Título: Pra onde que eu tava indo
Artista: Mauricio Pereira
Gravadora: Independente / Tratore
Cotação: * * * *
♪ Sexto disco solo de Mauricio Pereira, compositor e músico revelado nos anos 1980 como integrante no grupo paulistano Os Mulheres Negras, Pra onde que eu tava indo (2014) é um azeitado disco autoral - o primeiro do artista desde Pra Marte (Independente, 2007). Mas alcança pico de sedução logo na abertura, em que a autoria da faixa - o samba Notícia (Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Nourival Bahia, 1954), revivido com uma lata de manteiga que simula o som de um tamborim - reside somente na habilidade do intérprete para quase recitar a letra e, assim, renovar um samba que já parecia cristalizado no universo da MPB. É que Mauricio Pereira se porta sempre como autor mesmo quando aborda músicas de inspiração alheia como Aeroplanos (Jorge Mautner) e Ciao amore, ciao (Luigi Tenco), a canção italiana de 1967 que Pereira repagina em clima folk cool. Disco gestado por Pereira com o produtor Tonho Penhasco entre 2012 e 2013, Pra onde que eu tava indo não conduz o artista a um porto seguro. Ao contrário. São muitos os caminhos marginais apontados pelo álbum numa rota diversa que abarca a pegada funky de Fugitivos (Mauricio Pereira), as dissonâncias experimentais de Criancice (Mauricio Pereira), o rock de tom nordestino da música-título Pra onde que eu tava indo (Mauricio Pereira e Chico Lobo), o toque oriental de Três homens, três celulares (Mauricio Pereira), o tom camerístico de Não adianta tentar segurar o choro (Mauricio Pereira e Lincoln Antonio, 2012) - choro sambado já gravado por Juliana Amaral - e o flerte jazzy de Andas seca (Mauricio Pereira e Luis Felipe Gama). A unidade do CD - que sucede Carnaval turbilhão (Independente, 2010) na discografia do artista - reside na inquietude que parece pautar o som e os caminhos de Pereira. Cantor de voz pequena e opaca, mas hábil para dar o recado das canções, Pereira sempre transitou pela margem do mercado. Pra onde que eu tava indo o mantém nessa margem, imerso entre a sujeira roqueira que ele imprime em Medrosa (Lincoln Antonio e Stela do Patrocínio) - canção já registrada no CD Entrevista com Stela Patrocínio (Cooperativa de Música, 2007) - e as experimentações embutidas em músicas como Nós três mais Maria Eunice (Mauricio Pereira). Enfim, Maurício Pereira continua indo para o mesmo lugar de antes - e desde Os Mulheres Negras seu destino nunca foi óbvio.
2 comentários:
♪ Sexto disco solo de Mauricio Pereira, compositor e músico revelado nos anos 1980 como integrante no grupo paulistano Os Mulheres Negras, Pra onde que eu tava indo (2014) é um azeitado disco autoral - o primeiro do artista desde Pra Marte (Independente, 2007). Mas alcança pico de sedução logo na abertura, em que a autoria da faixa - o samba Notícia (Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Nourival Bahia, 1954), revivido com uma lata de manteiga que simula o som de um tamborim - reside somente na habilidade do intérprete para quase recitar a letra e, assim, renovar um samba que já parecia cristalizado no universo da MPB. É que Mauricio Pereira se porta sempre como autor mesmo quando aborda músicas de inspiração alheia como Aeroplanos (Jorge Mautner) e Ciao amore, ciao (Luigi Tenco), a canção italiana de 1967 que Pereira repagina em clima folk cool. Disco gestado por Pereira com o produtor Tonho Penhasco entre 2012 e 2013, Pra onde que eu tava indo não conduz o artista a um porto seguro. Ao contrário. São muitos os caminhos marginais apontados pelo álbum numa rota diversa que abarca a pegada funky de Fugitivos (Mauricio Pereira), as dissonâncias experimentais de Criancice (Mauricio Pereira), o rock de tom nordestino da música-título Pra onde que eu tava indo (Mauricio Pereira e Chico Lobo), o toque oriental de Três homens, três celulares (Mauricio Pereira), o tom camerístico de Não adianta tentar segurar o choro (Mauricio Pereira e Lincoln Antonio, 2012) - choro já gravado pela cantora Juliana Amaral - e o flerte jazzy de Andas seca (Mauricio Pereira e Luis Felipe Gama). A unidade do CD - que sucede Carnaval turbilhão (Independente, 2010) na discografia do artista - reside na inquietude que parece pautar o som e os caminhos de Pereira. Cantor de voz pequena e opaca, mas hábil para dar o recado das canções, Pereira sempre transitou pela margem do mercado. Pra onde que eu tava indo o mantém nessa margem, imerso entre a sujeira roqueira que ele imprime em Medrosa (Lincoln Antonio e Stela do Patrocínio) - canção já registrada no CD Entrevista com Stela Patrocínio (Cooperativa de Música, 2007) - e as experimentações embutidas em músicas como Nós três mais Maria Eunice (Mauricio Pereira). Enfim, Maurício Pereira continua indo para o mesmo lugar de antes - e seu destino nunca foi óbvio.
esse só tem elogio de crítico, o público nem sabe que existe
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