Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Rudimentar, Capucho explora tempo de sua cabeça em 'Poema maldito'

Resenha de CD
Título: Poema maldito
Artista: Luís Capucho
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * 1/2

Em seu quarto álbum, Poema maldito, Luís Capucho parece explorar o tempo de sua cabeça - como diz nos versos (escritos na primeira pessoa do singular) de Meu bem (Luís Capucho), uma das onze músicas autorais de um disco cru, rústico em excesso, calcado no violão rudimentar do artista e, sobretudo, na poesia que carrega aura de maldição por falar sem papas na língua de amor e sexo sob prisma marginal. Produto de campanha de financiamento coletivo realizada em 2014 na plataforma Variável 5, Poema maldito vai soar familiar para quem já ouviu Lua singela (2003), Cinema Íris (2012) e Antigo - Luís Capucho 95 (2013). A escassez de melodia contrasta com a abundância de sentimentos embutidos numa poesia direta, feita sem rigores formais, eventualmente autorreferente como exposto nos versos da música-título Poema maldito (Luís Capucho e Tive). Uma poesia crua como a música deste cantor e compositor capixaba radicado em Niterói (RJ) desde a adolescência. Produzido por Felipe Castro, o disco jamais maquia as imperfeições. Tanto que fragmentos de falas do artista durante a gravação são ouvidos ao fim das músicas La nave va (Luís Capucho e Manoel Gomes) - faixa que tem guitarra e baixo tocados pelo produtor Felipe Castro - e Velha (Luís Capucho), cujos versos enxergam beleza e nobreza na senhora de "vestidinho de chita com florezinhas" perfilada no tema. O violão de Capucho conduz o disco do início ao fim, mas instrumentos eventuais são adicionados ao repertório - como o piano posto por Paulo Baiano em Cavalos (Luís Capucho) - sem alterar a pulsação de Poema maldito. Parceria de Capucho com Marcelo Diniz, Soneto sobressai no cancioneiro autoral que inclui tema mais antigo, Formigueiro, composto antes de Capucho sofrer fortes sequelas motoras e vocais por conta de neurotoxoplasmose contraída em decorrência de infecção pelo vírus HIV. Por conta da doença, a voz mudou, ficando mais grave. O que permaneceu inalterada é a habilidade do poeta para retratar belezas e feiúras do cotidiano banal, como faz em Mais uma canção do sábado (Luís Capucho e Alexandre M. Jardim Pimenta), música feita com versos doídos e corroídos de saudade do ser amado. A poesia maldita é, em última instância, o sopro de vida que ainda anima a música rudimentar de Luís Capucho neste álbum em que o artista se aventura pelo tempo de sua cabeça.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Em seu quarto álbum, Poeta maldito, Luís Capucho parece explorar o tempo de sua cabeça - como diz nos versos (escritos na primeira pessoa do singular) de Meu bem (Luís Capucho), uma das onze músicas autorais de um disco cru, rústico em excesso, calcado no violão rudimentar do artista e, sobretudo, na poesia que carrega aura de maldição por falar sem papas na língua de amor e sexo sob prisma marginal. Produto de campanha de financiamento coletivo realizada em 2014 na plataforma Variável 5, Poeta maldito vai soar familiar para quem já ouviu Lua singela (2003), Cinema Íris (2012) e Antigo - Luís Capucho 95 (2013). A escassez de melodia contrasta com a abundância de sentimentos embutidos numa poesia direta, feita sem rigores formais, eventualmente autorreferente como exposto nos versos da música-título Poema maldito (Luís Capucho e Tive). Uma poesia crua como a música deste cantor e compositor capixaba radicado em Niterói (RJ) desde a adolescência. Produzido por Felipe Castro, o disco jamais maquia as imperfeições. Tanto que fragmentos de falas do artista durante a gravação são ouvidos ao fim das músicas La nave va (Luís Capucho e Manoel Gomes) - faixa que tem guitarra e baixo tocados pelo produtor Felipe Castro - e Velha (Luís Capucho), cujos versos enxergam beleza e nobreza na senhora de "vestidinho de chita com florezinhas" perfilada no tema. O violão de Capucho conduz o disco do início ao fim, mas instrumentos eventuais são adicionados ao repertório - como o piano posto por Paulo Baiano em Cavalos (Luís Capucho) - sem alterar a pulsação de Poeta maldito. Parceria de Capucho com Marcelo Diniz, Soneto sobressai no cancioneiro autoral que inclui tema mais antigo, Formigueiro, composto antes de Capucho sofrer fortes sequelas motoras e vocais por conta de neurotoxoplasmose contraída em decorrência de infecção pelo vírus HIV. Por conta da doença, a voz mudou, ficando mais grave. O que permaneceu inalterada é a habilidade do poeta para retratar belezas e feiúras do cotidiano banal, como faz em Mais uma canção do sábado (Luís Capucho e Alexandre M. Jardim Pimenta), música feita com versos doídos e corroídos de saudade do ser amado. A poesia maldita é, em última instância, o sopro de vida que ainda anima a música rudimentar de Luís Capucho neste álbum em que o artista se aventura pelo tempo de sua cabeça.

Klaudia Alvarez disse...

Adorei a resenha, Mauro! Capucho merece todo o reconhecimento possivel ao seu talento.

Luca disse...

pois eu meio que achei que o Mauro achou o disco ruim e ficou dando voltas pra não falar isso de forma clara