Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 17 de janeiro de 2015

Disco evidencia fraqueza da safra de marchinhas para o Carnaval de 2015

Resenha de disco
Título:
As melhores marchinhas do Carnaval 2015
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *
Disco disponível somente em edição digital


Embora o concurso anual de marchinhas promovido no Rio de Janeiro (RJ) pela Fundição Progresso tenha feito louváveis esforços ao longo da última década para renovar o gênero carnavalesco, o fato é que os bailes continuam sendo animados pelas composições lançadas nas folias dos anos 1930 e 1940. Lançado somente em edição digital pela gravadora Som Livre neste mês de janeiro de 2015, o disco As melhores marchinhas do Carnaval 2015 vai manter inalterado o quadro. O álbum alinha as dez finalistas da 10ª edição do concurso idealizado por Perfeito Fortuna, cuja final está agendada para 1º de fevereiro de 2015 na Fundição Progresso. A safra de 2015 é das mais fracas dos últimos anos. Somente duas marchinhas fazem jus à vitória, sendo que o título de campeã deve ir para Quarta de cinzas, composição de Valéria Pisauro e Guilherme Lamas defendida por Pedro Paulo Malta. De tom melancólico, com cadência próxima das marchas-ranchos, Quarta de cinzas ostenta bonita melodia e uma letra que fala com lirismo de amor desfeito em mágoas. Já a bicampeã bem poderia ser Fucei seu face, marcha de Paulo Padilha, cantada pelo próprio Padilha com a cantora Susane Salles. Embora tenha formato mais convencional, a marchinha é animada e tem a seu favor o fato de brincar com tema atual (a mania de investigar a vida alheia através das redes sociais). O arranjo de Alexandre Caldi contribui para Fucei seu face sobressair no disco diante de concorrentes como Coração de Carnaval, marcha de Paulo Sá e Leo Almeida, cantada pelos autores e turbinada com os sopros da Banda Fundição, arregimentada para acompanhar os cantores na gravação do disco produzido por Marcelo Bernardes. Há marchas que pecam pela falta de ingrediente essencial na composição do gênero: a graça, inexistente nos versos da Marchinha literária, composta e gravada por Roni Walk. Com o mérito de fugir dos temas-clichês, o autor tenta em vão fazer graça com trocadilhos feitos com nomes de poetas e escritores. Marchinha defendida por Marcelo Mimoso, Adoro celulite (Jota Michiles e Gustavo Krause) é mais espirituosa ao traçar o perfil de gordinha gulosa. Já Mamãe eu quero ser, papai não deixa (Leo Santos) - ouvida no disco na voz de Alfredo Del Penho - bate sem empolgar na tecla já muito batida da brincadeira com gays. Interpretada por Matias Correa, Chiclete (Chico Alves) se destaca mais pelos versos sucintos que dão com humor o recado do marido louco para escapar do cerco da mulher ciumenta. Vai virar corno (Caio Martinez e Fernando Leitzke) e Japa (Sergio Turcão e Jica Thomé) completam a safra de 2015 sem alterar o status do disco. O fato é que as três melhores marchinhas do disco são dos anos 1930. Como a 10ª edição do concurso celebra os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro (RJ), há gravações inéditas de Cidade maravilhosa (André Filho, 1934), Primavera no Rio (Braguinha, 1934) - marcha que foi sucesso na voz de Carmen Miranda (1909 - 1955) e que Nina Wirti revive com apropriada leveza - e Cidade mulher (Noel Rosa, 1936), ora ouvida na voz de Pedro Miranda na versão adaptada e arranjada por Martinho da Vila com o maestro Rildo Hora. São três marchas capazes de animar os bailes e, de quebra, elevar a já baixa autoestima dos cariocas neste Carnaval de calor e arrastões.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Embora o concurso anual de marchinhas promovido no Rio de Janeiro (RJ) pela Fundição Progresso tenha feito louváveis esforços ao longo da última década para renovar o gênero carnavalesco, o fato é que os bailes continuam sendo animados pelas composições lançadas nas folias dos anos 1930 e 1940. Lançado somente em edição digital pela gravadora Som Livre neste mês de janeiro de 2015, o disco As melhores marchinhas do Carnaval 2015 vai manter inalterado o quadro. O álbum alinha as dez finalistas da 10ª edição do concurso idealizado por Perfeito Fortuna, cuja final está agendada para 1º de fevereiro de 2015 na Fundição Progresso. A safra de 2015 é das mais fracas dos últimos anos. Somente duas marchinhas fazem jus à vitória, sendo que o título de campeã deve ir para Quarta de cinzas, composição de Valéria Pisauro e Guilherme Lamas defendida por Pedro Paulo Malta. De tom melancólico, com cadência próxima das marchas-ranchos, Quarta de cinzas ostenta bonita melodia e uma letra que fala com lirismo de amor desfeito em mágoas. Já a bicampeã bem poderia ser Fucei seu face, marcha de Paulo Padilha, cantada pelo próprio Padilha com a cantora Susane Salles. Embora tenha formato mais convencional, a marchinha é animada e tem a seu favor o fato de brincar com tema atual (a mania de investigar a vida alheia através das redes sociais). O arranjo de Alexandre Caldi contribui para Fucei seu face sobressair no disco diante de concorrentes como Coração de Carnaval, marcha de Paulo Sá e Leo Almeida, cantada pelos autores e turbinada com os sopros da Banda Fundição, arregimentada para acompanhar os cantores na gravação do disco produzido por Marcelo Bernardes. Há marchas que pecam pela falta de ingrediente essencial na composição do gênero: a graça, inexistente nos versos da Marchinha literária, composta e gravada por Roni Walk. Com o mérito de fugir dos temas-clichês, o autor tenta em vão fazer graça com trocadilhos feitos com nomes de poetas e escritores. Marchinha defendida por Marcelo Mimoso, Adoro celulite (Jota Michiles e Gustavo Krause) é mais espirituosa ao traçar o perfil de gordinha gulosa. Já Mamãe eu quero ser, papai não deixa (Leo Santos) - ouvida no disco na voz de Alfredo Del Penho - bate sem empolgar na tecla já muito batida da brincadeira com gays. Interpretada por Matias Correa, Chiclete (Chico Alves) se destaca mais pelos versos sucintos que dão com humor o recado do marido louco para escapar do cerco da mulher ciumenta. Vai virar corno (Caio Martinez e Fernando Leitzke) e Japa (Sergio Turcão e Jica Thomé) completam a safra de 2015 sem alterar o status do disco. O fato é que as três melhores marchinhas do disco são dos anos 1930. Como a 10ª edição do concurso celebra os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro (RJ), há gravações inéditas de Cidade maravilhosa (André Filho, 1934), Primavera no Rio (Braguinha, 1934) - marcha que foi sucesso na voz de Carmen Miranda (1909 - 1955) e que Nina Wirti revive com apropriada leveza - e Cidade mulher (Noel Rosa, 1936), ora ouvida na voz de Pedro Miranda na versão adaptada e arranjada por Martinho da Vila com o maestro Rildo Hora. São três marchas capazes de animar os bailes e, de quebra, elevar a já baixa autoestima dos cariocas neste Carnaval de calor e arrastões.

BBbi disse...

Este esforço só seria válido se as marchinhas fossem lançadas e divulgadas com muita antecedência. Eles fazem o concurso muito em cima do carnaval. Não é eficaz.

Roni disse...


Grato pela atenção dada.
Se por um lado, a safra de marchinhas 2015 parece ser a mais fraca dos últimos anos, a de críticos superou todas expectativas e nos presenteia com resenhas incríveis. E muito se deve pelo conteúdo desse blog.
Parabéns pelo texto.
E bom descanso no carnaval!