas - sempre deu voz a uma música jovem pela própria natureza. No primeiro DVD solo de discografia que já contabiliza três registros audiovisuais feitos com Roberto Menescal (um deles, o DVD que registra programa Ensaio de 1991, foi lançado pela Trama em 2006 à revelia da artista), Wanda exibe a jovialidade de sua bossa ainda nova em gravação ao vivo de show captado em 19 de novembro de 2013 no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), com produção de Regina Oreiro e sob a direção de Gabriela Gastal. Nas lojas com distribuição da gravadora Biscoito Fino, nos formatos de CD e DVD, Wandaao vivo é retrato atemporal da eternidade de uma bossa que desconhece fronteiras geográficas e estéticas. Tanto que o show termina com Wanda às voltas com as síncopes do samba também sempre novo de Jorge Ben Jor, de quem revive o samba Por causa de você, menina (1963), entremeado com Chove chuva (Jorge Ben, 1963) no número finalizado com as presenças emblemáticas de Carlos Lyra, João Donato e Marcos Valle. De pé no palco do Espaço Tom Jobim, ladeando Wanda no instante final do show, os três ícones da música brasileira simbolizam ali a reverência a uma cantora que traduz bem o estado de espírito da Bossa Nova. Uma bossa que se renova, ainda que silenciosamente, com a composição de canções como a abolerada Pra sempre, única real novidade do roteiro, já que a outra música recente de Wanda ao vivo - Novo acorde, parceria da cantora e (bissexta) compositora com os irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle - é inédita em disco apenas no Brasil, já tendo sido lançada nos mercados fonográficos da Europa e do Japão. Mesmo sem cacife para se tornar um clássico da Bossa Nova, Pra sempre é música boa que merece menção especial por ser a primeira parceria de João Donato com Carlos Lyra. Os compositores participam do primeiro registro da música. Donato ao seu inconfundível piano de toque repleto de latinidade, também ouvido em A rã (João Donato e Caetano Veloso, 1974) e no medley que junta Minha saudade (João Donato e João Gilberto, 1959) com Bim bom (João Gilberto, 1959). Valle, ao violão e na interpretação do tema em dueto com a cantora. Em essência, Wanda ao vivo exibe um show de bossa nova, expondo o canto macio de uma intérprete que pegou o espírito da coisa desde 1964, ano em que lançou seu primeiro álbum, Wanda Vagamente (RGE, 1964), cuja música-título é ouvida no DVD com o toque do piano de Marcos Valle. Nos seis primeiros números, Wanda aparece sentada, cantando e tocando seu violão, acompanhada por trio de piano (o de Adriano Souza), baixo (o de Dôdo Ferreira) e bateria (a de João Cortez). Nesse set, dois afro-sambas, Água de beber (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961) e Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963), se afinam com o espírito do show entre músicas que já nasceram entranhadas no clima da bossa, como Samba de uma nota só (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959) e Discussão (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958). A partir do sétimo número, O que é amar (1961), standard do cancioneiro de um precursor, Johnny Alf (1929 - 2010), que apontou o caminho para Jobim e cia. no início dos anos 1950, Wanda fica de pé embora retome o banquinho e o violão em um outro número da metade final do show. Nas três faixas-bônus, gravadas no estúdio carioca Toca do Bandido sob a direção musical de Dori Caymmi, Wanda se junta a Dori e a Jane Monheit, cantora norte-americana de jazz. Dos três números, cabe destacar a sagaz lembrança do samba Coração sem saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 1996), lançado por Nana Caymmi no álbum Alma serena (EMI Music,1996). Na voz de Wanda, tudo é bossa nova. E isso é muito natural.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Além de ser uma síntese requintada do samba e de caracterizar uma forma de tocar e / ou cantar, a Bossa Nova é também - e talvez principalmente - um estado de espírito traduzido por eterna jovialidade. Aos 70 anos de idade e 50 de carreira, completados neste ano de 2014, Wanda Sá - cantora nascida em São Paulo (SP), mas de alma e vivência cariocas - sempre deu voz a uma música jovem pela própria natureza. No primeiro DVD solo de discografia que já contabiliza três registros audiovisuais feitos com Roberto Menescal (um deles, o DVD que registra programa Ensaio de 1991, foi lançado pela Trama em 2006 à revelia da artista), Wanda exibe a jovialidade de sua bossa ainda nova em gravação ao vivo de show captado em 19 de novembro de 2013 no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), com produção de Regina Oreiro e sob a direção de Gabriela Gastal. Nas lojas com distribuição da gravadora Biscoito Fino, nos formatos de CD e DVD, Wanda Sá ao vivo é retrato atemporal da eternidade de uma bossa que desconhece fronteiras geográficas e estéticas. Tanto que o show termina com Wanda às voltas com as síncopes do samba também sempre novo de Jorge Ben Jor, de quem revive o samba Por causa de você, menina (1963), entremeado com Chove chuva (Jorge Ben, 1963) no número finalizado com as presenças emblemáticas de Carlos Lyra, João Donato e Marcos Valle. De pé no palco do Espaço Tom Jobim, ladeando Wanda no instante final do show, os três ícones da música brasileira simbolizam ali a reverência a uma cantora que traduz bem o estado de espírito da Bossa Nova. Uma bossa que se renova, ainda que silenciosamente, com a composição de canções como a abolerada Pra sempre, única real novidade do roteiro, já que a outra música recente de Wanda Sá ao vivo - Novo acorde, parceria da cantora e (bissexta) compositora com os irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle - é inédita em disco apenas no Brasil, já tendo sido lançada nos mercados fonográficos da Europa e do Japão. Mesmo sem cacife para se tornar um clássico da Bossa Nova, Pra sempre é música boa que merece menção especial por ser a primeira parceria de João Donato com Carlos Lyra. Os compositores participam do primeiro registro da música. Donato ao seu inconfundível piano de toque repleto de latinidade, também ouvido em A rã (João Donato e Caetano Veloso, 1974) e no medley que junta Minha saudade (João Donato e João Gilberto, 1959) com Bim bom (João Gilberto, 1959). Valle, ao violão e na interpretação do tema em dueto com a cantora. Em essência, Wanda Sá ao vivo exibe um show de bossa nova, expondo o canto macio de uma intérprete que pegou o espírito da coisa desde 1964, ano em que lançou seu primeiro álbum, Wanda Vagamente (RGE, 1964), cuja música-título é ouvida no DVD com o toque do piano de Marcos Valle. Nos seis primeiros números, Wanda aparece sentada, cantando e tocando seu violão, acompanhada por trio de piano (o de Adriano Souza), baixo (o de Dôdo Ferreira) e bateria (a de João Cortez). Nesse set, dois afro-sambas, Água de beber (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961) e Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963), se afinam com o espírito do show entre músicas que já nasceram entranhadas no clima da bossa, como Samba de uma nota só (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959) e Discussão (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958). A partir do sétimo número, O que é amar (1961), standard do cancioneiro de um precursor, Johnny Alf (1929 - 2010), que apontou o caminho para Jobim e cia. no início dos anos 1950, Wanda fica de pé embora retome o banquinho e o violão em um outro número da metade final do show. Nas três faixas-bônus, gravadas no estúdio carioca Toca do Bandido sob a direção musical de Dori Caymmi, Wanda se junta a Dori e a Jane Monheit, cantora norte-americana de jazz. Dos três números, cabe destacar a sagaz lembrança do samba Coração sem saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 1996), lançado por Nana Caymmi no álbum Alma serena (EMI Music, 1996). Na voz de Wanda Sá, tudo é bossa nova. E isso é muito natural...

Marcelo disse...

Isso sim.... Repertório, harmonias e uma artista de verdade!!!