Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 26 de março de 2015

Disco roqueiro de inéditas, 'Dia 16' repõe Odair José no seu devido lugar

Resenha de CD
Título: Dia 16
Artista: Odair José
Gravadora: Saravá Discos
Cotação: * * * 1/2

Antes minimizado pela crítica elitista que nos anos 1970 julgava tudo e todos pelos padrões estéticos da MPB, hoje superestimado por conta de aura cult que encobre os vícios de seu cancioneiro às vezes repetitivo, o cantor e compositor goiano Odair José alcança bom momento artístico com seu álbum de inéditas Dia 16, lançado neste mês de março de 2015 pelo selo Saravá Discos, de Zeca Baleiro. Produzido por Alexandre Fontanetti, o disco repõe Odair no seu devido lugar com 12 canções inéditas e autorais compostas com a simplicidade de sempre e gravadas com espírito roqueiro. Aos 66 anos, o ídolo das empreguetes da década de 1970 faz pulsar novamente a veia roqueira que, com maior ou menor força, bombava nos discos feitos por Odair em seus áureos tempos, sobretudo no ambicioso álbum O filho de José e Maria (RCA-Victor, 1977), concebido como ópera-rock. Não por acaso, uma música composta para este (comercialmente) fracassado disco de 1977, mas descartada na seleção final, Fera, reaparece em Dia 16 com sutil acento bluesy e com a pegada roqueira que é amplificada na música-título Dia 16. Em Fera, Odair fala de sexo ("Seu amor é tão gostoso") da forma direta com que sempre abordou temas-tabus em suas músicas. Em Dia 16, um dos assuntos em pauta é a paixão de homens velhos por mulheres jovens. Odair parte em defesa dos tiozinhos na canção cujo título, A moça e o velho, já exemplifica a habilidade do compositor de ir sempre direto ao ponto, sem fazer rodeios em suas letras escritas sem metáforas. Por mais que traga no repertório eventuais rocks como Começar do zero, faixa que ecoa influências de Erasmo Carlos e Paul McCartney na obra do artista, Dia 16 é, em essência, um disco em que o rock está mais presente em espírito jovial do que pelo toque das guitarras (também presentes, diga-se). As canções dominam o repertório de tom pop radiofônico. Conduzida pela levada do ukelele tocado pelo produtor Alexandre Fontanetti, Encontro vislumbra bonanças em verso feito em tom de autoajuda ("Depois de todo deserto, sempre tem um jardim"). Se Cores tem tonalidades solares, avisando no arremate do disco que é tempo de amor,  Me desculpe se revela a clássica balada banhada por lágrimas de trivial chororô romântico. Com mais atitude na letra, Odair afasta o sofrimento de amor na melodiosa balada Sai de mim. Já Morro do Vidigal é flash nostálgico que rememora, em clima folk, amor vivido na comunidade da cidade do Rio de Janeiro (RJ) que dá nome à balada. Há também toque de folk em Deixa rolar, composição na qual Odair receita dicas de bem-viver. Mais melancólica, Lembro é canção impregnada de nostalgia em que o artista expia a dor da saudade da mãe com lembranças dos carinhos da infância. Já Sem compromisso celebra a música influente do cantor e compositor norte-americano Roy Orbinson (1936- 1988) mais para o country do que para o rockabilly. Enfim, Dia 16 prova que ainda há inspiração no calendário de Odair José. Sem trair a ideologia do artista, o disco sinaliza que o cantor permanece em ebulição, embora já acomodado em seu devido lugar.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Antes minimizado pela crítica elitista que nos anos 1970 julgava tudo e todos pelos padrões estéticos da MPB, hoje superestimado por conta de aura cult que encobre os vícios de seu cancioneiro às vezes repetitivo, o cantor e compositor goiano Odair José alcança bom momento artístico com seu álbum de inéditas Dia 16, lançado neste mês de março de 2015 pelo selo Saravá Discos, de Zeca Baleiro. Produzido por Alexandre Fontanetti, o disco repõe Odair no seu devido lugar com 12 canções inéditas e autorais compostas com a simplicidade de sempre e gravadas com espírito roqueiro. Aos 66 anos, o ídolo das empreguetes da década de 1970 faz pulsar novamente a veia roqueira que, com maior ou menor força, bombava nos discos feitos por Odair em seus áureos tempos, sobretudo no ambicioso álbum O filho de José e Maria (RCA-Victor, 1977), concebido como ópera-rock. Não por acaso, uma música composta para este (comercialmente) fracassado disco de 1977, mas descartada na seleção final, Fera, reaparece em Dia 16 com sutil acento bluesy e com a pegada roqueira que é amplificada na música-título Dia 16. Em Fera, Odair fala de sexo ("Seu amor é tão gostoso") da forma direta com que sempre abordou temas-tabus em suas músicas. Em Dia 16, um dos assuntos em pauta é a paixão de homens velhos por mulheres jovens. Odair parte em defesa dos tiozinhos na canção cujo título, A moça e o velho, já exemplifica a habilidade do compositor de ir sempre direto ao ponto, sem fazer rodeios em suas letras escritas sem metáforas. Por mais que traga no repertório eventuais rocks como Começar do zero, faixa que ecoa influências de Erasmo Carlos e Paul McCartney na obra do artista, Dia 16 é, em essência, um disco em que o rock está mais presente em espírito jovial do que pelo toque das guitarras (também presentes, diga-se). As canções dominam o repertório de tom pop radiofônico. Conduzida pela levada do ukelele tocado pelo produtor Alexandre Fontanetti, Encontro vislumbra bonanças em verso feito em tom de autoajuda ("Depois de todo deserto, sempre tem um jardim"). Se Cores tem tonalidades solares, avisando no arremate do disco que é tempo de amor, Me desculpe se revela a clássica balada banhada por lágrimas de trivial chororô romântico. Com mais atitude na letra, Odair afasta o sofrimento de amor na melodiosa balada Sai de mim. Já Morro do Vidigal é flash nostálgico que rememora, em clima folk, amor vivido na comunidade da cidade do Rio de Janeiro (RJ) que dá nome à balada. Há também toque de folk em Deixa rolar, composição na qual Odair receita dicas de bem-viver. Mais melancólica, Lembro é canção impregnada de nostalgia em que o artista expia a dor da saudade da mãe com lembranças dos carinhos da infância. Já Sem compromisso celebra a música influente do cantor e compositor norte-americano Roy Orbinson (1936- 1988) mais para o country do que para o rockabilly. Enfim, Dia 16 prova que ainda há inspiração no calendário de Odair José. Sem trair a ideologia do artista, o disco sinaliza que o cantor permanece em ebulição, embora já acomodado em seu devido lugar.

vera Da Silva disse...

Cara cheer up! Have you been doing something to you life lately...