Título: Tom do sertão
Artista: Chitãozinho & Xororó
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2
♪ Emblemático samba que demarcou em 1958 o território da Bossa Nova, na voz de João Gilberto, Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) pega - em determinado momento da gravação de Chitãozinho & Xororó - uma estrada que vai dar na música country norte-americana, evocada pelo banjo de Marcelo Modesto. A ousadia estilística pode ser conferida na oitava das 12 faixas de Tom do sertão, CD no qual a dupla paranaense traz o cancioneiro de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) para seu universo sertanejo. Um dos melhores títulos da discografia dos irmãos, em cena desde 1970, o álbum peca somente pelo excesso da produção capitaneada por Ney Marques, Edgard Poças e Cláudio Paladini sob a direção artística dos próprios Chitãozinho & Xororó. Gravações como as de Se é por falta de adeus (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1955) sinalizam exagero no uso de cordas nos arranjos geralmente opulentos. Utilizadas de forma excessiva, as cordas diluem a leveza que faz Chovendo na roseira (Antonio Carlos Jobim, 1971) florescer em registros mais econômicos, por exemplo. Contudo, esse é o único defeito de Tom do sertão. Sem se afastar de seu estilo de canto anasalado, Chitãozinho & Xororó acertam ao enfatizar no disco a face mais bucólica e ruralista do cancioneiro de Jobim. "Velho caminho / Por onde passou / Carro de boi / Boiadeiro gritando, ô, ô...", canta a dupla, expondo a pegada sertaneja dos versos de Caminho de pedra (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Sim, de forma geral, o soberano cancioneiro de Jobim entra com naturalidade no tom do sertão de Chitãozinho & Xororó pela própria natureza das letras de músicas como A chuva caiu (1956) e Correnteza (1973), ambas escritas pelo compositor carioca Luiz Bonfá (1922 - 2001), parceiro de Tom nos dois temas de ambiência rural. Arranjada com viola e violões, como se fosse uma toada, Estrada branca (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) é outro bom exemplo de como Tom se ambienta bem no sertão de Chitãozinho & Xororó. Por falar em violas, a de dez cordas tocada por Xororó em Modinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) dá tom camerístico e caipira à faixa, um dos pontos altos do disco. Aliada à viola clássica tocada pelo convidado Lucas Lima, a mesma viola de dez cordas de Xororó dá a mesma pulsação caipira ao standard romântico Eu sei que vou te amar (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) no fecho surpreendente do álbum. A propósito, a dupla não terça vozes somente em músicas de tom originalmente ruralista. Há também canções românticas na seleção que surpreende ao incluir o belíssimo - e pouco gravado - samba-canção Solidão (Antonio Carlos Jobim e Alcides Fernandes, 1954), joia da fase inicial de Jobim, lançada pela cantora carioca Nora Ney (1922 - 2003) e anos depois tirada do baú por Caetano Veloso (em 1986) e Gal Costa (em 1991). Nas vozes da dupla, Eu não existo sem você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) vira balada triste, trilha seguida também por Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958). Já Se todos fossem iguais a você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956) é envolto pela dupla em clima apoteótico, em andamento que oscila entre o samba e a marcha-rancho. E por falar em samba, tudo começa com ele, já que Águas de março (Antonio Carlos Jobim, 1972) abre o disco em registro genérico que jamais consegue se dissociar do definitivo arranjo original do tema. Mas Águas de março é apenas um detalhe em disco interessante que eleva o nível (raso) da música sertaneja atual e que significa, não o fim do caminho, mas um outro passo firme na (longa) estrada da vida sertaneja de Chitãozinho & Xororó.
10 comentários:
Emblemático samba que demarcou em 1958 o território da Bossa Nova, na voz de João Gilberto, Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) pega - em determinado momento da gravação de Chitãozinho & Xororó - uma estrada que vai dar na música country norte-americana, evocada pelo banjo de Marcelo Modesto. A ousadia estilística pode ser conferida na oitava das 12 faixas de Tom do sertão, CD no qual a dupla paranaense traz o cancioneiro de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) para seu universo sertanejo. Um dos melhores títulos da discografia dos irmãos, em cena desde 1970, o álbum peca somente pelo excesso da produção capitaneada por Ney Marques, Edgard Poças e Cláudio Paladini sob a direção artística dos próprios Chitãozinho & Xororó. Gravações como as de Se é por falta de adeus (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1955) sinalizam exagero no uso de cordas nos arranjos geralmente opulentos. Utilizadas de forma excessiva, as cordas diluem a leveza que faz Chovendo na roseira (Antonio Carlos Jobim, 1971) florescer em registros mais econômicos, por exemplo. Contudo, esse é o único defeito de Tom do sertão. Sem se afastar de seu estilo de canto anasalado, Chitãozinho & Xororó acertam ao enfatizar no disco a face mais bucólica e ruralista do cancioneiro de Jobim. "Velho caminho / Por onde passou / Carro de boi / Boiadeiro gritando, ô, ô...", canta a dupla, expondo a pegada sertaneja dos versos de Caminho de pedra (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Sim, de forma geral, o soberano cancioneiro de Jobim entra com naturalidade no tom do sertão de Chitãozinho & Xororó pela própria natureza das letras de músicas como A chuva caiu (1956) e Correnteza (1973), ambas escritas pelo compositor carioca Luiz Bonfá (1922 - 2001), parceiro de Tom nos dois temas de ambiência rural. Arranjada com viola e violões, como se fosse uma toada, Estrada branca (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) é outro bom exemplo de como Tom se ambienta bem no sertão de Chitãozinho & Xororó. Por falar em violas, a de dez cordas tocada por Xororó em Modinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) dá tom camerístico e caipira à faixa, um dos pontos altos do disco. Aliada à viola clássica tocada pelo convidado Lucas Lima, a mesma viola de dez cordas de Xororó dá a mesma pulsação caipira ao standard romântico Eu sei que vou te amar (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) no fecho surpreendente do álbum. A propósito, a dupla não terça vozes somente em músicas de tom originalmente ruralista. Há também canções românticas na seleção que surpreende ao incluir o belíssimo - e pouco gravado - samba-canção Solidão (Antonio Carlos Jobim e Alcides Fernandes, 1954), joia da fase inicial de Jobim, lançada pela cantora carioca Nora Ney (1922 - 2003) e anos depois tirada do baú por Caetano Veloso (em 1986) e Gal Costa (em 1991). Nas vozes da dupla, Eu não existo sem você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) vira balada triste, trilha seguida também por Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958). Já Se todos fossem iguais a você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956) é envolto pela dupla em clima apoteótico, em andamento que oscila entre o samba e a marcha-rancho. E por falar em samba, tudo começa com ele, já que Águas de março (Antonio Carlos Jobim, 1972) abre o disco em registro genérico que jamais consegue se dissociar do definitivo arranjo original do tema. Mas Águas de março é apenas um detalhe em disco interessante que eleva o nível (raso) da música sertaneja atual e que significa, não o fim do caminho, mas um outro passo firme na (longa) estrada da vida sertaneja de Chitãozinho & Xororó.
diante de tanto lixo despejado no mercado sertanejo acho até que esse disco pode ser bom mesmo mas Jobim tá muito acima de Chitãozinho & Xororó
O único ponto positivo desse troço é que os fãs dessa dupla vão conhecer a obra do nosso maior compositor! Porque de resto serão lágrimas de tortura...
Merecia 4 estrelas, já que as cordas pra mim entraram bem nas músicas citadas, entretanto é a opinião do Mauro, não a minha que vale he he. Mas nada tira a beleza das músicas do Tom e das belas interpretações da dupla.
Infeliz é o povo que nega sua essência ... Isso que é música.sertaneja
to com medo que Jobim se remexa no caixão
Meu medo e que Jobim se mexa no caixão
Vou vencer minhas opiniões nada lisonjeira sobre o canto caprino dos irmãos Durval e tentar ouvir esse disco sem preconceito. De repente é até bom.
Eu tenho uma dificuldade enorme de desapegar de "Estrada branca" da voz de Elizeth Cardoso, "Caminho de pedra" da gravação de Joyce Moreno e "Chovendo na roseira" da voz de Elis Regina, mas tentarei ouvir...
Chocado com tanto preconceito e agressividade. Vale lembrar, gosto pessoal não é sinônimo de qualidade. É sempre bom respeitar o trabalho dos artistas e seus fãs. Em especial de uma dupla com décadas de uma carreira sólida e honesta.
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