Resenha de CD
Título: Ninguém é melhor do que eu
Artista: Patativa
Gravadora: Saravá Discos
Cotação: * * * 1/2
♪ "Na favela onde eu moro / Tem babado todo dia / Tiroteio, corre-corre / Não tem hora nem dia / Eu não consigo dormir / Nem o sono de meio-dia". Os versos de Babado da favela se afinam com o repertório de Bezerra da Silva (1927 - 2005), sambista pernambucano que ganhou fama nos anos 1980 como cronista do cotidiano dos morros do Rio de Janeiro (RJ) e da Baixada Fluminense (RJ). Mas o espirituoso samba Babado da favela não é da lavra de nenhum dos compositores assalariados que forneciam repertório para Bezerra. Babado da favela é uma das 13 composições assinadas e gravadas por Patativa - nome artístico da cantora e compositora maranhense Maria do Socorro Silva - em seu primeiro álbum, Ninguém é melhor do que eu (Saravá Discos, 2014), produzido por Luiz Jr. sob a direção artística de Zeca Baleiro. Aos 77 anos, Patativa expõe em seu disco autoral as afinidades do samba maranhense com a produção dos sambistas da cidade do Rio de Janeiro (RJ). O samba de Patativa descende da dinastia inaugurada nos anos 1930 pelos bambas cariocas Ismael Silva (1905 - 1978) e Noel Rosa (1910 - 1937). Há um pouco de Ismael em Colher de chá (Patativa) assim como há ecos de Noel em Quem diria (Patativa). Natural de Pedreiras (MA), também terra natal de João do Vale (1933 - 1996), Patativa apresenta um samba de arquitetura até comum. O que salta aos ouvidos de forma mais marcante nesse cancioneiro autoral é uma certa ironia, um salutar atrevimento, detectado nos versos de Santo guerreiro (Patativa) e do samba-título Ninguém é melhor do que eu, cantados no disco pela veterana artista com as adesões de Zeca Baleiro e Zeca Pagodinho, respectivamente. "Sei lá que hora, mané / Que a Gabriela vem / Se eu esperar por ela / Eu vou perder o trem", argumenta a cantautora no Samba dos seis (Patativa) em letra que cita Adoniran Barbosa (1910 - 1982), ícone do samba paulistano. Samba mais terno gravado com a participação da cantora Simone, Saudades do meu bem querer (Patativa) é instante melancólico de disco geralmente maroto que perpetua a voz calejada e vivaz de Patativa. Já Negro no samba é doutor (Patativa) repõe na roda a questão do preconceito racial em arranjo que evoca de longe as batucadas ancestrais enquanto Erva cidreira (Patativa), de sabor menos sedutor, tem temática centrada em símbolos afro-brasileiros. Por sua vez, Urubu não come folha (Patativa) reitera o insuspeito parentesco da maranhense Patativa com o pernambucano Bezerra da Silva. No fim, Ninguém é melhor do que eu rebobina hit local do universo maranhense, Xiri meu, um cacuriá (ritmo originado de uma dança apresentada na Festa do Divino Espírito Santos) já conhecido do povo conterrâneo de Patativa, uma sambista do babado.
♪ "Na favela onde eu moro / Tem babado todo dia / Tiroteio, corre-corre / Não tem hora nem dia / Eu não consigo dormir / Nem o sono de meio-dia". Os versos de Babado da favela se afinam com o repertório de Bezerra da Silva (1927 - 2005), sambista pernambucano que ganhou fama nos anos 1980 como cronista do cotidiano dos morros do Rio de Janeiro (RJ) e da Baixada Fluminense (RJ). Mas o espirituoso samba Babado da favela não é da lavra de nenhum dos compositores assalariados que forneciam repertório para Bezerra. Babado da favela é uma das 13 composições assinadas e gravadas por Patativa - nome artístico da cantora e compositora maranhense Maria do Socorro Silva - em seu primeiro álbum, Ninguém é melhor do que eu (Saravá Discos, 2014), produzido por Luiz Jr. sob a direção artística de Zeca Baleiro. Aos 77 anos, Patativa expõe em seu disco autoral as afinidades do samba maranhense com a produção dos sambistas da cidade do Rio de Janeiro (RJ). O samba de Patativa descende da dinastia inaugurada nos anos 1930 pelos bambas cariocas Ismael Silva (1905 - 1978) e Noel Rosa (1910 - 1937). Há um pouco de Ismael em Colher de chá (Patativa) assim como há ecos de Noel em Quem diria (Patativa). Natural de Pedreiras (MA), também terra natal de João do Vale (1933 - 1996), Patativa apresenta um samba de arquitetura até comum. O que salta aos ouvidos de forma mais marcante nesse cancioneiro autoral é uma certa ironia, um salutar atrevimento, detectado nos versos de Santo guerreiro (Patativa) e do samba-título Ninguém é melhor do que eu, cantados no disco pela veterana artista com as adesões de Zeca Baleiro e Zeca Pagodinho, respectivamente. "Sei lá que hora, mané / Que a Gabriela vem / Se eu esperar por ela / Eu vou perder o trem", argumenta a cantautora no Samba dos seis (Patativa) em letra que cita Adoniran Barbosa (1910 - 1982), ícone do samba paulistano. Samba mais terno gravado com a participação da cantora Simone, Saudades do meu bem querer (Patativa) é instante melancólico de disco geralmente maroto que perpetua a voz calejada e vivaz de Patativa. Já Negro no samba é doutor (Patativa) repõe na roda a questão do preconceito racial em arranjo que evoca de longe as batucadas ancestrais enquanto Erva cidreira (Patativa), de sabor menos sedutor, tem temática centrada em símbolos afro-brasileiros. Por sua vez, Urubu não come folha (Patativa) reitera o insuspeito parentesco da maranhense Patativa com o pernambucano Bezerra da Silva. No fim, Ninguém é melhor do que eu rebobina hit local do universo maranhense, Xiri meu, um cacuriá (ritmo originado de uma dança apresentada na Festa do Divino Espírito Santos) já conhecido do povo conterrâneo de Patativa, uma sambista do babado.
ResponderExcluirMauro, ouvi dizer que a Simone participa desse disco cantando uma faixa. A informação procede?
ResponderExcluirA cultura maranhense é tão única, cheia de ritmos, tão diferente do Nordeste e ao mesmo tempo do Norte, sempre revela boas surpresas!
ResponderExcluirRafael M. é só ler a resenha do CD que você verá que a informação procede.
ResponderExcluiré cd pra biblioteca, pra ter um registro e olhe lá
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