sábado, 7 de março de 2015

Rita Benneditto dribla problema técnico e se faz ouvir no show 'Encanto'

Resenha de show
Título: Encanto
Artista: Rita Benneditto (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 6 de março de 2015
Cotação: * * * 
 Show volta à cena em 27 de março de 2015, na casa HSBC Brasil, em São Paulo (SP)

Encanto é o show visualmente mais caprichado de Rita Benneditto. Há toda uma beleza plástica - resultante da harmonia entre a iluminação de Daniela Sanchez, os figurinos de Victor Dzenk e as projeções sensoriais que compõem o cenário da artista plástica Jeane Terra  - que evidencia o fino acabamento do espetáculo. Contudo, para se igualar aos comunicativos shows anteriores da artista, Encanto ainda vai precisar de ajustes ao longo da turnê nacional que estreou no Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 6 de março de 2015, e que vai ter continuidade em São Paulo (SP) no fim do mês. A inadequação da casa Vivo Rio para ambientar o show ficou visível já no início, marcado pela frieza. Encanto pede espaços com pista, para o que o público possa evoluir com a cantora em show repleto de números com coreografias que evocam danças e ritos das religiões afro-brasileiras. A outra questão diz respeito à equalização do som. Na estreia carioca, a voz de Rita estava baixa demais, abafada pela compacta massa sonora orquestrada pelo diretor musical Felipe Pinaud, autor dos arranjos de batida pop, às vezes funkeada, às vezes com pegada roqueira, como em (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1978). Destaque do disco Encanto (Biscoito Fino, 2014), no qual a cantora expande o conceito de fé sem sair da zona de conforto do vitorioso projeto Tecnomacumba (2003), a canção católica do repertório de Roberto Carlos foi prejudicada no show pelo volume baixo do microfone de Rita. Embora minimamente resolvido ao longo do show, o problema técnico prejudicou a absorção de um repertório que alterna músicas novas de menor empatia popular - caso de Guerreiro do mar (Márcio Local e Felipe Pinaud, 2014) - com sucessos da música brasileira. Guerreira, Rita Benneditto foi ganhando o público a cada número. Em É d'Oxum (Gerônimo e Vevé Calasans, 1985), número turbinado com citação de Emoriô (João Donato e Gilberto Gil, 1975), o show começou a irradiar magia. Grande sacada do repertório do disco, o samba Banho de manjericão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1979) - sucesso de Clara Nunes (1942 - 1983), cantora fundamental na propagação de repertório de temática afro-brasileira - também se impôs em cena, em número no qual se ouviu a voz do babalorixá Oboromin T’ogunjá incorporado do Pai Benedito das Almas de Angola, tal como no disco que norteia o show. O show Encanto, a propósito, é extremamente fiel ao repertório e ao conceito do disco Encanto. Ao regravar uma música já conhecida, Rita Benneditto foge do óbvio, do cover puro e simples. É no compasso 6/8 do tambor de mina ritmo do seu Maranhão natal, por exemplo, que a cantora joga luz sobre Santa Clara clareou (Jorge Ben Jor, 1981), alterando o ritmo geralmente irresistível das músicas do Zé Pretinho. O carioca Jorge Ben Jor, aliás, é nome recorrente no roteiro. Dele, Rita também dá voz a Domingo 23 (Jorge Ben Jor, 1972) - em número que inclui récita da letra de Jorge de Capadócia (Jorge Ben Jor, 1975) - e a Zumbi (Jorge Ben Jor, 1973), número herdado do belo (mas efêmero) show Influências (2014). A lembrança de Bat macumba (Gilberto Gil, 1968) - sucesso tropicalista acoplado como vinheta à antiga Estrela é lua nova (Heitor Villa-Lobos, 1929) - surte bom efeito em cena, animando o público pela facilidade da música. Enfim, Rita Benneditto é cantora hábil o suficiente para fazer o santo baixar no palco. À voz afinada, cuja limpidez do timbre salta especialmente aos ouvidos em Oração ao tempo (Caetano Veloso, 1979), Rita alia uma energia e uma capacidade de cantar com todo o corpo que contribui para que o show atinja seus momentos de encantamento. Enfim, ela comanda a força dos elementos com carisma. A banda - que inclui o tecladista Ricardo Dias Gomes, da cultuada BandaCê - também faz sua parte e mantém o show na pressão. Mas, (quase) no fim, quem dita o ritmo é o pandeiro do percussionista Ronaldo Silva, partner da cantora no samba O que é dela é meu (Arlindo Cruz, Rogê e Marcelinho Moreira, 2014), instante caloroso de show que reitera as virtudes de Rita Benneditto. Driblando o problema técnico que empanou o brilho de Encanto na estreia nacional do show, a cantora se fez ouvir. Mas seu santo ainda pode baixar com mais força.

5 comentários:

  1. ♪ Encanto é o show visualmente mais caprichado de Rita Benneditto. Há toda uma beleza plástica - resultante da harmonia entre a iluminação de Daniela Sanchez, os figurinos de Victor Dzenk e as projeções sensoriais que compõem o cenário da artista plástica Jeane Terra - que evidencia o fino acabamento do espetáculo. Contudo, para se igualar aos comunicativos shows anteriores da artista, Encanto ainda vai precisar de ajustes ao longo da turnê nacional que estreou no Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 6 de março de 2015, e que vai ter continuidade em São Paulo (SP) no fim do mês. A inadequação da casa Vivo Rio para ambientar o show ficou visível já no início, marcado pela frieza. Encanto pede espaços com pista, para o que o público possa evoluir com a cantora em show repleto de números com coreografias que evocam danças e ritos das religiões afro-brasileiras. A outra questão diz respeito à equalização do som. Na estreia carioca, a voz de Rita estava baixa demais, abafada pela compacta massa sonora orquestrada pelo diretor musical Felipe Pinaud, autor dos arranjos de batida pop, às vezes funkeada, às vezes com pegada roqueira, como em Fé (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1978). Destaque do disco Encanto (Biscoito Fino, 2014), no qual a cantora expande o conceito de fé sem sair da zona de conforto do vitorioso projeto Tecnomacumba (2003), a canção católica do repertório de Roberto Carlos foi prejudicada no show pelo volume baixo do microfone de Rita. Embora minimamente resolvido ao longo do show, o problema técnico prejudicou a absorção de um repertório que alterna músicas novas de menor empatia popular - caso de Guerreiro do mar (Márcio Local e Felipe Pinaud, 2014) - com sucessos da música brasileira. Guerreira, Rita Benneditto foi ganhando o público a cada número. Em É d'Oxum (Gerônimo e Vevé Calasans, 1991), número turbinado com citação de Emoriô (João Donato e Gilberto Gil, 1975), o show começou a irradiar magia. Grande sacada do repertório do disco, o samba Banho de manjericão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1979) - sucesso de Clara Nunes (1942 - 1983), cantora fundamental na propagação de repertório de temática afro-brasileira - também se impôs em cena, em número no qual se ouviu a voz do babalorixá Oboromin T’ogunjá incorporado do Pai Benedito das Almas de Angola, tal como no disco que norteia o show.

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  2. O show Encanto, a propósito, é extremamente fiel ao repertório e ao conceito do disco Encanto. Ao regravar uma música já conhecida, Rita Benneditto foge do óbvio, do cover puro e simples. É no compasso 6/8 do tambor de mina ritmo do seu Maranhão natal, por exemplo, que a cantora joga luz sobre Santa Clara clareou (Jorge Ben Jor, 1981), alterando o ritmo geralmente irresistível das músicas do Zé Pretinho. O carioca Jorge Ben Jor, aliás, é nome recorrente no roteiro. Dele, Rita também dá voz a Domingo 23 (Jorge Ben Jor, 1972) - em número que inclui récita da letra de Jorge de Capadócia (Jorge Ben Jor, 1975) - e a Zumbi (Jorge Ben Jor, 1974), número herdado do belo (mas efêmero) show Influências (2014). A lembrança de Bat macumba (Gilberto Gil, 1968) - sucesso tropicalista acoplado como vinheta à antiga Estrela é lua nova (Heitor Villa-Lobos, 1929) - surte bom efeito em cena, animando o público pela facilidade da música. Enfim, Rita Benneditto é cantora hábil o suficiente para fazer o santo baixar no palco. À voz afinada, cuja limpidez do timbre salta especialmente aos ouvidos em Oração ao tempo (Caetano Veloso, 1979), Rita alia uma energia e uma capacidade de cantar com todo o corpo que contribui para que o show atinja seus momentos de encantamento. Enfim, ela comanda a força dos elementos com carisma. A banda - que inclui o tecladista Ricardo Dias Gomes, da cultuada BandaCê - também faz sua parte e mantém o show na pressão. Mas, (quase) no fim, quem dita o ritmo é o pandeiro do percussionista Ronaldo Silva, partner da cantora no samba O que é dela é meu (Arlindo Cruz, Rogê e Marcelinho Moreira, 2014), instante caloroso de show que reitera as virtudes de Rita Benneditto. Driblando o problema técnico que empanou o brilho de Encanto na estreia nacional do show, a cantora se fez ouvir. Mas seu santo ainda pode baixar com mais força.

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  3. Esse último CD é muito insosso, ela realmente ficou na zona de conforto e resolveu fazer uma versão lounge do Tecnomacumba. A versão de Fé é tudo menos roqueira! Só porque tem uma guitarrinha ali e uns riffs não quer dizer que é rock. Super arrependimento de ter comprado Encanto. Fiquei foi muitíssimo desencantado com Rita.

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  4. realmente... zona de conforto! esperava algo novo. depois de tanto tempo com o tecnomacumba, achei q essa página teria virado. não tenho nada contra a religião mas pra mim, não dá, dispenso. esperei tanto pra mais do mesmo, fiquei decepcionado.

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  5. Zona de conforto = preguiça artística. Gosto do Encanto, mas acontece que Rita é uma das nossas melhores cantoras e vem desperdiçando tanto talento, afinação e beleza na voz com uma nota só. Que torne os futuros "encantos" em projetos especiais, como o tecnomacumba já deveria ter sido, mas cante os compositores da sua geração, cante os maranhenses, pernambucanos e baianos - jovens que vem produzindo uma música de grande beleza, mas pouco conhecida de um público maior.

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